Os números da pesquisa Datafolha divulgados hoje são bastante parecidos com os da pesquisa do Ibope encomendada pela Rede Globo e Estadão: Lula chega a 39% (na do Ibope a 37%), um crescimento de 9 pontos percentuais desde a última pesquisa realizada dois meses e meio atrás. Todos os outros candidatos mantiveram-se estacionados dentro da margem de erro.
Esses números expõem com uma frieza cristalina o que a grande mídia sempre soube, mas nunca quis admitir: que o ex-presidente Lula é um candidato imbatível − mesmo preso e ainda sem o recurso da campanha na TV, Lula estaria hoje a um
passo de vencer a eleição já no primeiro turno.
Além disso, o crescimento da candidatura de Lula é o mais eloquente recado que o povo transmite, recusando os candidatos da direita tradicional (Alckmin, Henrique Meireles, Álvaro Dias), que carregam como um estigma as marcas do golpe que depôs Dilma Rousseff e conduziu o país a uma perigosa e desgastante combinação de uma crise que é, ao mesmo tempo, social, econômica, política e institucional.
Pela perseguição sem dó a que é explicitamente submetido pelo condomínio dos que lideraram o golpe de 2016, agregando-se a isso a liderança pessoal e a lembrança ainda muito presente do seu vitorioso governo, Lula é o legítimo depositário da revolta popular contra a violenta social que atinge o país, sobretudo os mais pobres. Isso sem que os candidatos da direita apontem qualquer alternativa, a não ser mais do mesmo, incluindo aí Bolsonaro, cujo programa econômico pouco se difere do de Alckmin ou Henrique Meireles, o mesmo que Temer põe em prática em seu desastroso governo.
O problema é que nem tudo são flores para o PT quando é pesquisado o cenário mais provável em que a eleição deve transcorrer: o cenário sem Lula. Nesse caso, quando o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, substitui Lula na cabeça da chapa, mesmo com toda exposição recente do seu nome, o atual candidato a vice de Lula mantem-se apenas no patamar dos 4%.
Nesse quadro, Jair Bolsonaro lidera com 22%, Marina Silva com 16%, Ciro Gomes com 10%, Geraldo Alckmin com 9%, e Alvaro Dias com 4%. No caso de Bolsonaro, o deputado parece estacionado nesse limite um pouco acima dos 20 pontos, enquanto sua rejeição aumenta a cada pesquisa. Bolsonaro agora é o candidato mais rejeitado, registrando um percentual de 37% de eleitores que não votariam nele em hipótese alguma, 7 pontos acima do obtido na última pesquisa. Rejeição que cresce principalmente em meio ao eleitorado feminino, onde Bolsonaro obtém menos da metade do voto que amealha entre os homens (13% a 30%).
Voltando a Haddad. O provável substituto de Lula enfrenta hoje um grande problema. 48% dos eleitores afirmam que não votariam em um candidato indicado por Lula − na pesquisa Ibope, esse número chega a 60%!
E esse talvez seja o mais importante dado dessa pesquisa porque parece ser o cenário de segundo turno mais provável, hoje, considerada aí a capacidade de transferência que deve ser ampliada depois que Haddad for anunciado como substituto oficial de Lula e medida ainda de forma insuficiente na pesquisa. Haddad perderia hoje para todos os candidatos mais competitivos e, mais do que isso, é o único candidato a quem Jair Bolsonaro consegue derrotar no segundo turno (38% a 29%) − Bolsonaro perde para Lula (52% a 32%), para Marina (45% a 34%), para Alckmin (38% a 33%) e para Ciro (38% a 35%).
Por isso, não dúvida que esse é o centro da estratégia da direita − e talvez sua única esperança: reativar e mobilizar o sentimento antipetista e, como eu já afirmei em outra ocasião, transformar a eleição no segundo turno numa espécie de “PT, ame-o ou deixe-o”. Não é por outro motivo que Geraldo Alckmin tenta investir contra a candidatura de Jair Bolsonaro. Alckmin não teve muito sucesso até agora, mas é preciso esperar ainda a campanha na TV começar.
O alerta de Ciro Gomes para a esquerda parece que continua valendo: o PT está dançando à beira do abismo. – Por Flávio Lúcio
Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio