“A única função de previsão eleitoral é fazer com que a astrologia pareça respeitável”, afirmou o cientista político e escritor John Kennedy Galbraith. De fato, passada a eleição do ano passado, o jornalismo e a classe política já começam a projetar 2022. E as projeções ganham força semanalmente. Não poderia ser diferente, a articulação partidária nunca parou, por mais que alguns candidatos ousem dizer que o foco é apenas na pandemia e na gestão da crise sanitária. Na realidade, não é bem assim, sabemos.
Diferente das eleições municipais, que tem particularidades de acordo com a realidade dos municípios e dos indivíduos, a eleição nacional traz recados mais conclusivos quanto ao sentimento da população. E como não poderia ser diferente, as eleições nacionais influenciam as eleições estaduais. Na Paraíba, essa influência já começou. Dois personagens são pontos centrais disputa em 2022: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido).
Dentro dessa perspectiva, as pesquisas apontam um segundo turno iminente, com a terceira via cada vez mais enfraquecida, como lembra bom artigo do jornalista Thomas Traumann. Nesse sentido, a articulação política na Paraíba vira um verdadeiro imbróglio. Para onde vão os partidos? Uma composição de chapa estadual pode ter candidato oposto a orientação nacional? As perguntas vão sendo respondidas aos poucos.
Num primeiro cenário, o ex-presidente Lula, de olho nas eleições após estar livre para concorrer no ano que vem, depois de decisão do STF que anulou as suas condenações no âmbito da Operação Lava Jato e considerou o ex-juiz Sérgio Moro parcial, Lula já articula com partidos de esquerda e de Centro, tendo sinalizações positivas e mostrando que o tempo fora do jogo não apagou a sua capacidade de articulação e de fazer política.
Lula já se reuniu com partidos de Centro, principalmente o MDB e o PSD, presididos nacionalmente por Baleia Rossi e Gilberto Kassab, respectivamente. Mas as conversas de Lula não foram só com essas lideranças, Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, também esteve presente, assim como lideranças nacionais do PSD, exemplo de Alexandre Kalil, que marcou encontro com integrantes do PT. Trazendo para o cenário estadual, não é difícil enxergar o MDB de Veneziano, que faz parte da base do governo João, apoiando o Lula nacionalmente e a nível estadual.
Apesar do partido defender uma terceira via, que parece cada vez mais improvável, um apoio no segundo turno é iminente. O MDB não vai com Jair Bolsonaro. O problema na esfera paraibana é o PSD, de Romero Rodrigues. Eles podem estar em lados opostos e esse parece um caminho difícil de se seguir. A presença de Romero no PSD está colocada em dúvida, assim como a sua candidatura em 2022, devido a Operação Calvário e os imbróglios que ela pode trazer para Romero.
O ex-prefeito de Campina Grande deve acompanhar Jair Bolsonaro para o partido que ele for. O PTB é cotado, Roberto Jefferson já articulou o novo presidente no estado, com Nilvan Ferreira já definido, e Roberto Jefferson leva o partido para o extremismo de Jair Bolsonaro. Bruno Cunha Lima pediu conversar com o ex-deputado federal envolvido no escândalo do mensalão. Roberto quer a presença do ex-prefeito para dar corpo ao PTB em 2022. Esse pode ser também o caminho de Romero.
Mas Bolsonaro também conversa com o PP. E aí se criaria um problema daqueles. O samba seria totalmente bagunçado. Se Bolsonaro for ao PP, o que será de Aguinaldo Ribeiro, Cícero Lucena e as lideranças do partido na Paraíba? Aguinaldo faz campanha para ser o senador de João. Mas João já disse que um apoio a Bolsonaro é impossível. A bagunça estaria feita. Aguinaldo, que já fez críticas a Paulo Guedes durante a semana, deve torcer para o PP ficar longe do atual presidente, mas a hipótese não está descartada.
No DEM, o principal adversário de Aguinaldo para fazer parte da chapa de João: Efraim Filho. O partido nacionalmente acena com Bolsonaro, presidido por ACM Neto. Efraim já busca se distanciar, mas se for preterido por João, já declarou entrevista que conversa com a oposição e não teria dificuldades para uma chapa que apoiasse o atual presidente. Efraim não quer ficar para trás.
Nesse jogo, Lula pode atrair apoios do PSD, que com a saída de Romero precisaria de uma reformulação no estado, e pode trazer para si o MDB. Na Paraíba, os partidos esquerda, incluindo o PV de Cartaxo, PSB e PDT, formaram uma frente que faz debates sobre uma união no ano que vem. No entanto, o PDT nacionalmente não deve ir com o Lula e já tem Ciro como candidato. Lula tenta convencer o PSB, que está dividido. É mais uma nuance complicada para amarrar nesse jogo.
E a terceira via? Sem um nome de consenso, deve ter vários candidatos, até do PSD ou MDB, além do PDT, PSB, Cidadania, DEM, todos querem ter seu nome no Planalto. No final das contas, é improvável que todos lancem, mas o PSDB não abre mão dessa candidatura e alguns outros também parecem irredutíveis, ao menos no primeiro turno. É difícil que consigam se viabilizar e tirar Lula e Bolsonaro do segundo turno. Pelo menos se o cenário continuar semelhante ao de hoje. O PSDB tem dúvidas entre João Doria, Eduardo Leite e Tasso Jereissati. A definição sai em outubro, nas prévias nacionais do partido.
Aqui na Paraíba é certo que Pedro Cunha Lima será candidato, parecendo não querer abrir espaço nem mesmo para Romero e, se for o caso, formar até mesmo duas candidaturas de direita. Pedro Cunha Lima tentará se colocar como de Centro e vai apoiar o candidato nacional do partido, apesar de ter divergências com João Doria, se ele for o escolhido. Nesse jogo, o PSDB pode perder força, mas terá um palanque próprio. Assim como será difícil para uma terceira via nacionalmente tirar o foco de Lula e Bolsonaro, na Paraíba a disputa fica entre João contra Pedro ou Romero, dividindo esse eleitorado e a oposição em campos políticos nacionais diferentes.
No entanto, é sempre importante lembrar Galbraith: a única função da previsão eleitoral é fazer com que a astrologia pareça respeitável. O resultado só com as definições das candidaturas, e ainda mais: nas urnas, em outubro de 2022. Falta muito tempo, mas o cenário precisa ser acompanhado de perto. Os fatos alteram a percepção da sociedade e ela pode mudar a cada semana.
Fonte: Samuel de Brito
Créditos: Samuel de Brito/Polêmica Paraíba