Quem dá mais?

LEILÃO: Partidos negociam apoios em troca de cargos e benefícios - Por Bernardo Mello Franco

"À medida que as negociações avancem, os balões de ensaio se desmancharão no ar"

Valdemar Costa Neto na época do mensalão

 

Que princípios republicanos norteiam o Partido da República? Chefiada por um condenado no mensalão, a legenda negocia ao mesmo tempo com Lula e Bolsonaro. Seria ingenuidade buscar razões ideológicas para o dilema.

O PR integra a sopa de letrinhas do centrão, um grupo de partidos fisiológicos que costumava seguir as ordens de Eduardo Cunha. A turma se destaca pelo forte apego a valores. Não exatamente os que são anunciados em microfones.

Até o início do mês, o centrão prometia migrar em bloco para uma única candidatura. Agora a tendência é voltar ao cada um por si. Ninguém quer perder a chance de baganhar seus próprios interesses no feirão partidário.

O presidente do PP, por exemplo, está preocupado com sua reeleição ao Senado. Ele mora em Brasília, mas tem domicílio eleitoral no Piauí. Lá seria suicídio político aderir a um candidato que se oponha ao lulismo.

Ligado à Igreja Universal, o PRB negocia de forma ecumênica. Seus bispos são próximos dos tucanos, mas participaram do governo petista. Hoje apoiam Temer, amanhã podem subir ao altar com qualquer um. O importante é não ficar com a sacolinha vazia.

O Solidariedade, controlado pelo notório Paulinho da Força, também avalia ofertas no varejo. O deputado lutou bravamente contra o fim do imposto sindical. Agora busca alternativas para compensar a perda de receita.

O DEM tem algo assemelhado a um programa, mas parece pronto para abandoná-lo. O partido se divide entre Geraldo Alckmin e Ciro Gomes. Um apoiou o impeachment e reza pela cartilha do mercado. O outro denunciou o “golpe” e promete revogar todas as reformas liberais.

Com o fim dos jogos da Copa, o leitor será obrigado a acompanhar o leilão de apoios até o início de agosto. À medida que as negociações avancem, os balões de ensaio se desmancharão no ar.

O último transportava Flávio Rocha, o queridinho do MBL. Para surpresa de ninguém, ele anunciou que não será mais candidato. O país não perdeu nada, mas o horário eleitoral ficará menos divertido. O funkeiro Latino já havia gravado o jingle da campanha.

Fonte: O Globo
Créditos: O Globo