As discussões sobre o armamento civil e a legítima defesa voltaram à tona com mais força depois que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou , nesta quinta-feira (09), que pretende – através de um decreto presidencial – conceder a garantia da posse de armas a cidadãos brasileiros, seguindo alguns critérios que ainda estão sendo delineados pelo Governo Federal.
Por ser um tema polêmico, o assunto abrange não só argumentos jurídicos e políticos, mas sobretudo questões morais e religiosas, intrínsecas a um país majoritariamente cristão. Na Paraíba, duas das principais lideranças religiosas do Estado reconhecem o papel da legítima defesa em um país cada vez mais violento, mas fazem algumas ressalvas quanto ao uso de arma de fogo por cidadãos civis. Eles conversaram com a reportagem do Polêmica Paraíba sobre o assunto.
O arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson, deixa claro que a visão Bíblica é de que ‘A vida está acima de tudo’ e justamente por causa desse fato, de acordo com ele, as pessoas devem ter o direito de defenderem suas próprias vidas ao serem confrontadas com o perigo, a exemplo de uma tentativa de assassinato. Ele lembrou que essa premissa também tem base em conceitos filosóficos.
“O princípio bíblico é que a vida é o maior valor que nós temos, agora quando se confronta uma vida com a outra, a pessoa tem o direito de defender a própria vida em primeiro lugar. Ela pode até abrir mão de não querer machucar o outro, mas tem o direito de se defender”, disse Dom Delson.
O líder católico lembrou, no entanto, que o próprio Jesus Cristo, quando afrontado com a pena de morte por crucificação, decidiu não reagir, mesmo tendo esse direito. “Como o Filho de Deus, Ele tinha o poder, mas não reagiu e aceitou dar a vida para que através de seu sangue derramado, as pessoas fossem resgatadas”, lembrou.
Apesar de entender que as pessoas que quiserem podem ter o direito ao uso de armas de fogo, Dom Delson acredita que, no contexto brasileiro, a liberação do posse de armas pode significar, em algumas situações, mais violência. Para ele, a culpa desse problema é do Estado.
“Armas nas mãos de todo mundo é bastante complicado, mas seguindo esse princípio autodefesa, se o bandido tem armas e nós não temos, nós somos reféns dos bandidos. Se a sociedade conseguir se organizar, de tal modo que consiga frear a ação dos bandidos (…), talvez esse fosse o caminho mais eficaz”, pontuou.
Tanto Dom Delson quanto o pastor da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, Estevam Fernandes, ressaltam que este é um tema polêmico sobre o qual não há consenso. O líder evangélico, no entanto, se posiciona contra a liberação do uso de armas de fogo pela população.
“Eu acho temerário. Eu sou contra a ideia do uso da arma [de fogo] para a legítima defesa, eu acho que isso pode abrir precedentes para coisas muito ruins, para pessoas despreparadas emocionalmente para ter armas”, disse.
O sacerdote evangélico disse que o homicídio existe desde os tempos antigos relatados na Bíblia, e que esse problema não se resolve com armas. “Sempre no mundo houve atentado, houve homicídio, desde o tempo de Caim e Abel, e a gente tem que se precaver não se armando. Eu sou contra a ideia de armar a sociedade. Eu sou contra isso por princípio bíblico”, declarou.
O pastor Estevam defendeu que os cristãos não devem utilizar-se da violência para resolver outros problemas. “Jesus disse assim (…) ouvisse o que foi dito, olho por olho e dente por dente, (…) e a regra era assim, ele disse o contrário disso, amai vossos inimigos e abençoai aquele que vos perseguem”, disse.
Estevam Fernandes destacou, no entanto, que apesar de ser pessoalmente contra à posse de armas, não é favorável que o Estado impeça as pessoas que, por livre vontade, querem guardar uma arma de fogo em casa. “Não sou contra o livre exercício de nada. Se a pessoa quiser ter uma arma em casa, cada casa é um mister (…), então tudo o que é privado não cabe a gente discutir”, pontuou.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Felipe Nunes