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Lava-Jato, Sérgio Moro e corrupção cairão no esquecimento com o impeachment

Procurador federal faz análise temerosa quanto a possível mudança de governo.

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O procurador integrante do Ministério Público Federal (MPF) da Paraíba, Duciran Farena, apresentou uma análise dura, porém, realista quanto ao futuro do país, caso o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) seja efetivado na Câmara dos Deputados.

Em artigo publicado na última edição impressa do Jornal da Paraíba, veiculado neste domingo (10), Farena diz um possível Governo Michel Temer, que uma vez empossado no poder, porá fim as discussões em torno da corrupção na administração pública no Brasil, mas, claro, sem a devida resolução do mérito da questão.

“Aprovado o impeachment, assume Michel Temer. É nomeado um ministério de notáveis com Serra ‘primeiro-ministro’ e Gilmar Mendes, eminência parda. É lançado o grande plano de reconstrução nacional. Entrevistas e notícias sobre seus impactos tomam conta do noticiário. Lentamente, o assunto corrupção desliza para o esquecimento. A classe média raivosa comemora: ‘foi só o PT sair para a corrupção diminuir’, escreveu o procurador.

Duciran Farena também diz que a Operação Lava-Jato e o seu principal comandante, o juiz federal Sérgio Moro, também serão “esquecidos”, caso o Governo do PT seja impedido de continuar por decisão do Congresso Nacional.

“Criticar o governo volta a ser impatriótico, e ofender o presidente, ato criminoso e terrorista. O processo eleitoral que levaria à cassação da chapa Dilma/Temer e realização de novas eleições emperra. O mandato de Temer é concluído e o processo não é julgado. Perde o objeto”, argumenta.

Leia abaixo a íntegra do artigo assinado pelo procurador Duciran farena, reproduzido no Jornal da Paraíba:

Destruam a Lava-Jato!

Aprovado o impeachment, assume Michel Temer. É nomeado um ministério de notáveis com Serra “primeiro-ministro” e Gilmar Mendes, eminência parda. É lançado o grande plano de reconstrução nacional. Entrevistas e notícias sobre seus impactos tomam conta do noticiário. Lentamente, o assunto corrupção desliza para o esquecimento. A classe média raivosa comemora: “foi só o PT sair para a corrupção diminuir”. Ocorrem as primeiras anulações de delações premiadas, por vício de coação. Processos inteiros são anulados, e empreiteiros libertados, com mínima repercussão na imprensa.

A grande tarefa é reconstruir o país, e para isso a expertise das empreiteiras é mais necessária que nunca. A punição fica para depois; no momento, o que importa é a união das forças vivas da nação em torno da retomada do crescimento. Nenhuma reforma estrutural do sistema político é aprovada pelo congresso; ao contrário, aprovam-se anistias e descriminalizações. Criticar o governo volta a ser impatriótico, e ofender o presidente, ato criminoso e terrorista. O processo eleitoral que levaria à cassação da chapa Dilma/Temer e realização de novas eleições emperra. O mandato de Temer é concluído e o processo não é julgado. Perde o objeto.

Gilmar volta aos velhos tempos, denunciando furiosamente estados policiais e abusos de Torquemadas. Cunha afasta-se discretamente da presidência, para não constranger seu amigo Temer, mas nos bastidores, sua influência continua. Do processo de cassação, e do processo criminal contra ele, no STF, ninguém ouve mais falar.

O juiz Moro deixa de ser destaque. Cada vez mais passa para o segundo plano nos jornais e telenoticiários. Chovem processos e representações disciplinares contra ele, vindas de todas as partes do Brasil. Nenhuma manifestação é convocada para defendê-lo. Acuado, Moro, se não é afastado disciplinarmente antes, aceita rapidinho uma promoção obsequiosa para o Tribunal Regional, indo parar na câmara previdenciária. Some de vez.

Lula e Dilma, durante seus governos, indicaram os mais votados nas listas tríplices elaboradas pelo Ministério Público Federal, o que assegurou a autonomia dos Procuradores Gerais da República que denunciaram o mensalão e o petrolão. No entanto, ao se aproximar o fim do mandato de Rodrigo Janot, um grupo de procuradores divulga um manifesto contra a lista tríplice. Declaram-na sem fundamento legal. Teve sua importância durante a ditadura do PT, a fim de evitar a escolha de um Procurador-Geral bolivariano. Mas agora, com a legitimidade democrática plenamente restaurada, e afastado o risco de aparelhamento, torna-se uma ilegalidade e um constrangimento desnecessário ao presidente da República. Temer declara não poder fugir à sua responsabilidade e prerrogativa constitucional e ignora a lista, escolhendo um dos procuradores que havia se recusado a submeter seu nome à votação. O Ministério Público Federal desaparece do noticiário. Junto com a Lava-Jato.

A coluna de hoje foi patrocinada por Mãe Dinah dos acarajés – o destino em suas mãos.
WSCOM