Já que a confusão está instalada, vamos propor um teste para os observadores do cenário eleitoral. Definam três colunas, uma com os nomes dos candidatos à Presidência da República, outra com os nomes dos partidos e uma terceira com os nomes dos prováveis “gurus” da economia. Tentem combinar os três nomes e vejam o que essa mistura reserva. Há candidato ainda “conhecendo” seus novos colegas de partido. Ala de partido examinando a possibilidade de trocar de candidato. Partido com dois interessados em concorrer e parte dos integrantes inclinada a apoiar representantes de outras siglas. Economistas já estão a postos – e alguns cobiçados por mais de um candidato.
Com o PT ainda bancando oficialmente a candidatura de Lula – que, como se sabe, não sobreviverá –, vamos a outros participantes da disputa de outubro. Alckmin já confirmou Persio Arida como coordenador do seu programa econômico – embora parte do PSDB ainda se sinta desconfortável com o próprio Alckmin. Ciro Gomes anunciou o nome de Nelson Marconi, integrante do núcleo desenvolvimentista da FGV de São Paulo. Jair Bolsonaro tentou ganhar os mercados com o liberal Paulo Guedes, Marina, revigorada pelas pesquisas eleitorais mas abrigada no debilitado Rede, deve contar com a dupla Eduardo Gianetti-André Lara Resende, e já estaria reeditando o programa de governo, incluindo os temas mais agudos do momento, como as reformas da Previdência e tributária. Henrique Meirelles, se conseguir emplacar no MDB, obviamente vai de … Henrique Meirelles.
E Joaquim Barbosa, o novo outsider que entra em cena a menos de seis meses da eleição? O momento ainda é de conversas. Há informações de que ele buscou pontes com Delfim Netto, o próprio Gianetti, e faria o mesmo com Arminio Fraga – este, quase um “emissário” junto aos mercados e ao empresariado do outsider anterior, Luciano Huck, cuja candidatura foi um sonho do chamado centro. Barbosa é visto agora como alternativa para o mesmo espectro do eleitorado. Por enquanto, ele faz o que se espera: confessa que está animado com as pesquisas, mas diz ao PSB que ainda não se decidiu, por questões familiares. Novas pesquisas podem romper sua “resistência”.
Cada vez que surge um outsider, incensado por estar livre dos velhos vícios da política, a pergunta que vem logo em seguida é “o que ele pensa exatamente, para quem e com quem irá governar”. Aquele velho argumento de que boas ideias conquistam apoio, seja qual for o partido, não convence mais nem os alérgicos ao exercício da política. Joaquim Barbosa está sujeito a esses questionamentos. Embora ele ainda tente ficar “na muda”, enquanto acerta a união estável com o PSB, um bom indicativo de suas ideias pode ser extraído do monitoramento de sua atuação nas principais votações no STF, como mostra reportagem do Estadão na edição de domingo. Segundo o levantamento, em votações de interesse direto da economia, como a da quebra do monopólio estatal na exploração do petróleo, e a das mudanças nas aposentadorias dos servidores públicos, no governo Lula, Barbosa se alinhou a posições liberais. Aliás, mais do que as do PSB. A expectativa, contudo, é que no correr da campanha eventuais diferenças se ajeitem.
De acordo com interlocutores, Barbosa já teria dado sinais de que privatizações são bem-vindas, mas não de setores mais estratégicos, como Petrobrás e Eletrobrás – esta última destacada como prioridade de fim de governo. Reforma da Previdência, sim, mas não exatamente a de Temer, que não romperia com privilégios e atingiria só a turma do INSS. Ideias mais ao gosto do PSB, pelo menos daquele PSB pernambucano, que bebeu nas fontes de Miguel Arraes, e ainda não mostra “encantamento” com a candidatura de Barbosa. Arminio Fraga se encaixaria nessa visão? É esperar para ver.
Ao que tudo indica, o centro continua procurando um candidato para chamar de seu. Um candidato considerado amigável pelos mercados, mas que defenda uma política econômica com tempero social – afinal, a política econômica de Temer não está sendo chancelada pelas pesquisas de opinião, o que reforça a decisão do governo de providenciar algumas “bondades” para estimular o consumo. E com um “detalhe”: o tal candidato precisa ter chances reais de vitória. Será o Barbosa?
Fonte: O Estado de S.Paulo
Créditos: Cida Damasco