Jair Bolsonaro vai ser preso. Ele sabe disso. Ele sabe também que ninguém vai perdoar seus crimes. O discurso golpista só serve para encobrir a necessidade de escapar da cadeia. Ele não pode ser responsabilizado por todos os brasileiros mortos durante a epidemia. A sua marca assassina, porém, está entranhada em cada um deles.
Meu pai morreu de Covid em meados do ano passado. Nesta segunda-feira, ele festejaria seu aniversário. Jair Bolsonaro encomendou sua morte infectando o ar que ele respirava. Em seguida, tripudiou alegremente sobre seu cadáver. Quando o sociopata for preso, vou comer uma fatia de bolo. Parabéns, pai. Pique-pique.
A CPI da Covid, para quem perdeu um familiar, dói um bocado. Eu, por exemplo, só consegui assistir a 15 minutos do depoimento de Eduardo Pazuello. Jair Bolsonaro cometeu seus crimes publicamente: nos palanques, nas rodinhas palacianas, nas padarias brasilienses. O resultado pode ser medido em corpos: o Brasil tem o maior número de mortos per capita do planeta. Em vez de perder tempo interrogando os comparsas do assassino serial, portanto, a CPI da Covid deveria julgar o próprio assassino e conduzi-lo para a masmorra. O cálculo dos senadores, no entanto, é mais rasteiro: querem sangrá-lo eleitoralmente até 2022. Como se as pessoas, depois de terem visto tanto sangue, ainda quisessem ver mais sangue. O que elas querem é resolver isso o quanto antes.
Jair Bolsonaro vai ser esmagado nas urnas, porque o eleitor, como sempre ocorre depois de uma carnificina, vai acabar escolhendo uma figura dissociada dessa carnificina. Mas os crimes do sociopata não podem ser anistiados. Cedo ou tarde, ele terá de ser trancado na cadeia. Será uma festa – uma festa triste – para quem, como eu, perdeu uma pessoa amada. Saudade, pai. Ratimbum.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraíba
Fonte: Revista Crusoé
Créditos: Revista Crusoé