Fonte de problemas para o governo, o PSL passou a irritar o presidente Jair Bolsonaro que, em conversa com líderes partidários na última semana, chegou a confidenciar o desejo de deixar a sigla no futuro.
Bolsonaro se filiou ao PSL em março do ano passado, para disputar a Presidência. Até então, era um partido nanico, com apenas oito deputados, nenhum senador e pouca expressão nacional. Na prática, o presidente “manda” na sigla, em acordo com seu presidente, Luciano Bivar.
Mas a expansão do partido sob Bolsonaro, com 54 deputados e 4 senadores, colocou o PSL nos holofotes, e a sigla vive uma sucessão de problemas e conflitos internos. Na conversa da semana passada, Bolsonaro afirmou que, se vier a disputar a reeleição, deve ser por outro partido.
Com a eleição de 2022 distante e o governo ainda buscando deslanchar as reformas na pauta do Congresso, as reclamações de Bolsonaro numa reunião com líderes do PR foram entendidas pelos interlocutores mais como um desabafo do que como um plano na iminência de se concretizar.
Estavam presentes na conversa o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o líder do PR no Senado, Jorginho Mello (SC), o senador Wellington Fagundes (MT), o líder do PR na Câmara, Wellington Roberto (PB), e o ex-ministro de Dilma Rousseff Alfredo Nascimento. O desabafo de Bolsonaro foi relatado ao GLOBO por dois participantes do encontro que disseram que o presidente afirmou que “não dava para continuar no partido” e que seria “muita confusão” para administrar.
Procurado para esclarecer as declarações do presidente, o Planalto disse que não iria comentar o assunto. Na reunião, Bolsonaro não teria detalhado a quais “confusões” se referia. Desde que assumiu o cargo, o presidente teve que lidar com a repercussão do escândalo de candidaturas laranjas, investigado pelo Ministério Público. O episódio deixou em saia-justa o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio e o ex-ministro Gustavo Bebbianno (Secretaria-Geral), ambos do PSL, além de deixar em evidência o papel do presidente nacional da sigla, Luciano Bivar, na distribuição suspeita de recursos do fundo eleitoral.
No fim de semana, o jornal “Folha de S.Paulo” revelou que a deputada Alê Silva, também do PSL, procurou a Polícia Federal para acusar o ministro do Turismo de tê-la a ameaçado de morte, caso revelasse supostas informações desabonadoras contra ele sobre o uso de candidatas laranjas na campanha. O episódio deve proporcionar ainda mais munição à oposição nos próximos dias.
Além de ter demorado para fechar questão a favor da reforma da Previdência, o PSL não consegue reverter seu tamanho no Congresso em favor dos interesses do Planalto. Nas últimas semanas, os ministros do governo foram atacados em comissões do Parlamento sem que o partido se articulasse minimamente para defender os auxiliares de Bolsonaro.
‘Pressão’ pela reeleição
Em menos de 100 dias de governo, brigas entre parlamentares do partido viraram um assunto público, causando constrangimento ao Planalto. Troca de ofensas em grupo do Whatsapp da bancada da Câmara foram expostas e aprofundaram as divisões internas.
Na segunda-feira, Bolsonaro prometeu que, caso seja candidato, fará diferente de outros políticos brasileiros, cuja reeleição, segundo ele, acaba se tornando uma espécie de “desgraça”, e que só se torna possível por meio de “acordos espúrios que levam a escândalos de corrupção”.
— A pressão está muito grande para que se eu estiver bem, que me candidate à reeleição — disse o presidente, em entrevista à rádio Jovem Pan, no Palácio do Planalto.
Um dia depois, além de abordar novamente o assunto, Bolsonaro e os dirigentes do PR conversaram sobre a reforma da Previdência. Os convidados reconheceram a importância do tema. Entretanto, parlamentares ouvidos pelo GLOBO disseram que não houve grande avanço para que o partido pudesse aderir à base formal do governo. Segundo o senador Wellington Fagundes, o partido se colocou à disposição para “ajudar o país”.
— O partido se ofereceu para ajudar, mas o governo também precisa fazer sua parte — disse o senador, referindo-se a pontos polêmicos da reforma que sofrem resistência no Congresso.
Já o líder do PR na Câmara, Wellington Roberto, disse que o ambiente da reunião já era previsível.
— Expectativa (sobre base aliada) a gente não tinha nenhuma, porque já se sabia como foram as conversas com os outros partidos — disse o deputado.
Fagundes ressaltou ainda que “ficou clara” a intenção do governo de não ter uma base formal de apoio. E que optou por “não seguir o modelo de coalizão”.
Fonte: Paraíba Já
Créditos: O Globo