Apesar da boa relação com o PSC, a crise recente do presidente Jair Bolsonaro com o PSL, que pode culminar com sua saída do partido, pode levar o governador para outro caminho. A ala do partido ligada ao deputado Luciano Bivar (PSL-PE) sonha com o nome de Witzel para o Planalto.
Enquanto nutre ambição de ampliar o número de prefeitos pelo país (hoje são 29) e organiza campanhas de filiação ao PSC, Everaldo vive uma celeuma em seu partido. A Polícia Federal (PF) investiga se o pastor usou a influência na sigla para promover a prática da “rachadinha”, na qual funcionários são obrigados a devolver parte de seus salários. A acusação foi feita em abril deste ano à PF pelo ex-presidente nacional do PSC Victor Jorge Abdala Nósseis. Ele, no entanto, não apresentou provas. Nósseis sustenta ainda que Everaldo teria recebido dinheiro público de políticos e empresas condenadas na Lava-Jato, em acusações formalizadas ao então juiz Sergio Moro e ao Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba.
PSC nega
Em nota, o diretório nacional do PSC afirmou que “reitera que o presidente do partido, Pastor Everaldo Dias Pereira, não é alvo de nenhuma investigação da Polícia Federal”. Diz ainda que Nósseis foi afastado por ordem judicial e é alvo de inquéritos em andamento no Ministério Público (MP) de Minas Gerais. Procurado, Everaldo não quis dar entrevista.
Experiência no Executivo, ele só teve uma: foi subsecretário de Gabinete Civil de Garotinho. Começou a vida como vendedor de vasos de planta em uma feira em Acari, na Zona Norte do Rio. Já vendeu bananas, foi servente de pedreiro e office boy. Entrou, no fim da década de 1970, para o ramo de seguros. Desde 30 de abril de 1992 é proprietário da Edp de Seguros, com capital social de R$ 52 mil, que atua na área de corretagem, agenciamento e plano de previdência complementar. A empresa é familiar: seus sócios são Filipe de Almeida, seu filho, e Laércio de Almeida Pereira, seu irmão. Laércio foi candidato a suplente de Everaldo, que, em 2018, teve 2,58% dos votos na eleição para o Senado. Em 2018, Everaldo declarou ter R$ 268.272 reais; em 2014, R$ 121.391.
A Lava-Jato chegou a chamuscar Everaldo: em delação, o ex-diretor da Odebrecht Ambiental Fernando Reis afirmou que a empreiteira repassou em 2014, via caixa dois, R$ 6 milhões ao pastor, então candidato à Presidência. Em troca, teria sido orientado a fazer perguntas “simples e inócuas” a Aécio Neves, que concorria ao cargo pelo PSDB. O delator fora apresentado a Everaldo por Eduardo Cunha. Ele nega as acusações. Everaldo e Cunha, preso desde 2016, se aproximaram nos anos 2000, na gestão Garotinho, quando atuaram na Cedae.
Foi Everaldo que apresentou André Moura, ex-líder do governo Temer, a Witzel. Réu em três ações penais por formação de quadrilha e desvio de recursos, Moura foi nomeado Secretário da Casa Civil e Governança de Witzel, no último dia 27. O pastor frequenta as já famosas sessões de vinhos e charutos no Guanabara. Articula tanto as conversas com os parlamentares quanto a interlocução de Witzel com outros governadores.
O presidente do PSC tem feito viagens e se empenhado para eleger prefeitos, no ano que vem, em ao menos três capitais: Manaus, onde Wilson Lima, também do PSC, é governador, Sergipe e Fortaleza. Na Câmara, tem oito deputados federais. Já nas assembleias legislativas, o partido tem representação em todos os estados. Everaldo repete neste ano estratégia semelhante à que adotou em 2002, quando rodou o Brasil para articular a campanha de Garotinho à Presidência. O ex-governador do Rio alcançou o terceiro lugar nacionalmente, com 17,8% dos votos.
No Amazonas, em meados de setembro, o PSC começou uma campanha de filiação no estado. Dos 62 municípios, a meta é eleger entre 20 e 25 prefeitos. No Brasil, o PSC tem hoje cerca de 400 mil filiados. O partido está revendo, como no Amazonas, filiações em vários estados. No Maranhão são hoje 13 prefeitos e no Rio, onde não elegeu nenhum, tem atualmente 15.
— Viajo organizando o partido, as filiações. Mas nosso presidente de honra é o Witzel — disse Everaldo em agosto, em entrevista à Época, quanto afirmou ter “espaço total” no governo.