Julgamento final de afastamento de Dilma deve ter início no final de agosto. Aprovação do impeachment exige os votos de pelo menos 54 senadores.
A menos de um mês do provável julgamento final do processo de impeachment, senadores ouvidos pelo G1 que ainda se dizem indecisos afirmam que o panorama político-econômico melhorou com a entrada do presidente em exercício Michel Temer, mas aguardam os próximos passos antes de adotar uma posição sobre o afastamento definitivo de Dilma Rousseff.
O impeachment está na fase intermediária, na qual os senadores devem dizer se Dilma deve ou não ir a julgamento final. Nesta semana, encerram-se os trabalhos da comissão especial que analisa o caso, com a votação do relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG) na quinta-feira (4).
Depois, no dia 9, o plenário principal do Senado deve analisar o parecer. Se a maioria simples (metade dos presentes mais um, desde que estejam presentes pelo menos 41 senadores) aprovar um eventual relatório dizendo que a denúncia de crime de responsabilidade contra Dilma procede, o caso vai para a última fase.
Do ponto de vista político, [a entrada de Michel Temer] distensionou a crise, mas apenas distensionar politicamente não resolve os problemas do Brasil.”
Senador Eduardo Braga (PMDB-AM)
Nos bastidores, aliados da presidente afastada admitem não ter votos suficientes para evitar que o processo vá a julgamento final, no qual apostam as últimas fichas. Segundo previsão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o julgamento deve ter início entre os dias 25 e 27 de agosto e pode durar de quatro a cinco dias, com intervalos entre um dia e outro.
São necessários 54 votos para que o impeachment seja aprovado. Na primeira votação, 55 senadores votaram pela abertura do processo pelo Senado. A margem favorável à cassação é pequena, o que dá mais peso aos votos dos indecisos.
Entre os que dizem ainda não ter tomado uma decisão, está o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), ministro de Minas e Energia no governo Dilma.
Para o peemedebista, no plano jurídico, não houve crime de responsabilidade de Dilma Rousseff, mas o processo de impeachment também é político, o que complica a situação da petista.
Julgar o mérito é uma questão muito pessoal. Nós estamos no Senado como juízes. Não é uma questão partidária […] Não tenho problema em não seguir a orientação do partido. Claro que sinto muito se isso acontecer, mas, se eu entender que o melhor para o Brasil é algo diferente do que o partido pensa, eu vou no meu pensamento”
Senador Acir Gurgacz (PDT-RO)
“Eu nunca me imaginei em uma situação de definição política como essa, porque esse impeachment, antes de mais nada, é um processo político. Eu não vejo, na presidente, o dolo e o crime de responsabilidade para um impeachment por aspectos jurídicos, mas o processo é também político”, disse Braga.
“Do ponto de vista político, [a entrada de Michel Temer] distensionou a crise, mas apenas distensionar politicamente não resolve os problemas do Brasil. Mas ajuda”, completou.
O senador disse ainda que “reconhece” suas relações históricas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com Dilma, a quem foi “leal”, mas lembrou que é membro da executiva nacional do PMDB, partido de Michel Temer e tem bom relacionamento com o presidente em exercício.
Eduardo Braga solicitou licença-médica e não compareceu, em maio, à votação que determinou a abertura do processo de impeachment.
Questão pessoal
Outro senador que afirma ainda não ter decidido como vai votar no julgamento final do impeachment é Acir Gurgacz (PDT-RO). O parlamentar, que votou pela abertura do processo, diz que é “indelicadeza” ir para um julgamento com posicionamento já tomado.
O PDT, partido de Gurgacz, é aliado de Dilma Rousseff e tem recomendado que seus parlamentares votem contra o impeachment. O senador, no entanto, diz que não terá problema em não seguir uma orientação do partido.
Não entendo como tem senador que não precisou esperar o parecer de Anastasia para se posicionar. Como vou julgar antes de ver o processo em andamento?”
Senador Cristovam Buarque (PPS-DF)
“Julgar o mérito é uma questão muito pessoal. Nós estamos no Senado como juízes. Não é uma questão partidária […] Não tenho problema em não seguir a orientação do partido. Claro que sinto muito se isso acontecer, mas, se eu entender que o melhor para o Brasil é algo diferente do que o partido pensa, eu vou no meu pensamento”, explicou o senador.
Na mesma linha, João Alberto (PMDB-MA) disse, sem especificar, que votou contra a abertura do processo de impeachment por “questões pessoais”, mas que só vai decidir seu voto no dia do julgamento final.
Aliança regional
O senador Elmano Férrer (PTB-PI) disse que votou contra a abertura do processo de impeachment devido a uma aliança que mantinha com o PT no Piauí e porque seus eleitores sinalizaram que eram contra o afastamento de Dilma Rousseff. Elmano disse que a entrada de Temer melhorou o diálogo do Planalto com o Congresso.
“Em pouco tempo, já tive mais encontros com Temer do que tive com Dilma”, comparou. O parlamentar, no entanto, disse que quer “aguardar” para tomar a decisão.
‘PT precisa do impeachment’
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) disse aguardar o relatório de Anastasia para se posicionar sobre a cassação de Dilma Rousseff.
“Não entendo como tem senador que não precisou esperar o parecer de Anastasia para se posicionar. Como vou julgar antes de ver o processo em andamento?”, questionou o parlamentar.
A economia teve um alento com a entrada de Temer. Claro, que ninguém vai transformar a grave situação do país de uma hora para outra, mas é possível que as coisas continuem melhorando, com aumento da credibilidade. Precisamos de uma estabilidade política.”
Senador Roberto Rocha (PSB-MA)
Cristovam Buarque, que votou pela abertura do processo de impeachment, também acredita que a situação do país melhorou com Temer na presidência, principalmente no setor econômico.
Por telefone, o senador do Distrito Federal criticou o discurso de petistas de que o processo de afastamento é “golpe”.
“As ‘pedaladas’ eu não sei se são crime, mas a presidente cometeu o crime de espalhar pelo mundo a ideia de que o impeachment é golpe. Isso foi crime e é um crime do qual estou sendo vítima. Estou ouvindo muito, me escrevem, protestam – por enquanto com respeito – porque eu ainda não votei”, contou Cristovam.
O senador, que já foi filiado ao PT, disse que o melhor para o partido é a aprovação do impeachment.
“O PT será ou mais forte, ou menos fraco, se houver o impeachment. Sem o impeachment, a Dilma volta, compondo um novo ministério, a economia vai se arrebentar por falta de credibilidade. Ela não tem mais nenhum apoio quase no Congresso. Como vai ficar o PT?”, indagou.
Para o senador, “se o impeachment passa, o PT vai para a oposição. Todos os desastres criados pelo governo Dilma, os petistas vão colocar nas costas do Temer: o desemprego, a crise dos estados. E ainda vão pregar a bandeira do golpe. O PT pode ressuscitar graças ao impeachment. Mas eu não vou levar isso em consideração na hora do voto. Eu vou votar pelo Brasil”, afirmou.
Tendência
O senador Roberto Rocha (PSB-MA) rejeita o rótulo de indeciso. Ele diz que prefere não divulgar como vai votar para não fazer um pré-julgamento, mas afirma já ter tomado sua decisão. A “tendência”, segundo afirmou, é votar a favor da cassação de Dilma, seguindo orientação de seu partido.
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“A economia teve um alento com a entrada de Temer. Claro, que ninguém vai transformar a grave situação do país de uma hora para outra, mas é possível que as coisas continuem melhorando, com aumento da credibilidade. Precisamos de uma estabilidade política”, opinou Rocha.
O G1 entrou em contato com outros senadores que se dizem indecisos na questão do impeachment. O suplente de Walter Pinheiro (sem partido-BA) – que votou contra a abertura do impeachment –, Roberto Muniz (PP-BA), não quis comentar o tema, assim como, Eduardo Lopes (PRB-RJ), suplente de Marcelo Crivella.
Já os senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) – que não compareceu à primeira votação do impeachment – e Romário (PSB-RJ) não atenderam às ligações.
Fonte: Gustavo GarciaDo G1, em Brasília
Créditos: Gustavo GarciaDo G1, em Brasília