O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ainda não viajou para a Itália mas sua presença tem causado uma forte polêmica. A cidade de seus antepassados, liderada por uma prefeita de um partido populista de direita, propôs conceder a cidadania honorária ao brasileiro. Mas desde o anúncio da proposta, o tema passou a dominar o debate político, com protestos organizados contra a iniciativa e pressões.
A homenagem será dada pela prefeitura de Anguillara Veneta, no norte da Itália. Desde 1993, o pequeno município tem o título de “cidade da paz e dos direitos humanos”. Não por acaso, religiosos, a ala moderada dos políticos locais, sindicatos e outros grupos tentaram impedir que o projeto de receber Bolsonaro fosse adiante.
O presidente viaja para a Itália nesta semana, onde participa da cúpula do G-20, ao lado dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Carlos França (Exteriores). Mas quer aproveitar para visitar suas origens. Vittorio Bolzonaro saiu da cidade com sua família para o Brasil, por volta de 1878. A mudança da ortografia não ocorreu nenhum nome por conta de um erro no cartório.
Numa reunião de emergência entre os vereadores do local, a proposta foi aprovada nesta segunda-feira. Foram nove votos a favor, três contra e uma abstenção. Mas não sem uma avalanche de polêmicas e resistência por parte da sociedade. A diocese do local já indica que irá emitir um comunicado para se distanciar da decisão da prefeitura.
Enquanto a votação ocorria, um pequeno protesto foi organizado no local, com bandeiras do Brasil e um cartaz com a palavra: “vergonha”.
Uma festa está prevista para o dia 1 de novembro e a prefeita, Alessandra Buoso, chegou a pedir a liberação de 9 mil euros para receber “uma delegação estrangeira”. Para uma cidade de apenas 4 mil habitantes e que atravessa uma crise econômica, o valor gerou revolta de uma parcela da população.
A prefeita é do partido Liga, liderado por Matteo Salvini, um admirador de Bolsonaro. Na imprensa local, a gestão da pandemia no Brasil e o racismo de suas declarações foram citados como argumentos para deslegitimar o título.
Antonio Spada, um dos vereadores de homenagem, o valor da festa e a homenagem são “escandalosos”. Em entrevista, ele explicou que o montante destinado é mais da metade de todo o orçamento do pequeno vilarejo para um ano de atividades culturais. O valor é também nove vezes o salário de um professor primário.
Spada contou que pediu uma reunião com a prefeita, que alegou que não teria como recusar a homenagem. “É um mistério essa decisão”, disse. “Tem algo que não está sendo contado para nós”, completou.
Segundo ele, a rejeição se da por conta de Bolsonaro não cumprir nem os critérios atribuídos para a concessão do título. Spada conta que a exigência é de que uma pessoa homenageada promova a cidade pelo mundo. “O que é que ele fez pela cidade?”, Questiona.
No momento da votação e para a surpresa de todos, os jornalistas locais foram retirados da sala do conselho da prefeitura. Procurada pela reportagem, a prefeita se recusou a explicar seu ato. Mas fontes na cidade confirmaram que as tratativas já estavam ocorrendo há pelo menos dois meses que, mesmo antes da votação, uma delegação brasileira já estava na cidade para os preparativos.
Mesmo com o voto, os protestos continuaram. Um campanhas nas redes sociais somou mais da metade de assinaturas que a população da cidade.
Já no final de semana, protestos já foram organizados diante da prefeitura, enquanto sindicatos, a Associação Nacional da Resistência Italiana e outros grupos tentaram impedir a aprovação da homenagem. “Isso não é uma questão de direita contra esquerda”, disse Spada. “Não temos problema em ver Bolsonaro vir à cidade. Mas dar um título oficial para ele é outra história”, alegou.
Na imprensa italiana, políticos de centro e de esquerda da Itália criticaram uma decisão da prefeitura do norte do país, insistindo que uma população local “não merecia” o ato de apoio a Bolsonaro.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Metrópoles