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HOMEM NA FOTO TEM ENFISEMA: Bolsonaristas compartilham notícia falsa de 'cura' de coronavírus por hidroxicloroquina

Não é de um paciente com Covid-19 a foto que circula nas redes sociais desde sexta-feira (27) que reporta que quatro pacientes em São Paulo foram “curados com o uso de hidroxicloroquina”. Usada pelo site bolsonarista Senso Incomum até as 14h14 deste domingo (29) para fazer propaganda da substância, foi compartilhada pelo senador Flavio Bolsonaro, mas é, na verdade, uma imagem de um paciente com enfisema pulmonar internado em 2019 na UTI do hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

A imagem, que também foi compartilhada pelo senador Flavio Bolsonaro no Facebook, tem origem numa reportagem da RBS, afiliada da TV Globo no Rio Grande do Sul, sobre estudos que apontavam vantagens de permitir que familiares visitem pacientes internados. O caso é anterior a qualquer diagnóstico de coronavírus no mundo.

Compartilhada por Flavio Bolsonaro, páginas bolsonaristas e reproduzida pelo site Senso Incomum, a imagem enganosa já angariou ao menos 27.500 compartilhamentos no Facebook desde o início da tarde deste domingo (29) e foi marcada na ferramenta de verificação da rede social. Só o post de Flavio tem mais de 25 mil compartilhamentos. A foto também circula no Twitter, com mais de 2.000 interações, e também no WhatsApp.

O site Senso Incomum reproduziu na última sexta-feira (27) informações atribuídas ao UOL, cuja reportagem afirmava que quatro pacientes foram curados em SP com hidroxicloroquina. Acompanhada dessa reportagem está uma foto de um paciente que, na verdade, não foi tratado com o medicamento nem mesmo está com coronavírus. O senador Flavio Bolsonaro também compartilhou essa imagem e amplificou a desinformação nas redes.

A imagem em questão é de uma reportagem da RBS de 2019, anterior à pandemia do coronavírus e a qualquer caso registrado no mundo. O homem em questão é Walter Hugo Balestra Pombo, paciente com enfisema pulmonar internado na UTI do hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, devido a tratamento contra enfisema pulmonar. O site de análise política do Grupo Estado, BR Político, confirmou a informação com a filha do paciente, a jornalista Mariana Balestra.

Segundo ela, o pai esteve internado algumas vezes ao longo de 2019 para tratamento do enfisema. O registro disseminado enganosamente pelas redes é de 30 de julho de 2019. Quem aparece ao lado de Walter é outra filha, Antonia Balestra, que mora em Porto Alegre.

A droga – já usada para tratar malária, lúpus e artrite – tem sido testada em vários países no combate à Covid-19, mas ainda não tem eficácia comprovada e seu uso não é recomendado por autoridades médicas. Ou seja, não há evidência que os pacientes em questão foram curados em razão do uso terapêutico da hidroxicloroquina.

Os posts ainda causam desinformação por venderem a hidroxicloroquina como cura da Covid-19, embora não haja comprovação científica de que a substância de fato ajude no tratamento da doença. O tratamento está em fase experimental e não é indicado para o novo coronavírus, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a SBFC (Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica) e a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Um estudo francês feito com 42 infectados por coronavírus tem circulado nas redes como prova da eficácia da substância, mas, desses doentes, somente 20 pacientes foram tratados com hidroxicloroquina. Desses, 12 deixaram de apresentar o vírus após o tratamento, sendo que, em um dos casos, a carga viral aumentou após dois dias sem tratamento.

A metodologia desse estudo, de amostragem e controle limitados, é contestada por especialistas. Um estudo controlado conduzido na China publicado nesta semana também demonstrou que não há diferença significativa entre a hidroxicloroquina e outros tratamentos para a Covid-19.

“É absolutamente indispensável que o teste desse medicamento seja realizado com rigor científico para obter uma resposta sobre sua eficácia e eventuais efeitos colaterais. Precisamos ter algo sério. Isso não é como Doliprane (paracetamol), há riscos cardíacos. Não é prudente propor isso a um grande número de pacientes nesse momento, já que não temos resultados confiáveis”, afirmou ao Le Monde a virologista Françoise Barré-Sinoussi, prêmio Nobel de Medicina pela descoberta do vírus HIV, conforme tradução da BBC.

Fonte: Aos Fatos
Créditos: Aos Fatos