O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta terça-feira (11) que sua equipe econômica sofreu “uma debandada”. Dois secretários especiais pediram demissão.
Segundo Guedes, Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) decidiram deixar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Salim era o responsável pelas privatizações e Uebel pela reforma administrativa. A saída de dois secretários no nesta terça reflete uma aceleração nas baixas do Ministério da Economia.
“Hoje houve uma debandada? Hoje houve uma debandada”, disse Guedes. “Salim falou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a verdade.”
Já Paulo Uebel, assim como Caio Megale, que também já deixou a pasta recentemente, veio do governo de João Doria (PSDB), quando o tucano ainda era prefeito da cidade de São Paulo.
O advogado gaúcho Uebel foi secretário de Gestão de Doria e também foi presidente-executivo do Lide, empresa de eventos fundada pelo governador paulista. Ele ainda foi diretor do Instituto Millenium, uma think tank de difusão de ideias liberais, onde se aproximou de Guedes.
A ida de Uebel para a esfera federal era de uma tentativa de implementar em maior escala o que iniciou na Prefeitura de São Paulo em 2017 e 2018: um programa de enxugamento de gastos da máquina pública, com renegociação de contratos, corte de gastos considerados desnecessários e controle de produtividade de funcionários públicos.
Em meados de julho, Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional, e foi substituído por Bruno Funchal. Apesar de a troca ter sido esperada, foi a queda mais relevante da equipe de Guedes até então.
Depois disso, no fim de julho, o Banco do Brasil comunicou oficialmente a saída do presidente Rubem Novaes e foi apresentado então o pedido de demissão do diretor de programas ministério da Economia, Caio Megale.
A debandada desta terça teve, nas palavras de Guedes, como principal fator a demora na execução de planos do Ministério da Economia.
Além da avaliação do timing político para apresentar projetos estruturantes, a equipe econômica vem sofrendo resistência dentro do próprio governo. A dificuldade em apresentar a reforma administrativa, por exemplo, tem como origem críticas do Palácio do Planalto, inclusive do presidente Jair Bolsonaro.
Em relação ao plano de privatizações, o ministro da Economia já vinha demonstrando publicamente a insatisfação dele e de Salim diante dos atrasos nos cronogramas.
Ainda na campanha eleitoral, Guedes apresentou a intenção de privatizar todas as estatais e, com isso, arrecadar R$ 1,2 trilhão —dinheiro que seria usado para abater a dívida pública.
Mas esse plano ainda está longe de ser executado. Guedes, após assumiu o governo, já reconheceu que esse projeto também tem que passar por um crivo político e, por isso, não consegue realizar uma privatização tão ampla como desejava.
Em abril, Marcos Troyo foi escalado para assumir a presidência do banco dos Brics (sigla que reúne os principais países emergentes, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Nesse caso, saiu, portanto, com apoio do próprio governo.
No ano passado, após atritos com o Palácio do Planalto, Joaquim Levy e Marcos Cintra deixaram, respectivamente, a presidência do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e o comando da Receita Federal.
Cintra foi demitido durante a elaboração da proposta de reforma tributária do governo. Por estar na linha de frente do projeto de criação de um imposto nos moldes à extinta CPMF, ele caiu.
Agora, em 2020, Guedes tenta avançar com a reforma tributária no Congresso e voltou a estudar tributo semelhante.
Fonte: Folha de S.Paulo
Créditos: Folha de S.Paulo