Análise da Folha mostra que, entre as pessoas na rede categorizadas como de direita, é comum o uso de ícones ligados a esportes de força ou populares nos EUA (como ) e a Israel , país reiteradamente elogiado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Na esquerda, chamam a atenção emojis ligados a artes, como , além da bandeira da Palestina .
Essa diferença no uso de imagens fica clara se considerados os ícones relacionados ao corpo humanos e pessoas.
Um símbolo que tenha ficado num extremo, como a mão simulando uma arma , representa um símbolo que praticamente apenas um dos espectros o utiliza (a direita, nesse caso).
A Folha distribuiu os emojis em oito grupos, como “comida e bebida” e símbolos (veja os demais grupos abaixo).
Alguns usuários parecem utilizar imagens com sentidos distintos do original. De forma desproporcional na direita aparece um copo de leite , que é usado por radicais de direita nos EUA, após polêmica envolvendo supremacistas (pessoas que acreditam na superioridade dos brancos). À esquerda está um pêssego , que pode ser entendido como nádegas.
A análise dos emojis utilizou como base o GPS Ideológico, ferramenta da Folha que analisa o perfil dos usuários da rede social a partir de quem eles seguem ou são seguidos. No modelo estatístico adotado, pessoas que seguem os petistas Lula e Fernando Haddad são posicionadas distantes de quem segue a família Bolsonaro, por exemplo.
A partir dessa categorização, que avaliou 1,7 milhão de perfis, a reportagem analisou quais emojis são usados de forma desproporcional em cada segmento dessa reta ideológica.
Para análise sobre os ícones, foram considerados 467 mil perfis (do universo estudado pelo GPS Ideológico) que usam as imagens em suas descrições pessoais na rede social.
“O uso dos emojis é uma tentativa de transmitir mais sentido, de forma mais econômica, em determinados contextos de interação”, escreveu em trabalho acadêmico sobre o tema a pesquisadora da UFMG Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva, que atua na área da linguística. “Ao mesmo tempo, faz emergir sentidos acrescidos de muitos outros significados, especialmente, de emoções.”
A história dos emojis
No fim dos anos 1990, o japonês Shigetaka Kurita buscava uma forma de comunicação mais impactante e com mais sentimento do que textos, para serem usadas pela companhia de telefonia móvel japonesa NTT Docomo.
Kurita então desenhou 176 símbolos, inspirados no mangá e em kanjis. Esses desenhos foram chamados de emojis, palavra que em japonês significa “imagem-letra” (ou seja, o “e” presente na palavra não tem relação com a ideia de algo eletrônico, como em “email”).
A ideia se expandiu e hoje há mais de 3 mil opções de figuras. Um consórcio chamado Unicode, com sede nos EUA, é quem valida a inclusão de ícones.
Com essa popularização, uma característica que tem ficado marcante no uso dos emojis são as diferentes interpretações que um mesmo desenho pode ter.
A pesquisadora da UFMG Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva enumerou em um trabalho acadêmico algumas dessas diferenças: um pêssego pode ser apenas uma fruta ou ter conotação sexual (nádegas); um montinho de cocô pode representar boa sorte no Japão.
Nos EUA tem sido publicado reportagens que mostram também que radicais de direita estão usando ícones com sentido muito distante do original, para indicar suas posições –prática também presente entre os usuários de direita no Brasil.
A Wired, veículo que aborda tecnologia, publicou em 2017 reportagem mostrando como o leite passou a ser usado como símbolo por supremacistas brancos.
A utilização começou após trabalho acadêmico na revista científica Nature mostrar que povos europeus foram os primeiros a conseguir digerir a lactose.
A imprensa tradicional mostrou que supremacistas estavam se apropriando da imagem do leite para mostrar sua mensagem racista. Esses usuários passaram a ironizar essa conclusão, na linha “é apenas leite”. E o uso do emoji se disseminou entre eles.
No Brasil, alguns usuários usam a imagem como analogia a ejaculação.
Um novo sentido de imagem aconteceu também com o sapo . A transformação veio a partir do Pepe, o Sapo, que originalmente era um personagem de quadrinhos nos EUA.
A imagem do personagem passou a ser usado em fóruns de discussão como 4chan e Myspace, por volta de 2008. Na campanha presidencial americana de 2016, o então candidato republicano Donald Trump e apoiadores utilizaram o personagem em suas postagens, popularizando-o entre os conservadores. E agora também muito presente na direita no Brasil.