Política

Gestão de Hugo Motta como presidente da Câmara já enfrenta críticas - Por Nonato Guedes

Gestão de Hugo Motta como presidente da Câmara já enfrenta críticas - Por Nonato Guedes

Apesar do pouco tempo a gestão do deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos) na presidência da Câmara Federal já coleciona críticas dos próprios parlamentares, que se queixam da falta de um cronograma e da quebra de compromissos. Desde fevereiro ele está no comando, tendo protagonizado uma vitória espetacular que foi construída com votos de bancadas aliadas ao presidente Lula e bancadas bolsonaristas. Deputados ouvidos pelo UOL afirmaram que Motta ainda não sinalizou quais os legados que deseja deixar na sua passagem à frente da instituição. Enquanto o governo Lula já apresentou uma lista de projetos prioritários, incluindo a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e a PEC da Segurança Pública, o dirigente da Câmara “ainda não mostrou a que veio”, conforme a avaliação desses parlamentares.

Em paralelo, Motta está “enrolado” na demanda de temas polêmicos, como o projeto de lei que propõe anistia para os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília, e tem procurado se socorrer do próprio Supremo Tribunal Federal para encontrar uma solução de meio-termo, em meio a pressões intensas de bolsonaristas e lulistas. Ainda por cima, o paraibano tem estado pouco tempo no comando das votações em plenário. Somente dez vezes, desde que foi investido no cargo, ele abriu a ordem do dia, quando é iniciada a discussão sobre as leis a serem analisadas. Nestes dois meses e meio de presidência, houve 29 sessões deliberativas no plenário, de acordo com o levantamento do UOL. Isto quer dizer que o deputado paraibano não presidiu nem metade das sessões – e, em alguns dias, ficou menos de 20 minutos na cadeira. Nos primeiros dias no cargo, o presidente estabeleceu com os líderes uma lista de projetos de consenso para votar, mas há reclamações de que a pauta não satisfaz às expectativas.

Das 85 propostas aprovadas, de fevereiro à segunda semana de abril, 35 foram acordos comerciais que, geralmente, não provocam controvérsias no plenário. Contudo, outros projetos estão há semanas no radar sem qualquer perspectiva de votação, como a proposta para custear a CNH de pessoas de baixa renda com multas. Nos bastidores, há quem afirme que Motta ainda parece “deslumbrado” com a sua ascensão fulminante no Legislativo e muito preocupado com sua promoção midiática pessoal, enquanto relega a segundo plano o enfrentamento de questões cruciais que desafiam a atuação do Parlamento. Parte dos críticos avalia que Hugo Motta ainda não compreendeu a responsabilidade do cargo. No período em que foi líder do seu partido, o Republicanos, ele era elogiado por ser uma pessoa do diálogo, que ouvia os colegas de bancada e defendia o acordo. A personalidade permanece, porém deputados identificam a falta de ação na solução dos conflitos. Diz-se que a falta de método para conduzir a Casa incomoda o colegiado – e a ausência do presidente é outro ponto de reclamação.

Em pouco tempo, Hugo Motta empreendeu duas longas viagens – a primeira a convite do presidente Lula para integrar a comitiva que viajou ao Japão e ao Vietnã. Na semana passada, o parlamentar aproveitou o feriado da Semana Santa para viajar com a família. No seu calendário, ainda há uma previsão de viagem em maio, também com o presidente Lula, para a China. Deputados lembram que logo após assumir o comando da Casa Motta definiu algumas regras na tentativa de melhorar o fluxo de trabalho legislativo, como a decisão de iniciar a ordem do dia às 16h. A regra tem sido descumprida e a ausência de método está prejudicando o trabalho de comissões importantes ou estratégicas para o funcionamento da Câmara. Eleito com o apoio de 17 partidos, Motta contou com o apoio do antecessor, Arthur Lira (PP-AL) para negociar promessas de espaços na Mesa Diretora, presidências de comissões e indicações do PT para o TCU. Nada disso avançou concretamente.

O “nó górdio” da gestão do paraibano é mesmo a anistia aos presos por tentativa de golpe de Estado, que se tornou uma bola dividida e imobilizou ofensiva por parte do presidente. No período da campanha, Motta evitou dar declarações públicas sobre o tema, mas integrantes do PL afirmam que internamente houve o compromisso de levar a proposta à votação. Já para o PT o acordo era deixar o assunto de lado e priorizar pautas econômicas, de interesse do governo e que melhorassem o país. Por meio de sua assessoria de imprensa, Hugo Motta rebateu as insinuações quanto ao ritmo lento e lembrou que o tempo foi gasto na criação de comissões especiais vinculadas a projetos. Independente das justificativas de Motta, o sentimento de cobrança alcança a própria sociedade, que deseja celeridade na tramitação de pautas de interesse público na Câmara dos Deputados.