Enquanto as seleções de Brasil e México entram em campo em Samara para o mata-mata das oitavas de final da Copa da Rússia, os dois países vivem situações opostas. Lá, em um regime democrático, ainda que com grandes limitações, o povo escolheu Antonio Andrés Manuel López Obrador, o AMLO, conhecido como “Lula mexicano” para seu presidente, com mais de 53% dos votos. Aqui, o “AMLO brasileiro”, o ex-presidente Lula, amarga a condição de preso político e é vítima de uma trama para impedi-lo de concorrer às eleições.
Na noite de domingo, vivia-se um clima de euforia no México. Por volta das 21h30 locais (23h30 em Brasília), as principais avenidas que levam ao Zócalo (praça histórica da capital mexicana) começaram a ficar congestionadas. A multidão gritava “Obrador, Obrador” e agitava bandeiras do Morena, partido do candidato, e bandeiras vermelhas. No local também está instalado um telão que está transmitindo o jogo entre as duas seleções sob enorme entusiasmo popular. Enquanto isso, no Brasil, uma noite de domingo de silêncio.
O Morena (Movimento Nacional de Regeneração), partido de Obrador, teve uma estratégia de realizar uma forte campanha para a renovação do Congresso mexicano, inspirado pelo desastre da democracia brasileira na qual um parlamento de direita deu o golpe de Estado. A estratégia foi bem sucedida e as primeiras pesquisas indicam que o Morena terá maioria dentr os 500 deputados e 128 senadores, além de ter eleito seis governadores -dos 31 estados do país, nove tiveram eleições para o governo.
A democracia mexicana é permeada pela violência e corrupção política e eleitoral patrocinadas pela elite local, de estilo similar à brasileira. Em 2006, Obrador teve uma eleição roubada. Felipe Calderón, do direitista PAN foi anunciado vencedor com 35,86% dos votos, contra 35,31% de Obrador. O resultado ilegítimo foi seguido por semanas de manifestações, paralisando a Cidade do México.
Combate à violência que massacra o país e à corrupção e mandonismo das elites são prioridades anunciadas pelo “Lula mexicano”, ao lado com combate às desigualdades, à miséria e a uma estrutura econômica que levou o México a abrir mão de sua soberania.
Num tema central para o Brasil e México, a exploração do petróleo, a situação é idêntica, mas de “mãos trocadas”. Eles deverão sair do modelo no qual Temer e Parente estão arruinando o país, e migrar para o modelo de Lula e Dilma.
No modelo mexicano sob os governos de direita, o petróleo é explorado sob a forma de concessão por grandes multinacionais estadunidenses, como Exxon e Chevron, e exportado como óleo bruto para as refinarias localizadas no Texas. Depois, na forma de derivados, é importado pelos mexicanos. O resultado é um superávit comercial de US$ 15 bilhões por ano dos Estados Unidos no comércio energético entre os dois países. Enquanto os mexicanos vendem a matéria-prima, os estadunidenses exportam diesel e gasolina, com maior valor agregado (leia aqui). O modelo Temer/Parente é exatamente o mesmo.
Segundo Rocío Nahle García, que deverá ser a ministra da Energia no governo Obrador, serão revisados os contratos já existentes com as petroleiras internacionais e suspensas todas as licitações previstas pelo atual governo. Ela afirmou ao New York Times: “‘Não podemos entregar de maneira irresponsável nossas reservas petroleiras às transnacionais’ disse recentemente Nahle, engenheira petroquímica de formação, durante reunião com petroleiros de Poza Rica, no estado mexicano de Veracruz. ‘Neste primeiro de julho o povo vai terminar com a pilhagem do México'” (leia aqui).
Serão tempos de tensão no país que já foi dos astecas, como reconhece uma das principais agência notícias do sistema capitalista global, a Reuters, que identifica a apreensão dos “investidores” com um presidente que quer combater a desigualdade social: “López Obrador assume o poder com grandes expectativas e seus esforços para reduzir a desigualdade serão observados de perto por investidores apreensivos” (aqui).
Com a maior população de língua espanhola do mundo, inclusive à frente da Espanha, é a segunda maior economia latino-americana, só atrás do Brasil. Trata-se de um país rico em recursos naturais, uma economia em desenvolvimento e com uma diversidade étnico-cultural enorme. São 120 milhões de pessoas e mais de 67 línguas nativas.
Fonte: Brasil 247
Créditos: Brasil 247