A explicação para a presença de Carlos naquele corso tem origem, avalio, em passagem pouquíssimo investigada; e que se pode resumir assim: determinado pelo pai, concorreu contra a própria mãe, então em busca de se reeleger, a uma cadeira na Câmara Municipal do Rio, e a venceu, tomando-lhe os votos, eleito o mais jovem vereador da história, títere de Jair no desdobramento eleitoral da ruptura do casal Bolsonaro.
Ninguém sai ileso de uma disputa contra a mãe. Ninguém sai ileso de uma disputa — patrocinada pelo próprio pai — contra a mãe. Ninguém sai ileso de uma disputa contra a mãe, patrocinada pelo pai, por votos que eram — que sempre foram — exclusivamente do pai; a árvore frondosa sob a qual não terá sido fácil crescer. Engana-se quem pensa, porém, que um evento como esse perturbe o fruto sem afligir a árvore.
Sim. Jair Bolsonaro tem culpa — este, acredito, o evento fundador. Culpa que manifesta em preocupação publicamente exposta e em cuidados exclusivos com o filho; o que explicaria a reverência em carro aberto tanto quanto a referência carinhosa a Carlos feita pela primeira-dama em seu discurso.
Não é com prazer que se trata de assunto como este. Ocorre que filho de presidente é sempre problema; tanto mais quando três deles têm mandatos eletivos, dois dos quais em Brasília, e declarada — explorada — ascendência política sobre o governo do pai. Já escrevi a respeito. Escreverei muito ainda. Escrevo também porque me parece evidente que, no futuro, a mais precisa crônica sobre esses tempos de bolsonarismo no poder estará na análise da interação entre Flávio, Carlos e Eduardo, e da forma como se relacionarão com o presidente genitor.
O recente episódio sobre a movimentação financeira do ex-assessor de Flávio Fabrício Queiroz é simbólico da cisão fraternal que jogou o primogênito ao mar. Sempre tão beligerantes em defesa da família, Carlos e Eduardo mal se manifestaram a respeito, senão para resguardar o pai e responsabilizar preventivamente o irmão caso algo de comprometedor viesse a ser descoberto — no que foram seguidos pelos divulgadores do pensamento bolsonarista nas redes sociais.
Em governos como em famílias, não raro se necessita mais de sangue que de lágrimas.