O Polêmica Paraíba apresenta nesta terça (30), a segunda entrevista, com os seis pré-candidatos a Prefeito de João Pessoa, no pleito do dia 6 de outubro.
As eleições desse ano tendem a repetir o mesmo esqueleto de 2020, quando tivemos um grande número de candidaturas, dos mais diferentes espectros políticos, disputando o voto dos pessoenses.
A nossa entrevistada de hoje é a Deputada Estadual Cida Ramos (PT). Após ficar na segunda colocação na eleição de 2016, Cida vem amparada por duas ótimas votações nas disputas pela Assembleia, mas terá que primeiro vencer as prévias do PT contra o ex-Prefeito Luciano Cartaxo, para ser a candidata de Lula na capital.
CONISDERAÇÕES INICIAIS
Polêmica Paraíba: Essa será a segunda tentativa da Senhora em ser Prefeita da capital, quais as lições que a Deputada tira daquele pleito de 2016 e que podem lhe ajudar em 2024?
Naquele ano, minha candidatura foi lançada muito tarde, já em junho. Mas foi uma campanha em que cresci, tanto que fui a deputada mais bem votada nas eleições de 2018. Estou mais experiente, mais temperada, enfim, pronta para governar Joao Pessoa no século XXI.
PP: Como um candidato do PT conseguirá furar a bolha da polarização e angariar votos dentre aqueles eleitores de Centro e da Direita moderada?
Não existe “bolha”, no caso do PT e da esquerda. Quem fala em “polo”, fala em atração, não em isolamento. As pesquisas mostram o governo Lula com mais de 60% de popularidade em João Pessoa e o PT com 30% de popularidade. Nossa análise é que já partimos com 10% de intenção e votos e a candidatura do PT tende ao crescimento. Temos projetos para a cidade, conheço a cidade. A expectativa é disputar o segundo turno.
GESTÃO CÍCERO
PP: Quais são as principais falhas da gestão Cicero?
As cidades passam por um momento novo no mundo inteiro. Século XXI, né? São tempos de mudança climática e transição energética. João Pessoa é conhecida como uma cidade verde no mundo inteiro, mas a prefeitura administra a cidade com mais do mesmo, um discurso rotineiro.
Com toda sinceridade, acho a prefeitura de João Pessoa perdida, apenas tocando o cotidiano. Sou de um partido, o PT, e um campo político, a esquerda, que construiu administrações municipais célebres no país. Vejam agora, em São Paulo, o prestígio da administração de Marta (25% consideram Marta a melhor administração da cidade de São Paulo). Em Porto Alegre ou outras cidades também tivemos a experiência do orçamento participativo, na década de 1990. Quem desconhece que a administração de Ricardo Coutinho, aqui em João Pessoa, mudou a face da administração de João Pessoa.
Veja, não se trata de repetir o passado, mas, de, nos novos tempos, construir uma administração democrática, participativa, que seja uma usina de projetos.
PP: A Senhora é uma parlamentar muito ligada à área da educação, qual a opinião da Deputada acerca da educação na capital?
A educação municipal não avançou na atual gestão. Para mim, educação será a prioridade. Em gestões anteriores da prefeitura, a educação avançou mais, havia uma política educacional mais articulada. Os professores precisam se sentir mais valorizados, com aumentos salariais dignos. Minha meta é pagar a melhor hora trabalhada da educação do nordeste. Fazer de João Pessoa uma cidade conhecida pela valorização do magistério e a qualidade de sua educação.
PP: Deputada, qual é na sua opinião, o principal problema enfrentado pelos habitantes da capital?
Antes de tudo, acho que é preciso um diagnóstico global, mais holístico e de totalidade, de João Pessoa; conhecer bem os problemas, planejar, criar, e sempre apontar em direção ao futuro. Vejam o caso do Plano Diretor. A prefeitura operou um corte e cola de 72% de outras cidades. Isso é grave. A ocasião de aprovação do Plano Diretor deveria ter sido aproveitada para mobilizar a sociedade civil, envolver as universidades, reunir os bairros. Nada disso foi feito. A administração, na verdade, tem medo de povo organizado, consciente, uma pena.
Quando partimos de um diagnóstico global, passamos a saber, de acordo com dados do novo Censo, que João Pessoa é hoje a 20ª cidade do país em termos de população. Recebemos, entre 2010 e 2022, uma multidão de 111 mil habitantes. Somos hoje 843 mil habitantes, mais de 1 milhão se envolvermos a chamada Grande João Pessoa.
No entanto, socialmente a cidade padece de muitos problemas. O PIB de João Pessoa é o de oitava capital do nordeste, acima apenas de Aracaju, cidade com menos habitantes. Assim, precisamos administrar o potencial de população da cidade, catapultá-la como ativo para desenvolver e crescer a cidade, mas com qualidade e dignidade para todas e todos.
ARTICULAÇÕES POLÍTICAS
PP: Como a Deputada vê essa disputa com o ex-Prefeito Luciano Cartaxo pela indicação do partido e qual será a tática da Senhora para vencer essas prévias.
Tenho respeito por Luciano, que conheci desde os tempos do movimento estudantil, em 1984, tempos da campanha das Diretas-Já. Fomos, na juventude, da mesma gestão no DCE-UFPB, eu presidente; ele, secretário geral. Nossa disputa, neste momento, é em torno de propostas e para que o PT retorne o lugar que ele merece na Paraíba como o partido mais querido do Brasil
PP: O MDB do Senador Veneziano que formou chapa com o PT nas últimas eleições, parece inclinado a uma composição com Ruy Carneiro, o PT terá uma chapa puro sangue? Isso enfraquece o partido perante as outras candidaturas?
O PT vem forte nestas eleições municipais. É o partido mais popular do Brasil, atestam todas as pesquisas de opinião. Governamos o governo federal. É o partido de Lula, a mais importante liderança brasileira viva. Neste primeiro turno, as eleições em João Pessoa terão candidatos representativos de todo o espectro político, da esquerda à direita. No segundo turno, as composições serão mais amplas. No caso de vencer as prévias no PT, minhas expectativas é unir a esquerda. Seremos uma novidade dessa campanha, pois em campanha anteriores, a esquerda se apresentou desunida.
PROMESSAS
PP: Qual o principal projeto que a Senhora tem para a cidade de João Pessoa?
Boa pergunta. Em alguns debates, tenho falado, para provocar o debate, em tarifa zero. Teve até um interlocutor que falou em “radicalidade” da proposta. Agora mesmo, o prefeito de São Paulo, do MDB, que nada tem de radical, implantou a gratuidade no transporte coletivo no dia de domingo. Não é uma proposta radical, ao contrário é plenamente factível, desde que implementada no âmbito de uma proposta de renovação do conceito de transporte público na cidade.
Não vejo, por exemplo, a discussão seriamente em João Pessoa de mudança da frota para o transporte elétrico. Mais cedo ou mais tarde, é uma discussão que vai percorrer as cidades brasileiras. Veja, a mudança progressista da frota para ônibus elétricos já tem até uma carteira de crédito aberta no BNDES, e foi reforçada na política industrial nos governos Lula. O problema do ônibus elétrico é o investimento na compra da frota – para tanto, é necessário investimento de um banco de fomento –, mas, com o tempo, os custos de manutenção são muito mais baratos que atualmente. Precisamos também pensar, num projeto de infraestrutura, em “vias verdes”.
PP: A Senhora tem um projeto para a orla e Barreira do Cabo Branco? Pois o risco de a Barreira desabar completamente piora a cada ano.
Lutei muito, recentemente, contra a chamada “engorda” da orla de Manaíra. Conseguimos que a prefeitura desistisse do projeto. Foi uma importante vitória da sociedade, principalmente dos movimentos ecológicos. Afora as Universidades, especialmente a UFPB e o IFPB, quero trazer para o debate as contribuições do movimento ecológico, fazer a ligação da erosão da barreira com a crise climática, fazendo ver que é um problema que deve ser encarado como de máxima urgência.
PP: João Pessoa é uma das cidades mais procuradas pelos turistas, quais seriam os projetos da Deputada para pontos turísticos esquecidos, como Centro Histórico e Estação Ciência?
A questão do Centro Histórico é muito grave. Se não for revertida na próxima gestão, assistiremos nos próximos anos o fim do Centro Histórico e a formação de ruínas. É grave assim. É muito grave porque o Centro Histórico é a nossa identidade. Sem Centro Histórico vivo, João Pessoa pode se transformar em uma cidade sem identidade, e cidade sem identidade não existe como cidade. Neste sentido, não haverá solução para o Centro Histórico sem transformá-lo em uma área de habitação, um bairro com pessoas morando, comércio, serviços, criação de uma subprefeitura do Centro Histórico, etc.
PP: O que os pessoenses podem esperar da sua possível gestão?
A renovação da cidade. Sair da mesmice. Pretendo governar com toda a cidade. Vou renovar profundamente os métodos e práticas da gestão, que serão transparentes. Vou empoderar a sociedade, respeitar as leis, a constituição, reconstruir um orçamento democrático realmente democrático. Vou fazer João Pessoa entrar nos tempos da transição energética, abrir a cidade a tecnologias sustentáveis, renovar nossos parques, cuidar da orla e da periferia. João Pessoa precisa de uma mulher na prefeitura para mudar a cidade.
Enfim, pretendo retornar o sentido do público, do respeito ao espaço público e à coisa pública, da participação cidadã, que se perdeu na política paraibana.
Fonte: Vitor Azevêdo
Créditos: Polêmica Paraíba