A análise de 9,5 entre 10 militantes de esquerda é a que Bolsonaro é fascista. Alguns falam a palavra com a boca bem cheia pra que não haja dúvidas. Ou seja, há consenso sobre o nome que se dá à doença democrática que o país vive. Mas na hora de discutir o tratamento, cada um recorre à sua poção mágica.
O nível de consenso na construção de frentes progressistas para buscar derrotar candidatos vinculados ao bolsonarismo (ou seja, ao projeto fascista) é insignificante. Mesmo em capitais onde houve avanços, como em Porto Alegre, o PSOL não apoiará Manoela D’Ávila e terá candidatura própria.
Mas por que essas eleições de 2020 precisariam ser discutidas numa chave mais séria do que “preciso fortalecer o meu partido”? Porque seus resultados podem dar a Bolsonaro uma legitimidade e uma quantidade de aliados muito maior para fazer avançar seu projeto original, que é o de atropelar as instituições, fechando conselhos, tirando autoridade de reitores e intervindo em universidades, ampliando a militarização da educação, nomeando ministros do STF extremistas com apoio do Senado, processando jornalistas e perseguindo veículos.
Se Bolsonaro sair mais forte após 15 de novembro, ele vai capturar o que resta do tal centro para o seu projeto autoritário. Prefeitos que se elegeram com ele e deputados que elegeram prefeitos por conta do apoio dele, não lhe negarão apoio pra marcha contra os “inimigos” do seu projeto e já lhe erguerão nos braços rumo a 2026.
Evidente que o campo progressista terá muita dificuldade na disputa contra o bolsonarismo mesmo em frentes amplas ou mais à esquerda. O vento no momento bate a favor del capo. Mas é possível fazer oposição de forma mais inteligente se as peças disponíveis no tabuleiro forem mexidas sem personalismos e a partir de um olhar mais coletivo.
É possível derrotar o bolsonarismo se a esquerda conseguir levar uns 7 ou 8 candidatos com chances nas capitais para o segundo turno, o que permitiria negociar com partidos que ainda não subiram no colo do bolsonarismo e que têm interesse em enfraquecê-lo uma troca de apoios num segundo turno.
Se a esquerda tiver que decidir entre Bruno Covas e Celso Russomanno num segundo turno ou Eduardo Paes e Marcelo Crivella, para que lados a decisão penderá na opinião do caro leitor? Pois é. A decisão pode ser pior se os partidos progressistas não tiverem nem contrapartidas a pedir ao DEM e ao PSDB, em Porto Alegre, Salvador, Recife, BH etc.
A eleição é local, mas a estratégia de disputa não pode ser local. Ela tem que ser vinculada aos melhores caminhos pra no mínimo empatar com o bolsonarismo. Sim, o empate às vezes é uma vitória.
Se o time adversário tem melhores condições, não é inteligente jogar completamente no ataque. É preciso armar o jogo de maneira cuidadosa pensando em adiar a decisão pra ver se algo novo não acontece.
Se o campo progressista conseguir impedir uma vitória consagradora de Bolsonaro a crise que pode se tornar avassaladora em 2021 pode vir a torná-lo um candidato fraco para 2022.
É este o jogo que precisa ser armado agora. É preciso sobreviver ao atual tsunami elegendo uma importante quantidade de prefeitos e vereadores que estarão ao lado do povo e da democracia para aproveitar as oportunidades que podem surgir.
Não é hora de lançar candidatos pensando em coeficiente eleitoral ou em apresentá-los para numa futura disputa serem mais conhecidos.
Isso é de uma imensa irresponsabilidade que pode nos levar a um futuro dramático. Não se faz oposição apenas olhando para o umbigo. É mais do que chegada a hora de nossas lideranças caírem na real ou podem ter de amargurar um 2021 ainda pior do que o 2020 do ponto de vista político.
Fonte: Fórum
Créditos: Renato Rovai