Porque quem define governo é quem escolhe e comanda os ministros.
Mesmo assim, vale a pena ver o cada um dos indicados por Dilma para o “meio” Ministério anunciado hoje representa.
Há os inexpressivos na macropolítica- o que tanto pode ser fonte de problemas quanto de boas surpresas – mas que correspondem à necessidade de representar a base e apoio no Congresso e à reafirmação de compromissos com movimentos sociais. É o caso de George Hilton, deputado do PRB, ligado ao fiel senador Marcelo Crivella, de Vinícius Lajes, do Turismo, de Nilma Lino Gomes (elogiada intelectual do movimento negro) e Valdir Simão, um auditor da Receita com fama de “durão” (que ótimo!) em matéria de regularidade administrativa e que já apagou incêndios).
Também temos os nem tão inexpressivos, mas que correspondem a “cotas”, como Edinho Araújo, escolha pessoal de Michel Temer para a Secretaria de Portos. Helder Barbalho, jovem cotista do velho Senado e José Feijóo, sindicalista próximo a Lula e a Gilberto Carvalho, para trazer a CUT para o Governo e reaproximar o Ministério do Trabalho do movimento sindical.
Daí em diante, cada ministro tem um papel pré-definido.
Eliseu Padilha será o Secretário de Aviação Civil com destino certo: aproximar a bancada do PMDB. E o PMDB gaúcho, especialmente, seção que não tem um governador peeemedebista, como outros, com qualquer interlocução com o governo.
Sua importância será definida por dois fatores: o primeiro é se haverá enfrentamento a Eduardo Cunha; o segundo, se houver, o quanto ele será capaz de anular a máquina do deputado fluminense.
Pepe Vargas compõe de vários lados: é bom formulador legislativo, representa o PT gaúcho e compõe as “tendências” internas do PT.
Kátia Abreu é o quinhão do agronegócio e responsável por zelar para que não seja total a guerra da bancada ruralista ao Governo, até porque rivaliza com Ronaldo caiado.
Gilberto Kassab, a tentativa de manter com o Governo os 37 deputados do PSD.
Aldo Rebelo, a composição histórica com o PC do B e um nome que não cria problemas nem é dado a radicalizar.
Daí em diante, as novidades:
Miguel Rosseto mantém a nitidez ideológica na Secretaria Geral da Presidência, embora vá assumir um papel de coordenação mais intenso que o destinado a Gilberto Carvalho no primeiro mandato. Será, na prática, um segundo chefe da Casa Civil.
Cid Gomes parecer ser a cota de enfrentamento, fonte de polêmicas e, na prática, a volta do Ministério da Educação para o plano do debate. Não haverá “mar tranquilo” para o Governo Dilma nesta área. Ainda bem, porque de gente de fala mansa e bons modos a Educação foi ficando para trás.
Jacques Wagner na Defesa é uma equação que só se poderá resolver quando se souber o destino de Celso Amorim, cuja volta ao Ministério das Relações Exteriores é especulada.
Se ele voltar, o Brasil retoma a tradição de ter um chanceler politicamente forte e de posições publicamente claras, recolocando o peso no Itamaraty nas suas devidas proporções.
Resta saber se – com todo o respeito e sem comparações de caráter – Jaques Wagner será um ministro da Defesa com semelhanças com Nélson Jobim: político, capaz tanto de conversas parlamentares como de polêmicas públicas.
O meio Ministério anunciado por Dilma é, portanto, assim, meio…
Corresponde – com limitações na própria realidade – á necessidade urgente da Presidenta de compor uma maioria parlamentar necessária, e muito, no peeríodo difícil que está criado.
Mas é, como dizia um antigo locutor esportivo, pouco, muito pouco, pouco mesmo para assegurar que este seja um governo novo, de ideias novas, o que corre por conta, quase que exclusivamente, da capacidade da própria Dilma de ser o governo.
Porque a política, no Brasil, ficou velha, muito velha, velha mesmo, na pior acepção que pode ter o envelhecer: tornar-se mesquinho, cheio de vícios e em nada aberto para absorver o novo.