Desde outubro, Izabel Maria Tavares Silva, de 50 anos, esperava uma vaga na Fazenda Santa Irene, em Bebedouro, no interior do Estado de São Paulo. Em 13 de junho, ela começou na colheita da laranja. A produção da fazenda neste ano deve atingir 30 mil caixas (de 40,5 quilos), 10 mil a mais que a de 2016. Nos últimos meses, o clima favoreceu a citricultura nacional. A safra de 2017 será de 364,47 milhões de caixas, a maior em cinco anos. Também ajudou Izabel a realizar o sonho de ter um emprego com carteira. “No passado, já tinha trabalhado com a laranja aqui. Mas deu uma seca e mandaram todo mundo embora.”
O desempenho favorável da agropecuária e da indústria, especialmente de setores ligados à exportação, garantiu que Izabel e outros trabalhadores voltassem ao mercado. No 1.º semestre, entre demissões e admissões, 67.358 vagas com carteira foram abertas. Foi o primeiro resultado positivo em dois anos para o período. Também mais de 50% dos Estados – 14 de 26 – tiveram saldo positivo de emprego entre janeiro e junho. No Distrito Federal (DF), houve queda. No mesmo período de 2016, só quatro Estados estavam no azul, aponta um estudo do economista da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes, com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A maioria dos Estados que encerraram o semestre com saldo positivo de emprego está no Centro-Sul, exceto o Rio de Janeiro – onde foram destruídas 65,5 mil vagas – e o DF (mais informações abaixo). “Há um corte claríssimo entre o Centro-Sul e o Norte/Nordeste, onde a situação está muito ruim”, disse.
Bentes ponderou que o resultado positivo do 1.º semestre é ainda tímido, cerca de 10% do saldo de vagas abertas no mesmo período de 2014, o último positivo. “Mas, de fato, estamos diante de um início de recuperação: 2015 e 2016 foram anos de fechamento líquido de vagas.”
Para o professor da Universidade de São Paulo Hélio Zylberstajn, o emprego formal parou de piorar no 1.º semestre. “Houve estabilização e isso já é uma baita boa notícia.”
Ele sustenta a opinião mostrando que, se forem expurgadas as vagas da agricultura, o saldo de postos dos demais segmentos de janeiro a junho deste ano foi negativo em 49,7 mil, muito inferior ao do mesmo período de 2016 (-621,7 mil), na mesma base de comparação.
Estados com agropecuária e indústria fortes conseguiram terminar o semestre com saldos positivos. O estudo da CNC confirmou a interiorização do emprego. No ranking das 20 cidades que mais geraram vagas no 1.º semestre só consta uma capital, Goiânia (GO). “Nenhuma das nove regiões metropolitanas teve saldo positivo no emprego”, disse Bentes, argumentando que a agropecuária e a indústria estão fora desses locais.
Interior. Localizada no interior de São Paulo, Franca lidera a lista de cidades que mais geraram emprego. O saldo de vagas foi de 6.001 vagas no 1.º semestre. Dessas, 4.710 são da indústria do calçado, praticamente o mesmo número do 1.º semestre de 2016. “O fato de o emprego ter ficado estável já está bom, parou de piorar”, disse presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca, José Carlos Brigagão do Couto.
Voltada para o sapato masculino, a indústria de Franca é sazonal: demite no último bimestre do ano e contrata no 1.º trimestre. Neste ano, o déficit entre as demissões do último bimestre de 2016 e contratações do 1.º trimestre foi o menor desde 2012. Neste ano, a sazonalidade do emprego está mais favorável porque as exportações no 1.º semestre subiram 2,12% em pares e 16,83% em dólar, por causa de novos mercados.
A reação do emprego com carteira, segundo Bentes, deve ser o lastro para a melhora do consumo nos próximos meses. Animada, Izabel, que acaba de se empregar na colheita de laranja, faz planos: “Tenho uns trenzinhos meio velhinhos, que a gente quer renovar: fogão, armário. Mas só mais para frente”.
Fonte: Estadão