Não contente com o exílio de Jean Wyllys, o governo Bolsonaro agora abre uma temporada de agressão internacional ao ex-deputado e ativista. Em reunião na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, nesta sexta-feira (15), a embaixadora do Brasil, Maria Nazareth Farani Azevedo, agrediu Jean Wyllys e recusou-se a ouvi-lo, para espanto dos diplomatas presentes a um debate sobre “o populismo no mundo”. Depois de sua apresentação, Wyllys foi aplaudido de pé.
O ex-deputado federal, que deixou o Brasil após receber inúmeras ameaças de morte, foi convidado a falar em um debate sobre o populismo no mundo.
Causou estranheza o comportamento da embaixadora Maria Nazareth Azevedo. Ela foi chefe de gabinete do ex-chanceler Celso Amorim, e é casada com o diplomata Roberto Azevedo, diretor da Organização Mundial do Comércio. Sua defesa veemente do governo de Jair Bolsonaro destoam da conduta esperada de um diplomata. Tanto que um princípio no Itamaraty é de que “os diplomatas devem servir ao Estado, não apenas a governos, tanto que as designações precisam ser aprovadas pelo Senado.”
O jornalista Jamil Chade acompanhava a reunião e reproduziu em sua coluna no UOL o ocorrido.
“Os novos autoritarismos são os velhos autoritarismos agora articulados com as características próprias da contemporaneidade”, disse Wyllys, em seu discurso. “Novos autoritarismos, como o do Brasil, continuam elegendo inimigos internos da nação por meio da difamação e constituindo grupos para culpá-los pelos problemas econômicos”, afirmou.
Ao explicar a vitória de Bolsonaro, conta o jornalista, ele apontou como “a campanha havia sido baseada na disseminação de fake news e no discurso de ódio”.
Maria Nazareth Farani Azevedo, a embaixadora do Brasil na ONU, não estava na sala no momento do discurso e, em toda a semana, não apareceu em nenhum dos eventos organizados por ONGs para tratar da situação no Brasil. Mas, nesta sexta-feira, ela entrou no local, depois de o evento já ter sido iniciado.
O jornalista Jamil Chade ainda relata que ela pediu a palavra e começou a proferir ataque a Wyllys. “Ele não cuspiu na cara da democracia”, disse a embaixadora, numa referência aos incidentes no dia do impeachment de Dilma Rousseff e sem mencionar que Bolsonaro teria elogiado um torturador. “Ele escolheu os votos, a eleição e o diálogo”, declarou.
Ela ainda acusou Wyllys de “abandonar” seus eleitores. “Não tem credencial para falar sobre democracia. Vergonha daqueles que escolheram o palco da ONU para disseminar fake news”, atacou.
Mas um dos membros estrangeiros do debate, Jamil Daka, alertou: “a senhora não quer ouvir a resposta dele?”
A embaixadora rebateu: “só se eu tiver direito de responder de novo”.
“Não é assim”, contra-atacou o participante.
“Não? Então vou [sair]”, completou a embaixadora.
Neste momento, Jean Wylly tomou o microfone.
“Se a senhora quisesse um debate, ouviria minha resposta. Minha presença amedronta a senhora e seu governo”, atacou, lembrando justamente do noticiário que aponta para, segundo ele, “ligações” entre a família Bolsonaro, organizações criminosas e mesmo o assassinato de Marielle Franco (PSOL).
Ela então, antes de deixar a sala, respondeu. “Não amedronta. Envergonha”.
Na sequência, Wyllys terminou seu discurso e foi aplaudido por todos na sala. Algumas pessoas chegaram a aplaudi-lo de pé.
Jamil Chade encerra seu relato lamentando o fato: “Em 20 anos cobrindo a ONU, jamais vi o Brasil protagonizar uma cena tão triste como a que a embaixadora do governo Bolsonaro promoveu hoje. O Itamaraty, contaminado por um vírus extremamente perigoso: o da intolerância”, declarou.
Assista, conforme publicado no Twitter do jornalista Jamil Chade:
Barraco na ONU promovido pela embaixadora do Brasil que se recusou a ouvir a resposta de Jean Wyllys. pic.twitter.com/kB8XP8TByv
— Jamil Chade (@JamilChade) 15 de março de 2019
Fonte: Brasil 247
Créditos: Brasil 247