"Não Menti"

Em coletiva, Cunha diz estar 'absolutamente convicto' de que não mentiu à CPI

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O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta terça-feira (21), em entrevista coletiva realizada em um hotel de Brasília, que está “absolutamente convicto” de que não mentiu sobre contas no exterior. Foi a primeira entrevista do presidente afastado depois de mais de um mês sem fazer pronunciamentos à imprensa.

A declaração foi dada após Cunha sofrer um revés político no Conselho de Ética da Câmara na semana passada, quando o colegiado aprovou parecer que pede a cassação do mandato dele. Segundo o parecer, Cunha quebrou decoro parlamentar ao ter mentido sobre não ter contas secretas no exterior.

“Eu estou absolutamente convicto de que não menti  […] Então eu fui à CPI muito convicto de que eu não tinha conta. Minha esposa , ela detinha conta, inferior a cem mil dólares, não tinha que se declarar. Essa é a discussão que será comprovada no processo. Minha esposa não tinha offshore, não tinha truste, ela tinha conta e a conta estava dentro do padrão do Banco Central. Ela tinha a cada 31 de dezembro do ano, saldo inferior a cem mil dólares por isso não era obrigada a declarar”, argumentou Cunha.

Ele também reclamou que a sua defesa tem sido cerceada desde que teve o seu mandato suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e parou de frequentar a Câmara. Ele afirmou que, diante disso, pretende dar entrevistas com regularidade para “expor ao debate” e dar a sua “versão dos fatos”.

“Isso, de certa forma, tem prejudicado em muito não só a minha versão dos fatos, a minha defesa, como a comunicação”, disse. E acrescentou: “Resolvi prestar satisfações diretamente, me expor ao debate, me expor às entrevistas, porque há um nítido cerceamento de defesa e a falta de comunicação é um deles”.

Com o mandato parlamentar suspenso desde o dia 5 de maio pelo STF, Cunha está proibido de circular pelos corredores da Câmara há um mês e meio – por isso, a coletiva precisou ser marcada fora da Casa. Ele é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Após dizer que a defesa sofre um cerceamento, Cunha fez uma apresentação sobre sua trajetória na Câmara dos Deputados durante os governos petistas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente afastada Dilma Rousseff. Cunha explicou como passou a fazer oposição ao governo de Dilma.

De acordo com Cunha, os primeiros desentendimentos dele com Dilma Rousseff aconteceram quando o deputado foi eleito líder da bancada do PMDB na Câmara.

“Naquele momento [em 2014], já começou a presidente afastada Dilma a interferir no processo da liderança do PMDB na Câmara. O governo era contra a minha eleição, mas mesmo assim eu venci”, expôs Cunha.

Conversas com Jaques Wagner

O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta terça-feira (21) que o então ministro da Casa Civil Jaques Wagner ofereceu a ele os três votos do PT no Conselho de Ética, onde o peemedebista era alvo de investigação, em troca de não deflagrar o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

Segundo Cunha, Wagner disse ainda que teria “controle total” sobre o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA).

“Nos três encontros [que tivemos], o Jaques Wagner ofereceu os votos do PT no Conselho de Ética e inclusive, chegou ao ponto de oferecer, que não iriam incluir nenhuma discussão sobre a presença da minha mulher e da minha filha, com a separação do inquérito no qual eu já estaria respondendo. Quem estava propondo era o governo, não era eu, além de soar como chantagem”, afirmou Cunha.

Protesto

Enquanto Eduardo Cunha fazia declarações à imprensa, um grupo de dez manifestantes com cartazes e cornetas fizeram um protesto em frente ao local da coletiva.

Os manifestantes exibiam faixas com as mensagens “Fora Cunha”, “Fora Temer” e “Fora golpistas”. O barulho das cornetas era ouvido na sala em que o presidente afastado da Câmara deu a entrevista.

Conselho de Ética

Na semana passada, o parecer do relator no Conselho de Ética, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), pela cassação, foi aprovado por 11 votos a 9.

O placar surpreendeu até mesmo adversários do presidente afastado, que não contavam com os votos contrários a Cunha do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que mudou de ideia na última hora, e da deputada Tia Eron (PRB-BA), que só se posicionou no instante final.

No conselho, Cunha respondeu a um processo por quebra de decoro parlamentar pela suspeita de ter ocultado contas bancárias secretas no exterior e de ter mentido sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras, no ano passado.

Ele reiteradamente repete que não é dono de conta no exterior, mas apenas o beneficiário de recursos geridos por trustes, entidades jurídicas formadas para administrar bens e dinheiro.

O prazo para a defesa dele recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da votação no Conselho de Ética vai até esta quinta-feira (23).

Processos

Cunha já é réu no Supremo pela acusação de ter recebido US$ 5 milhões de propina resultante de contratos entre a Petrobras e as empresas Samsung Heavy Industries e Mitsui. Ele nega ter recebido propina.

Na semana passada, o Banco Central informou ao Conselho de Ética da Câmara ter multado Cunha e a mulher dele, Cláudia Cruz, em R$ 1,13 milhão por não terem declarado recursos no exterior à Receita Federal entre 2007 e 2014. Cabe recurso da defesa.

Nesta semana, os ministros do STF devem decidir ainda nesta semana se aceitam outra denúncia oferecida pela Procuradoria pelo suposto recebimento de 1,3 milhão de francos suíços para viabilizar a aquisição de um campo de petróleo em Benin (África), pela Petrobras.

O dinheiro teria abastecido contas do presidente afastado e da mulher dele, Cláudia Cruz, no exterior. Em sua defesa, Cunha alega que não era titular das contas e que as transferências foram referentes ao pagamento de um empréstimo.
Créditos: G1