Matéria publicada nesta sexta-feira (15) no El País, comenta que o processo de impeachment que levou à renúncia de Fernando Collor de Mello em dezembro de 1992 parecia único. A cada pedido de impeachment engavetado durante as presidências de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva reforçava-se a impressão de que a política brasileira pós-ditadura havia se afastado de maiores sobressaltos e deixado sem uso o instrumento mais radical de sua Constituição. Vinte e quatro anos depois, contudo, o caldeirão formado por erros políticos, crise econômica e um implacável presidente da Câmara dos Deputados que busca sobreviver a um escândalo de corrupção que ameaça tragar boa parte do sistema político chega ao ponto de ebulição nesta sexta-feira. Às 8h55 começa oficialmente o processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff, que culmina com a votação aberta dos 513 deputados da Câmara nesta domingo.
Segundo a reportagem do jornal espanhol, mesmo acostumada a escândalos, Brasília surpreendeu o público brasileiro em sua atual temporada, com reviravoltas frenéticas que tornaram as comparações com seriados norte-americanos como House of Cards um clichê. Na disputa pelo poder, Dilma Rousseff e o candidato derrotado por ela no segundo turno de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), ganharam a companhia do habilidoso Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que atingiu protagonismo ímpar na história dos presidentes da Câmara. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), surgiu na sequência do rompimento de Cunha com o Governo, como escudo protetor de Dilma no Senado. Mas as peças do jogo mudavam praticamente a cada semana, sempre que a Operação Lava Jato virava o tabuleiro.
El País conclui que assolada pelas investigações de corrupção na Petrobras, que envolveram desde os maiores empreiteiros com obras estatais até membros de seu partido e de sua base apoio, Dilma não soube lidar com aliados instáveis e indócis, que começaram a se rebelar ainda em seu primeiro mandato. Em fevereiro de 2015, um mês após a sua posse, enveredou por uma estratégia de tentar enfraquecer o maior aliado, o PMDB, de quem se via refém. Perdeu e criou seu maior inimigo, com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara naquele mês.
Fonte: El País
Créditos: Jornal do Brasil