Data vênia, doutor Marcelo Queiroga, pede para sair. O senhor está sendo publicamente desmoralizado, desautorizado e ridicularizado pela chefia. O cargo vale tanto assim? Um cargo que não tem mando, mas é desmandado. Numa nova versão de que um manda e outro obedece, doutor Queiroga, será que vale mesmo a pena? Emprestar o seu jaleco, o seu título de doutor para negar o que o senhor mesmo disse ao país, diante da CPI da Pandemia: a favor do distanciamento, uso de máscara, higiene das mãos frequente com sabão, álcool em gel e vacinação.
O capitão perdeu o rumo. Na fala dele em que anuncia o fim do contágio – equivalente a dizer que não precisa de máscara quem já se vacinou e que já teve a doença. E a reinfecção? Num tom de fala que tenta ser irônico, e visivelmente defensivo – os sinais faciais não enganam – a tensão estava lá. Muita raiva na cara do capitão.
Sem qualquer fundamento científico, o capitão tenta e insiste que está acima da lei. Se a lei e a ciência determinam o uso de máscara como barreira física para reduzir a contaminação pelo coronavírus, que se dá por via aérea, e ele não usa máscara, então mude-se a lei. A decretação, que tem apenas a força de uma bravata, não possui qualquer amparo legal.
Não cabe ao capitão decretar o fim da pandemia – sonho que acalenta – e tampouco “esse tal de Queiroga”, como apresentou o ministro da Saúde, na solenidade em que anuncia um parecer na linha negacionista.
A temeridade que é a tentativa de orientar a população na direção oposta àquela que todas as autoridades sanitárias do mundo recomendam: o uso de máscara. É mais um esforço num rumo obscuro. Qual é o porto ao qual se dirige o capitão com a sua nau?
O doutor Queiroga é o sujeito oculto de um discurso do capitão, que usa o seu meio ministro para tentar, mais uma vez, confundir a população, expondo-a a riscos que continua negando. Tentou apagar o número de mortos. Usou uma conta feita por um auditor, felizmente descoberto nas suas intenções e afastado do cargo. Infelizmente não é possível ressuscitar as milhares de vítimas que sucumbiram ao que agora é mais do que óbvio: a omissão e o negacionismo.
O telegrama feito público pela imprensa, de que a Pfizer criou todas as condições em agosto do ano passado, recorrendo inclusive à embaixada brasileira, para que o governo desse uma palavra – uma única resposta para garantir a entrega de imunizantes que pudessem ajudar a conter a pandemia no Brasil – foi mais uma demonstração, como se fossem necessárias mais e mais, para provas do descaso, da incúria, da inépcia, do negacionismo.
Agora, mais essa.
Doutor Queiroga, pede pra sair. Por sua história. Por sua biografia. A nau dos insensatos pode ter outra tripulação que não se escore num diploma de médico.
A ligeireza do capitão em pedir ao primeiro-ministro da Índia insumo para empresas de seus amigos indica o estilo de governar. Um estilo que, infelizmente, vem sendo aceito e coonestado por uns e outros.
As falácias em que se baseiam as luminares orientações do capitão pretendem engabelar os desavisados e os anestesiados pela retórica confusa. Um pouco de inveja dos Estados Unidos, onde as pessoas tiram a máscara em locais abertos, ao ar livre. Esquece que naquele país estão morrendo muito menos pessoas, que quase metade de toda a população já está vacinada. E que aqui no Brasil estamos vendo chegar uma nova onda da doença, com mais mortes. São quase 500 mil! E que chega o inverno, época do ano em que a disseminação de doenças respiratórias é maior.
O senhor, doutor Queiroga, já deve ter entendido qual é a regra do jogo. Vassalagem sem limite. E o senhor, douto, tem o limite por juramento, com a medicina. Pede sair.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraiba
Fonte: UOL / Olga Curado
Créditos: UOL / Olga Curado