As eleições para a presidência da Câmara acontecem nesta segunda-feira (1º) e, até agora, o cenário ainda é indefinido. Nessa reta final de campanha, as duas principais candidaturas – de Arthur Lira (PP-AL) e de Baleia Rossi (MDB-SP) – estão mais preocupadas em evitar dissidências e traições. Publicamente não admitem, mas ambos trabalham com um cenário de disputa palmo a palmo em dois turnos e vitória final apenas no segundo turno, embora Lira tenha crescido na última semana.
Lira é o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e aposta em uma campanha crítica à atuação do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Meu principal compromisso é este: livrar a Câmara do personalismo e devolvê-la a cada parlamentar, que será ouvido, terá sua opinião levada em conta e terá espaço para debater”, disse em um vídeo de campanha.
Baleia Rossi é o candidato apoiado por Maia. Ele acusa o Planalto de jogar pesado na distribuição de cargos e benesses em troca de votos para Lira. E aposta em uma campanha anti-Bolsonaro, capaz de assegurar a permanência dos partidos de esquerda a seu lado. Uma das bandeiras de campanha do emedebista é a de que não irá ignorar os pedidos de impeachment que estão na gaveta da Câmara.
“Eu tenho um compromisso com a Constituição. Como presidente da Câmara dos Deputados, nosso compromisso é fazer a análise de todos os pedidos, dentro do que diz a lei”, disse Baleia.
Blocos quase formados. Mas, e os dissidentes?
O bloco de Baleia tende a ficar com o apoio formal de 9 partidos: PT, MDB, PSB, PDT, Solidariedade, PCdoB, Cidadania, PV e Rede. O DEM estava com Baleia até ontem, mas resolveu ficar neutro em ato tido como um forte revés ao candidato e a Rodrigo Maia. Agora, Maia diz a aliados avaliar acatar um pedido de processo de impeachment contra Jair Bolsonaro em seu último dia no cargo. O PSDB também pode não apoiar mais Baleia oficialmente.
Já Lira tende a ter o apoio oficial de ao menos 10 legendas: PP, PL, PSD, Republicanos, PROS, PSC, Avante, Patriota, PTB e PSL.
Como a votação é secreta, são esperadas dissidências nos dois grupos. “É difícil imaginar hoje um líder partidário que consiga unanimidade. Com o voto secreto, então, a coisa complica”, analisa o cientista político Ricardo Ismael, da PUC do Rio de Janeiro.
Baleia disse esperar 40 votos de deputados de partidos que apoiam Lira. “Nós contabilizamos de 36 a 40 votos de parlamentares que estão no bloco do nosso adversário, mas que entendem que nossa candidatura representa a defesa da democracia e aquilo que eles querem para a Câmara”, disse.
São vários os partidos em que o apoio a Lira ou Baleia não são uma unanimidade. No próprio DEM, de Rodrigo Maia, há um grupo de deputados da Bahia que defende o candidato do Planalto. Uma das maiores surpresas para o grupo de Baleia e Maia é que o DEM na Bahia deve votar em peso a favor de Lira. O grupo era tido como fiel a Maia pela proximidade entre este e o presidente nacional da sigla, ACM Neto.
Maia tenta frear a dissidência. Declarou na semana passada que 22 dos 32 deputados do DEM devem votar em Baleia. Ele atribuiu a debandada da bancada baiana a uma tentativa de Lira de “criar conflito interno”.
O Solidariedade também tem movimentos a favor de Lira, apesar de tender a ficar com o bloco de Baleia. O PDT está na mesma situação: tende a ficar no bloco de Baleia, mas pode ter dissidências em favor de Lira. O deputado Alex Santana (PDT-BA), é um dos membros da sigla que apoia o candidato do presidente Bolsonaro.
O PSB também está rachado e Baleia chegou a ir a Pernambuco para visitar o governador Paulo Câmara (PSB) a fim de conter traições. Felipe Carreras (PE) e Júlio Delgado (MG) estão entre os que preferem Lira.
O PSL já integrou o grupo de Baleia, mas acabou mudando de lado para apoiar Lira. Porém, o martelo parece não estar batido definitivamente e ainda podem ocorrer mudanças. A direção nacional da legenda ameaça expulsar os dissidentes.
Segundo a analista política da Ética Inteligência Política, Hannah Souza, PL e PSL têm interesse na mesma vaga, o que pode causar atritos na base de Lira. “Marcelo Ramos (PL-AM) que era uma pessoa muito próxima do Maia acabou sendo cogitado como vice-presidente e, agora, os pesselistas querem essa vice-presidência também”, explica.
O cientista político Leonardo Barbosa e Silva, da Universidade Federal de Uberlândia, também chama a atenção para o impacto, no PT, da divulgação da introdução do livro do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB), que aponta a participação de Maia e Baleia nas articulações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Os petistas integram formalmente o bloco de Baleia.
“Não sei que impacto vai ter dentro da base do Baleia a notícia sobre o livro do Eduardo Cunha”, diz Silva. “Eu ficaria de olho no PT. No PSL, também”, acrescenta.
Vantagens incertas
Ainda não há um consenso sobre quem tem vantagem na disputa. Os dois principais candidatos dizem ter chances de vitória no dia 1º de fevereiro. Mas não é bem assim. Para vencer no primeiro turno o candidato teria que obter 257 votos.
Maia admitiu, na segunda-feira (25), que estima cerca de 230 votos em seu candidato e menos de 200 votos para Lira. O presidente da Câmara estima que a candidatura de Fábio Ramalho (MDB-MG) deve “roubar” cerca de 50 votos do candidato do Planalto no primeiro turno da eleição.
“Imagino que a articulação que foi feita pelo Maia em torno do Baleia seja um pouco mais sustentável, um pouco mais segura”, aposta Silva. “O cenário ainda está muito nebuloso, mas hoje eu imagino que o Baleia tem um pouco mais de controle sobre a base dele”, completa o cientista político.
Hannah Souza, no entanto, tem outra opinião: “Hoje eu acredito que quem está mais à frente é o Arthur Lira.” A analista destaca que o apoio formal do PSL foi importante para o bloco do candidato do Planalto.
“Acho que o Baleia Rossi, que teve todos os holofotes quando foi lançado, passa a dar um pouco mais a impressão de que não está conseguindo o resultado que esperava”, concorda Ricardo Ismael. Para ele, o voto secreto e o clima desfavorável ao impeachment de Bolsonaro na Câmara favorecem Lira.
Ismael destaca, ainda, outro componente que pode dar vantagem a Lira. “Há uma especulação de uma possível reforma ministerial depois da eleição da Mesa Diretora das duas Casas [Câmara e Senado]. Claro que a vitória do Arthur Lira favoreceria que o centrão pudesse ocupar ainda mais cargos no governo”, avalia o cientista político.
Além de Baleia e Lira, há outros seis deputados que afirmaram que vão registrar candidaturas: Fábio Ramalho (MDB-MG), Alexandre Frota (PSDB-SP), André Janones (Avante-MG), General Peternelli (PSL-SP), Luiza Erundina (PSOL-SP) e Marcel van Hatten (Novo-RS).
Erundina deve ter um apoio rachado dentro da própria bancada, de 10 deputados. A decisão de lançar a candidatura de Erundina não foi unânime entre seus deputados, mas imposta pela direção da sigla. Na semana passada, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) pediu aos parlamentares da esquerda “reflexão” no momento de votar, para evitar uma vitória de Lira no primeiro turno.
Van Hatten deve ter o apoio da bancada do Novo. As demais candidaturas ainda não contam com o apoio de blocos partidários ou frentes parlamentares.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba