Nos últimos anos, eventos recentes destacam a situação delicada na qual o Governo está inserido. A começar por alguns exemplos. Após ser derrubada por meio de veto presidencial, devolução de medida provisória que tinha a possibilidade de render bilhões em impostos, empresário com forte atuação no mercado cita “desgoverno”, ministro incriminado pela Polícia Federal, além do avanço da agenda parlamentar conservadora.
Com base nesses acontecimentos, José Dirceu relata: “Governar nas condições do presidente Lula é quase impossível”.
Os motivos de tanta dificuldade, de acordo com o político, são três, o primeiro sendo o perfil conservador do Congresso, a intensidade da ideologia da extrema-direita, além da crise de segurança em consequência do poder do crime organizado. Dirceu evidencia ainda, mais uma adversidade, um elemento presente há tempos no país: “As elites brasileiras abandonaram o Brasil”.
José defende a ideia de uma espécie de “pacto” com parte dessas elites, com foco em todas as pertencentes do setor produtivo, como a indústria e o campo (rural). Em 11 de junho, o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, em um almoço com a bancada parlamentar ruralista, comentou o seguinte:
“Eu não quero falar com o presidente Lula. Eu me recuso a falar com o presidente Lula, porque nós estamos vivendo um desgoverno”, disse.
Ex-ministro de Lula e antigo presidente da legenda petista, Dirceu participa atualmente, de um desafio, visando disputar “coração e mente”, algo que de acordo com ele, foi realizado pela extrema-direita de forma “semi-clandestina”, antes de Jair Bolsonaro chegar ao poder.
A atual importância política do moralismo impõe o desafio de saber lidar com os “crentes”, cerca de 30% da população, conforme pesquisa Datafolha de 2020.
“Temos de parar com isso de dizer: ‘Ele é evangélico’. O problema são as ideias, o reacionarismo, o conservadorismo. Não podemos exigir que eles não façam política; o auge do fundamentalismo pentecostal”, comentou Dirceu.
Vencer o duelo contra o bolsonarismo depende, principalmente, de acordo com o ex-ministro, do desenvolvimento econômico. Para ele, o maior “dilema” do governo é, hoje, de onde tirar o dinheiro para que haja esse investimento. A princípio, o petróleo deveria ser a fonte de recursos primária, após a descoberta do pré-sal, porém, as mudanças na atitude da Petrobras e na legislação do pré-sal a partir de Michel Temer, fizeram com que houvesse uma mudança de planos.
Dessa forma, resta ao governo tentar pôr em prática uma promessa eleitoral de Lula: mudar o imposto de renda para cobrar mais dos mais ricos, por exemplo, através do retorno da taxação sobre lucros e dividendos pagos por empresas. Importante destacar, que a ação foi abolida em 1995. “O governo está numa armadilha”, comentou Dirceu. Precisa do Congresso para aprovar mudanças no imposto de renda, e esse mesmo Congresso tem o perfil que tem.