O vazamento do discurso em que Michel Temer fala como se o impeachment já tivesse sido aprovado pela Câmara pegou a presidente Dilma Rousseff de surpresa e fez com que ela ordenasse uma resposta enfática do governo, colando ao vice-presidente a imagem de “golpista”.
Minutos após a divulgação do áudio, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) afirmou à Folha que a fala de Temer “revela a trama golpista que o vice e sua turma vêm demonstrando há semanas”.
“Estou estupefato. Ele está confundindo a apuração de eventual crime de responsabilidade da presidente Dilma com eleição indireta. Está disputando votos e transformou o processo numa eleição indireta para conseguir votos em favor do impeachment. Esse áudio demonstra as características golpistas do vice”, declarou Berzoini.
Segundo relatos, ao ser informada do áudio, a presidente repetiu a assessores e a auxiliares que “caiu a máscara do conspirador”, em referência ao vice-presidente.
Para o Palácio do Planalto, a divulgação foi proposital e faz parte de estratégia de Temer para consolidar os votos a favor do impeachment e conquistar o apoio de parlamentares ainda indecisos no momento em que ele se apresenta como uma alternativa de poder.
O governo pondera, contudo, que, ao se antecipar à votação no plenário, Temer acabou dando um “tiro no pé” e cometeu o mesmo erro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nas eleições municipais de 1985, em São Paulo.
Na época, dias antes das eleições, o tucano, que era o favorito nas pesquisas de opinião, fez uma foto para uma revista sentado na cadeira de prefeito, fator que teria influenciado em sua derrota.
Nas palavras de um assessor presidencial, o áudio de Temer reforça estratégia do Planalto adotada desde o fim do mês passado, de associar a imagem do vice à de “capitão do golpe”.
A ordem no governo agora é utilizar a fala do peemedebista para reforçar a munição contra ele também nas redes sociais.
MESMO TOM
Parlamentares e dirigentes do PT também foram surpreendidos pelo vazamento do áudio e adotaram o mesmo tom do Planalto.
“No momento em que Temer se revela como o golpista que sempre foi, e se apresenta como alternativa de poder, potencializa as nossas chances de vencer a votação no plenário da Casa”, afirma Marco Aurélio Carvalho, coordenador do setorial jurídico do PT.
Em sua fala na sessão da comissão especial do impeachment, o líder da bancada do PT, Afonso Florence (BA), afirmou que Temer cometeu alta traição em relação a Dilma Rousseff e que, se assumir o poder, irá acabar com programas sociais.
Dizendo ter chegado a essas conclusões por meio de entrevistas e manifestações que ouviu, Florence afirmou ainda que o PMDB e a oposição não vão ter “sossego” caso o Congresso aprove o impeachment de Dilma.
O discurso de Florence tem sido repetido por outros petistas na comissão, em um indicativo de que houve combinação prévia.
“Eles não vão ter sossego se fizerem isso [aprovar o impeachment]. O povo mobilizado vai lutar por suas conquistas. Se aprovarem o golpe, Vossas Excelências vão entrar na história para a lata do lixo”, disse Florence.
De acordo com o petista, a “chapa do golpe”, liderada por Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o tucano Aécio Neves (PSDB-MG), representa “um ataque à democracia e a retirada de conquistas sociais”, além de ser uma ameaça, acrescenta Florence, às investigações da Lava Jato.
O líder do PT destinou críticas especiais a Temer, que segundo ele cometeu “traição alta ao ser nomeado articulador político [função que ele ocupou no ano passado] e conspirar contra a presidente”.
Por várias vezes Florence foi interrompido por protestos da oposição, que o acusou de mentir.
O líder da bancada do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), rebateu: “Queria tranquilizar os brasileiros de que alguns pronunciamentos, eivado de coisas que não correspondem à realidade, são mais do que reprováveis, são deploráveis. […] Revelam o temor de uma derrota iminente.”
PMDB
Em sua fala, o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), liberou a bancada do partido a votar de acordo com a consciência de cada um. O PMDB rompeu com o governo, mas Picciani faz parte da ala minoritária que se mantém leal a Dilma.
Ele repetiu a avaliação de que o governo Dilma não soube fazer um governo de união nacional e que a oposição nunca aceitou o legítimo resultado das urnas. O peemedebista afirmou que a bancada se reunirá nesta semana e irá aferir a posição majoritária. Ele disse que defenderá essa posição na votação do plenário, prevista para o domingo (17).
Fonte: Folha de S. Paulo