A maratona de conversas feitas nos últimos dias presidente Dilma Rousseff, com sua equipe de governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de parlamentares e lideranças de partidos aliados, teve com objetivo acertar o tamanho da reforma administrativa que a presidente deverá anunciar na próxima quarta-feira (23).
A equação, no entanto, é difícil de fechar. De acordo com auxiliares próximos, o número de cortes depende ainda de uma série de variáveis que a presidente terá que lidar.
Primeiro, Dilma não poderá apresentar uma reforma tão pequena, que não consiga passar o recado de que o governo está realmente “cortando na carne” para garantir a saúde fiscal. Segundo, a presidente não deve fazer um corte tão grande, que estremeça ainda mais a articulações com aliados, relação fundamental para a presidente que, enfrenta eminente risco de impeachment.
Some-se a isso a decisão da presidente de manter no cargo o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de quem ela gosta, mas que conta com a repulsa generalizada entre aliados e até ministros do seu partido, o PT.
Já é dado como certo que a presidente não mexerá nos ministérios sociais criados pelo ex-presidente Lula, como Direitos Humanos, Igualdade Racial e Mulheres. Na última semana, o que se discutiu foi a fusão de secretarias chamadas de “cozinha” do Planalto que ficariam sob o guarda-chuva da Secretaria Geral da Presidência da República.
Neste caso, as especulações de bastidores apontam que o atual ministro da Secretaria Geral, Miguel Rossetto, iria para casa, e seria substituído pelo ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva. O titular da Comunicação acumularia funções e cuidaria da relação com os movimentos sociais, função principal da pasta de Rossetto. Na reformulação, Silva deverá concentrar ainda o Gabinete de Seguranças Institucional (GSI), que perderia status de ministério, hoje comandado pelo general José Elito.
Além do GSI, o governo estuda acabar com o status de ministérios de órgãos como a Controladoria Geral da República (CGU), hoje dirigida pelo ministro Valdir Simão e da Advocacia Geral da União (AGU) que será deixada em breve pelo ministro Luís Inácio Adams.
Lula, em conversa com Dilma, teria aconselhado a sucessora a manter os fiéis dando-lhes mais espaço. Outra sugestão foi trazer de volta o vice-presidente Michel Temer, que se afastou da articulação política devido a ranhuras com Mercadante e ciúmes por conta da articulação política realizada pelo chefe do Gabinete Pessoal da presidente, Giles Azevedo, que acabaram dando resultado para aproximar setores rebeldes do PMDB.
Partidos que contribuíram para derrotas no Congresso ou que não contribuíram para aprovação do pacote fiscal, no contexto desenhado por Lula, estariam de fora.
Uma discussão forte no governo aponta que a pasta do Turismo, comandada pelo ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pode ser integrada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MIDC), que deixaria de ser comandado pelo ministro Armando Monteiro Neto (PTB-PE). Dilma teria se irritado na última semana com as declarações do pernambucano com críticas ao programa Reintegra e com o corte de recursos para o chamado Sistema S.
Já na área de infraestrutura, a aposta é que a presidente deverá incorporar as pastas de Aviação Civil (SAC) e Portos, ao Ministério dos Transportes. A pasta sairia das mãos do PR, partido que votou contra o pacote fiscal na Câmara, e passaria para o comando do atual ministro da SAC, Eliseu Padilha (PMDB-RS), que até o mês passado, também cuidava de parte da articulação política do governo, auxiliando o vice-presidente Michel Temer.
O PDT já acertou que deixará o Ministério do Trabalho e há discussão no governo de fundir esta pasta com o Ministério da Previdência. Assim, a área votaria a ter o formato de antes do governo do ex-presidente Lula. Tudo deverá ficar sob o comando do atual ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, considerado pela presidente uma das pessoas mais fiéis do governo.
Além do PRB, do PDT, o PRB, que comanda o Ministério do Esporte, também teve posição contrária ao governo nas votações do pacote fiscal e pode perder a pasta.