Em tom de desabafo, a presidente Dilma Rousseff abriu a reunião com prefeitos para tratar da crise econômica, lamentando a condução coercitiva do ex-presidente Lula pela Polícia Federal, na manhã desta sexta-feira. A um grupo de cerca de 40 prefeitos, Dilma disse que a Operação Lava-Jato está “fugindo da normalidade democrática” e que lamenta o que está acontecendo. Segundo relato feito pelo prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), Dilma disse que a ação foi exagerada e que estava protestando sobre o depoimento forçado do ex-presidente.
— Ela fez uma avaliação inicial sobre o momento. Protestou, acha que as coisas estão fugindo da normalidade do estado democrático de direito e lamentou que isso esteja acontecendo. A presidente deixou isso muito claro— disse Fortunati.
Aos prefeitos, Dilma disse que Lula nunca se negou a depor e que estava claramente insatisfeita com a PF:
— Ela acha que é exagerado, que o presidente Lula nunca se negou a depor, sempre usou os mecanismos legais, sempre foi ao Poder Judiciário. Obviamente, ela entende que houve um exagero nessa condução forçada do presidente Lula. Mostrou sua insatisfação com essa situação — afirmou o prefeito pedetista, que é amigo de Dilma.
Durante a reunião, Dilma fez esclarecimentos aos prefeitos sobre as denúncias relacionadas à delação premiada feita pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS). Dilma disse que os dados relacionados a ela não são relevantes. Ela não citou em nenhum momento o nome de Delcídio, chamando-o de “delator premiado” o tempo inteiro. Dilma declarou que o governo “não foi feito para tirar ninguém da prisão”.
Segundo relatos dos prefeitos, apesar da crise política profunda que vive o governo, a presidente estava bem.
— Até me surpreendi — disse um dos participantes ao GLOBO.
Depois do desabafo e dos esclarecimentos, Dilma disse que a única alternativa que tem para superar a crise econômica é aprovar a recriação da CPMF. Não houve apoio automático dos prefeitos, que irão discutir o tema, sem compromisso de que aceitarão a proposta.
COMPARAÇÃO COM OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS
Arthur Virgílio (PSDB-AM), prefeito de Manaus, comparou a Operação Lava-Jato à Operação Mãos Limpas, da Itália, e disse que o Brasil não deve parar por conta das investigações, ainda que longas.
— A Operação Mãos Limpas na Itália durou dez, 12 anos, e a Itália não parou economicamente um segundo sequer. Tanto que é o país desenvolvido que é — afirmou Virgílio.
De acordo com o prefeito de Manaus, a presidente afirmou que prefere a CPMF por se tratar de uma “saída federativa” para a crise. Dilma argumentou que, se o tributo não for aprovado, terá de ser “cada um por si”. A presidente fixou um prazo até março para haver avanços concretos na negociação da CPMF.
— Se até fim de março não tiver solução para a CPMF, ela vai procurar as formas dela de equilibrar as contas do governo — disse Arthur Virgílio.
Em documento entregue à presidente, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) se manifestou em relação aos principais pontos do ajuste fiscal defendidos por Dilma.
“Se por um lado os municípios possuem uma grande dívida com a União, por outro lado verificamos que tal dívida foi inflada por multas e lançamentos de juros indevidos”, diz o documento.
DESVINCULAÇÃO DA DRU
A CNM é contra a Desvinculação de Receitas da União (DRU): “Mesmo que estendida às receitas estaduais e municipais, trará dificuldades aos municípios, uma vez que reduzirá a destinação de recursos da União para todas as áreas sociais, com exceção da educação”
A confederação ainda reclamou de supostos atrasos nos repasses de valores da União aos municípios, em educação, saúde, assistência social e Auxílio Financeiro aos Estados, Distritos Federal e Municípios (FEX). A CNM pede que os ministérios retomem os pagamentos, “sob pena de vermos os serviços públicos prestados à população ficarem ainda mais precários”
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), estava previsto de participar do encontro, mas, segundo sua assessoria, teve problemas de agenda.