A Câmara dos Deputados realiza hoje seu processo eleitoral para compor a nova Mesa Diretora, encerrando os quatro anos de condução do presidente Arthur Lira (PP-AL). Três deputados disputam a cadeira e o grande favorito é o candidato indicado por Lira – o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, que concorre com o bolsonarista Marcel van Hattem, do Novo-RS e com o deputado Pastor Henrique Vieira, do Psol, um dos vice-líderes do governo na Casa.
Também serão eleitos os demais integrantes da Mesa Diretora, órgão responsável por conduzir legislativa e administrativamente os trabalhos da Casa. Mais de dez cabines de votação com urna eletrônica foram instaladas no plenário e no Salão Verde da Câmara.
O prazo para registro de candidaturas termina às 13h30 de hoje e o início da sessão de votação será às 16h. Haverá discurso dos candidatos a presidente, com cada um dispondo de 10 minutos para se manifestar, em ordem definida por sorteio.
O presidente Arthur Lira também fará um pronunciamento. A posse ocorrerá ainda hoje, sendo admitido segundo turno caso o candidato não obtenha pelo menos 257 votos. Médico, 35 anos, no exercício do quarto mandato como deputado federal, Hugo Motta tem ampla vantagem na contagem de votos, podendo ultrapassar os 490 sufrágios. Ele é apoiado por bancadas como as do PL e do PT, que representam os dois extremos da polarização ideológica no país, tendo a simpatia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nascido em João Pessoa, Hugo Motta é de uma tradicional família política do sertão paraibano, com base em Patos, na região de Espinharas, onde o prefeito Nabor Wanderley é seu pai e foi reeleito em 2024, enquanto a deputada estadual Francisca Motta é sua avó. Ele embarcou na política como o deputado federal mais jovem da história brasileira, assumindo seu mandato em 2010 aos 21 anos, na época do MDB.
Hugo Motta tornou-se aliado próximo do deputado Eduardo Cunha, que presidiu a Câmara em 2015 e movimentou o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Confirmando-se a sua eleição, o parlamentar será o mais jovem presidente da Casa desde a redemocratização.
Também será o segundo paraibano eleito para a presidência da Câmara 78 anos depois da ascensão de Samuel Vital Duarte, do antigo PSD. Um outro político paraibano, Efraim Morais, ocupou a presidência da Casa por curto período, completando o mandato de Aécio Neves, do PSDB, em 2003.
Efraim Morais era senador pelo PFL. Em 2018, Hugo Motta migrou para o Republicanos, do qual é o atual presidente no Estado e logo assumiu a liderança da bancada, criando proximidade com o presidente do partido, Marcos Pereira (SP) e com o presidente Arthur Lira. Além do apoio de Lira, tem o apoio de 17 partidos políticos que somam a quase totalidade dos integrantes da Casa.
Com exceção do Psol e do Novo os demais partidos declararam apoio à candidatura de Hugo Motta nos últimos meses de 2024, consolidando uma base que pode chegar a 494 deputados. O Psol e o Novo possuem histórico de lançar candidatos à presidência da Câmara mesmo sem chances de vencer para, ao mesmo tempo, divulgar suas principais bandeiras.
Em 2024, o nome de Hugo Motta começou a ser cogitado para a sucessão de Arthur Lira, mas não era o mais forte. O nome preferido inicialmente por Lira era o de Elmar Nascimento, líder do União Brasil, que buscava construir uma base de apoio. Seus principais concorrentes eram Marcos Pereira, do Republicanos, que também buscava o endosso de Lira, e o líder do PDS, Antônio Brito (BA) com uma plataforma própria e apoio de grande parte da ala governista.
Hugo Motta e o Doutor Luizinho, do PP-RJ foram mantidos como nomes alternativos por Lira até o mês de setembro, quando Marcos Pereira anunciou oficialmente sua desistência, e recomendou a Arthur Lira que considerasse o nome de Motta para construir uma candidatura de consenso. A proposta foi bem recebida tanto pelos congressistas quanto pelo presidente Lula, que o recebeu no Palácio do Planalto.
No final de outubro, Arthur Lira oficializou seu apoio a Hugo Motta, que logo se articulou para trazer o máximo de partidos ao seu lado no primeiro dia de campanha, assegurando o apoio do PP e Republicanos. No dia seguinte, trouxe ao seu lado as lideranças do PT, PL, Podemos e MDB, derretendo as bases de seus adversários potenciais.
No início de novembro, Elmar Nascimento e Antônio Brito estavam fora da disputa e seus partidos alinhados com o deputado paraibano .De acordo com os dados do Radar do Congresso, Motta é o candidato que mais votou com o governo, tendo acatado 88% das orientações do Executivo em plenário.
Ele também fez parte das bases das gestões de Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Sua postura de diálogo com os dois lados foi o principal combustível de sua ascensão como sucessor de Lira, com a promessa de assegurar a estabilidade institucional e garantir com que governo e oposição tenham voz em sua gestão.
Hugo Motta também apresentou uma solução de meio-termo para o debate a respeito da anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023, tema sensível tanto para o PT, contrário à anistia, quanto para o PL, favorável: se eleito, seu compromisso é de submeter o projeto sobre o tema ao rito regimental, não acelerando e nem emperrando a discussão até chegar ao Plenário.
Ele próprio é adepto à tese de que a questão deve ser discutida, considerando parte das sentenças proferidas pelo Supremo Tribunal Federal como exagerada, segundo relata o site “Congresso em Foco”.
Uma numerosa representação política da Paraíba está presente em Brasília, com líderes de inúmeros partidos, do governador João Azevêdo (PSB) ao senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) em apoio à pretensão de Hugo Motta, que assumiu compromisso, também, com a autonomia do Legislativo como poder, levando em conta a nova realidade vigente na estrutura institucional do país, com o fortalecimento do Congresso.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba