Chico César fechou o festival Forró da Lua Cheia, em Altinópolis (SP), no domingo (23). O show do cantor paraibano foi bem animado, sem deixar de lado temas políticos e de cunho social, como racismo e feminismo.
Um dos assuntos abordados pelo músico foi o governo Bolsonaro e seu ministro da Justiça, Sergio Moro. “Daqui a seis meses vai ter a campanha ‘Moro Livre'”, disse aos risos durante a apresentação, fazendo alusão ao movimento “Lula Livre”. Outra atração do festival que se lembrou de Moro e do presidente foi o Planet Hemp, que usou termos como “passa-pano” e “fascistas” em referência a eles na noite da última sexta (21).
O ex-juiz teve conversas divulgadas com o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato. Nos diálogos pelo Telegram, expostos pelo site Intercept, Moro surge falando sobre as investigações do esquema de corrupção, dando instruções e dicas a Dallagnol. Segundo a lei, o juiz não pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes do processo
“Eu acho que a vida dá muitas voltas e que o herói de hoje pode ser o vilão de amanhã. Como Lula foi o herói de anteontem e virou o vilão de ontem”, afirmou Chico César em entrevista à reportagem.
“O vazamento é uma benção, as conversas é que são horríveis”, disse o artista. Para ele, não é bom você pensar que há um juiz combinando com promotores para impedir que uma pessoa, um cidadão, seja candidato à presidência da República para que um outro grupo possa ser.
“Temos um presidente eleito por fake news, mas não só. Por uma parcela muito preconceituosa e muito assustada da população que também teve sua cabeça feita por fake news.” Chico disse ver integrantes do governo despreparados e conservadores, como a ministra Damares Alves. “São pessoas muito conservadoras que não entendem bulhufas. O quinto escalação da política brasileira assumiu a ponta de lança.”
No repertório, Chico César traz canções alegres e de amor, mas que também fazem refletir e pensar em temas sociais. É o caso de canções como “Mama África”, “À Primeira Vista”, “Mand’ela” e “Negão”. Essa última foi cantada após um questionamento do cantor sobre a quantidade de negros em diversos lugares e tem trechos como: “Negam que aqui tem preto, negão/Negam que aqui tem preconceito de cor”.
“O Brasil é um país muito racista e muito violento”, afirmou o cantor. Segundo ele, quando você tem as Forças Armadas metralhando uma família negra com 80 tiros isso diz muito sobre o racismo.
“Nós nunca vimos isso acontecer assim, da instituição governamental, que deveria proteger o cidadão, fazer isso com uma família branca”, disse. “E nem quero que isso aconteça, eu quero que isso pare de acontecer com as famílias negras. Parem de nos matar.”
Chico observa que agora que cada vez mais os negros, para além das artes e dos esportes, estão falando, escrevendo, pensando, todos ficam surpresos. “Porque no geral há um lugar de pensar o Brasil que se colocou historicamente como um lugar dos brancos”, justificou.
O pensamento do artista segue a linha das ideias expressas por Elza Soares, que completou 89 anos no domingo e foi homenageada com a música “Pensar em Você” no show de Chico.
A cantora, que se apresentou no primeiro dia de festival, afirmou à reportagem que considera o Brasil “o país mais racista do mundo”. “Eu nasci negra. Eu confirmo, é o mais racista. Sou neta, bisneta de escravos. Minha mãe ainda pegou um pouco da escravatura. Para mim é tão recente minha mãe ter passado por isso.”
Fonte: Folha PE
Créditos: Folha PE