Cunha dava a ‘palavra final’ em diretoria da Petrobrás, afirma delator

Em delação premiada, ex-gerente da Petrobras disse ainda que a OSX, de Eike Batista, participou do esquema de corrupção

eduardo cunha

O ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa afirmou que a “palavra final” sobre quem ia comandar a área Internacional da Petrobras era do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em delação premiada, anexada na terça-feira à noite ao inquérito que investiga irregularidades durante a gestão do ex-diretor Luiz Zelada, Musa disse ainda que a OSX, do empresário Eike Batista, participou do esquema de pagamento de propina na Petrobras.

De acordo com Musa, o lobista João Augusto Rezende Henriques, preso no início da semana, era o responsável por articular as indicações políticas. Ele teria dito a Musa que teria conseguido emplacar Zelada com o apoio de caciques mineiros, mas a indicação só valeu com a “palavra final” de Cunha.

“Henriques disse ao declarante (Musa) que conseguiu emplacar Jorge Zelada para diretor internacional da Petrobras com o apoio do PMDB de Minas Gerais, mas quem dava a palavra final era o deputado Eduardo Cunha”.

Na delação, Musa afirmou ter tomado conhecimento do pagamento de propina a partir de 2006 quando viu uma planilha de pagamento em que constavam a Refinaria de Pasadena e os navios-sondas Petrobras 10.000 e Vitória 10.000. Ele disse ainda que houve pagamentos ilícitos na contratação da montagem dos módulos das plataformas FPSOs, P-67 e P-70, em 2012.

A construção das plataformas foi feita no estaleiro de Açu, no Rio, pelo Consórcio Integra, formado pela OSX e pela Mendes Júnior. Musa não soube informar se Eike sabia do pagamento de propinas. Após sair da da Petrobras, Musa passou pela OSX e estava na Sete Brasil.

A defesa do deputado Eduardo Cunha disse não ter tido acesso ao depoimento de Musa e, por isso, não quis se manifestar.

PROPINA ALCANÇAVA ÁREA DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO, DIZ MUSA

Musa, que foi transferido da BR Distribuidora para a área Internacional da Petrobras em 2009, afirmou que o esquema de propina alcançava também a área de Exploração e Produção. Disse ter ouvido do lobista Hamylton Padilha, que representava várias empresas e pagava e operava propina para funcionários da Petrobras, que ele “tinha gente lá” ( na área de E&P) ao negociar recebimento de propina em contrato de locação de sondas.

A área de E&P era comandada por Guilherme Estrella e foi anexado ao depoimento um email enviado por Zelada a Estrella, onde os dois combinam sobre o fechamento de negócios:

“Uma nova iniciativa de chamamento de empresas neste momento, sem essa coordenação interna, a meu juízo traria uma estranheza ao mercado, além do que não devemos transparecer uma “concorrência interna” na nossa companhia, ainda que involuntária”, diz Zelada a Estrella.

O ex-gerente da área Internacional disse que acertou receber US$ 1 milhão para apressar a contratação de sonda da empresa Vantage, de interesse de João Henriques, o representante do PMDB. Deste valor, confirmou ter recebido US$ 550 milhões, por meio de Hamylton Padlha, numa conta mantida no Julius Bar, na Suíça. A mesma conta, segundo ele, servia para receber vantagens indevidas também da empresa Schaim.

Musa contou ter sido apresentado em 2009 ao operador Bernardo Freiburghaus pelo então executivo da Odebrecht Rogério Araújo e, então, abriu conta na agência do HSBC na Suíça. Antes, manteve conta em outros banco suíços, como o Credit Suisse.

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Freiburghaus segundo ele, tinha parceria com um doleiro chamado Miguel, na empresa Ad Valor, no centro do Rio de Janeiro, que era usado quando precisava trazer dólares para o Brasil, internalizando valores em reais.

Musa confirmou ainda ter recebido propina da holandesa SBM e do estaleiro Keppel Fells, por meio dos operadores Julio Fraermann e Swi Zwi Skornicki, respectivamente.

Atualmente, afirmou ter US$ 2,5 milhões no banco Cramer, depositado em nome da offshore Nebraska, e não soube informar a quantia depositada em seu nome em uma conta no banco Pictet.

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