Coordenadores da equipe de alfabetização do Ministério da Educação (MEC) foram exonerados nos últimos dias, em meio a críticas sobre a inoperância da pasta. Um dos demitidos é o psicólogo e pesquisador Renan Sargiani, o principal defensor do método fônico para alfabetizar crianças e presidente da comissão de especialistas que deveria estruturar diretrizes para a área.
A melhora da alfabetização no País, que tem mais de 50% de crianças que não sabem ler no nível adequado, foi colocada como prioridade para os primeiros cem dias do governo Bolsonaro. Até hoje, porém, não há direcionamento sobre como o MEC vai atuar na área. Os documentos apenas direcionam para um método de ensino em que o foco é o som das letras, algo polêmico, uma vez que cidades em que crianças têm os melhores desempenhos em leitura e escrita mesclam metodologias.
Relatório da comissão de acompanhamento do MEC, feito pela Câmara dos Deputados e revelado pelo Estado, concluiu que a chamada Política Nacional de Alfabetização “não tem plano de ação e nenhum dos entes federados sabe como e quando esta chegará às escolas”. A análise dos deputados indicou ainda que a criação pelo atual governo da Secretaria de Alfabetização, da qual os demitidos faziam parte, “não resultou em maior eficiência ou prioridade real de implementação de políticas voltadas para a alfabetização”.
A outra funcionária exonerada foi Josiane Toledo Silva, que era coordenadora de Avaliação Pedagógica da Diretoria de Alfabetização Baseada em Evidência. Sargiani tinha o cargo de Coordenação-Geral de Neurociência Cognitiva e Linguística.
Procurado, Sargiani, que é pós-doutorando na Universidade Harvard, disse que não queria falar sobre o assunto. Em nota, o MEC informou que os dois coordenadores se desligaram por motivos pessoais, mas permanecem no painel de especialistas da Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Conabe).
Segundo fontes ouvidas pelo Estado, o MEC entrou em crise depois da reportagem que mostrou ineficiência e paralisia na pasta, identificadas pela comissão da Câmara. A ordem do ministro Abraham Weintraub é gastar para demonstrar que algo está sendo feito, segundo fontes. A dificuldade de investimento existe porque não foram desenvolvidos programas novos e os gestores têm pouco conhecimento dos antigos.Segundo fontes, milhões de reais devem ser gastos. O dinheiro foi liberado diretamente pela secretaria executiva do MEC.
Anteontem, em evento em São Paulo, governadores e secretários de Educação falaram em “ano perdido” para a área por causa da atual gestão do MEC.
“Os cargos mudam a toda hora, começamos a conversar com uma pessoa, de repente não está mais no ministério, não há continuidade”, disse o governador Paulo Camara (PSB), de Pernambuco.
Secretários também contaram à reportagem que não houve nenhum planejamento do MEC com os Estados ou diálogo entre os entes. O governo federal tem a função indutora de políticas. O Conselho de Secretários de Educação (Consed) é quem tem ajudado os Estados a pensar e direcionar políticas.
Fonte: Estadão
Créditos: Estadão