Criminosos de ao menos duas comunidades do Rio de Janeiro aproveitaram o final de semana sem operação dos militares para fugir.
Segundo relato à Folha de moradores da Vila Kennedy, zona oeste, e do complexo do Chapadão, zona norte, bandidos deixaram as favelas de forma discreta, como se fossem moradores comuns, sem ostentar armas ou utilizar os chamados “bondes”, que são grupos de carros com bandidos fortemente armados.
A saída dos criminosos é uma reação à movimentação na semana passada das Forças Armadas nas duas favelas, consideradas redutos do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Estado.
Nas duas operações, militares mobilizaram mais de 3.000 homens, mas ficaram apenas um dia no entorno de cada uma delas e depois desmobilizaram o efetivo.
Os militares estão desde setembro do ano passado no Estado, em operações de reforço da segurança local.
Mas as ações da última semana ocorreram já sob os efeitos daintervenção federal na segurança pública do Estado, determinada pelo presidente Michel Temer (MDB), com apoio do governador Luiz Fernando Pezão, do mesmo partido.
Nesta terça (27), o general do Exército Walter Souza Braga Netto, nomeado interventor até dezembro, vai anunciar o nome do novo secretário de Segurança e os novos comandantes das polícias.
ESCONDIDOS
Nos dias das ações na semana passada, os chefes das quadrilhas ficaram escondidos nas próprias favelas, segundo relato de moradores.
Eles se refugiaram nas partes mais altas da Vila Kennedy e do Chapadão e dispersaram seus arsenais por diferentes pontos da favela, sempre de acordo com relato de pessoas das comunidades.
O final de semana foi de aparente tranquilidade nas duas favelas. Na Vila Kennedy, por exemplo, o baile bancado pelos traficantes foi realizado tanto no sábado (24) como no domingo (25).
A festa acontece na praça principal da favela e reúne moradores que têm no baile uma das poucas opções de lazer na região. A última terminou por volta das 4h de segunda (26). De acordo com o relato de uma fonte, era possível ver traficantes armados.
Segundo o CML (Comando Militar do Leste), o setor de inteligência do Exército está monitorando o que acontece nas duas comunidades. O órgão responsável pela segurança do Estado não informou se sabia da fuga dos criminosos das duas regiões.
ANTECEDÊNCIA
No início da década, a Secretaria da Segurança Estadual da Segurança Pública do Rio evitava confrontos com os criminosos ao anunciar com antecedência a ocupação de uma comunidade para a instalação de novas UPPs (Unidadede Polícia Pacificadora). No período entre o anúncio e o início da ocupação, a maioria dos traficantes fugia para outras comunidades.
Na ação de sexta (23), militares “ficharam” os moradores nas favelas cercadas. Eles só podiam deixar a região após passarem pelo cadastramento das Forças Armadas. O procedimento foi criticado por OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Defensoria Pública e diferentes entidade de direitos humanos.
A foto e o RG dos moradores eram enviados por um aplicativo para um setor de inteligência das forças de segurança, que avaliavam se o identificado tinha algum tipo de registro criminal.
Nesta segunda (26), militares voltaram a fazer operação nas comunidades da Vila Kennedy, Coreia e Vila Alianças. As três comunidades são vizinhas. Segundo o Exército, a operação serviu para a retirada de barreiras de algumas entradas das comunidades. Nesta semana, as Forças Armadas devem retornar às regiões.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Sérgio Rangel, Lucas Vettorazzo e Danilo Verpa