A CPI da Pandemia ouve neste momento a médica Nise Yamaguchi, oncologista e imunologista, que defende o chamado “tratamento precoce” para a Covid-19. O depoimento, previsto para começar às 9h, foi iniciado por volta das 10h10.
Funcionária do Hospital Israelita Albert Einstein, Nise tem 62 anos e chegou a ser cotada para o cargo de ministra da Saúde após a demissão de Luiz Henrique Mandetta, em abril de 2020, e no mês seguinte, quando Nelson Teich deixou o comando da pasta, 29 dias após sua nomeação.
Resumo de CPI da Pandemia:
‘É inacreditável o governo querer sediar Copa América’, diz Renan
Antes de iniciar seus questionamentos a Nise, o relator da CPI fez um apelo contra a realização da Copa América no Brasil.
“É inacreditável que o governo federal queira sediar a Copa América aqui no Brasil no exato momento em que a pandemia se agrava, enchem, como nunca, nossos cemitérios e nossas UTIs, e a terceira onda começa a chegar. “Seria transformar essa Copa em campeonato da morte”, disse o senador do MDB.
“Já que não podemos fazer um apelo ao presidente da República, já que não podemo fazer um apelo ao ministro da Saúde, já que não podemos fazer um apelo à [Confederação Brasileira de Futebol] CBF – que tem se transformado em negacionista e até irresponsável por querer patrocinar este evento –, quero nestas poucas palavras me dirigir à Seleção Brasileira, aos seus jogadores, ao seu treinador, ao Neymar”, continuou.
“Não concordem com a realização dessa Copa América no Brasil. Não é esse o campeonato que precisamos agora disputar. Precisamos disputar o campeonato da vacinação. É esse campeonato, Neymar, que precisamos disputar, ganhar e você precisa marcar gols para que esse placar seja alterado”, disse Renan.
“No campeonato da vacinação, o Brasil ocupa um dos últimos lugares, enquanto que no campeonato da morte, somos campeões, somos o segundo país em número de morte dos brasileiros. Não permita entrar em campo nessa Copa América, Neymar, enquanto seus amigos, seus parentes e seus conhecidos continuam a morrer e a vacina não chega no nosso país.”
Nise diz que busca de novos tratamentos norteou vida profissional
Em sua exposição inicial, antes de ser questionada pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Nise afirmou que a vontade de “buscar novos horizontes e novos tratamentos” fez parte de sua vida profissional.
“Tudo isso para dizer que estou à disposição do nosso país. Não estou aqui para defender um governo, estou aqui para defender o povo brasileiro com relação às ações que considero importantes”, afirmou.
“Tenho sido conhecida pela minha defesa em prol do tratamento imediato. Isso é baseado em ciência e uma ciência bastante profunda, em que temos artigos científicos publicados (…) Imagina você ter um médico que, depois, o mundo inteiro desacredita? Em prol dessa confiança que procuramos o senador Omar Aziz para conversarmos neste sentido.”
“Queria me antecipar e colocar os dados científicos antes da discussão política. Meu objetivo é estar aqui como perita técnica, como médica e como convidada”, concluiu.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), esclareceu que o depoimento de Nise é na condição de convidada, apesar dela ter aceitado fazer o juramento se comprometendo a falar toda a verdade aos questionamentos da comissão – como é obrigatório a quem é convocado pela CPI.
“Caso haja algum senador não satisfeito com as respostas, aí, sim, faríamos uma convocação”, disse Aziz.
Governistas reclamam de alteração na agenda da CPI
Senadores governistas, como Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE) questionaram a mudança da agenda da CPI, com o cancelamento da participação de médicos a favor e contra o uso da cloroquina na quarta-feira (2) para adiantar o depoimento de Luana Araújo, que ficou apenas dez dias no cargo de secretária extraordinária de enfrentamento à Covid, no Ministério da Saúde.
“Essa é uma forma desrespeitosa de tratar nossos depoentes. (…) Não podemos tratar os depoentes dessa forma. Deve-se haver respeito por cada um dos convidados dessa comissão”, disse Rogério.
Aziz afirmou que a mesa diretora da CPI entende que não é papel da CPI fazer audiências públicas, mas sim investigar.
“Publicamos ontem a pauta de quarta-feira, não vai acontecer novamente de desconvocarmos alguém (…) Eu peço desculpa para as pessoas que estavam convocadas.”
A sessão desta terça-feira da CPI foi aberta com uma questão de ordem do senador Humberto Costa (PT-PE), que se manifestou contra a realização da Copa América no Brasil e apoiou a iniciativa do vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), de convocar o presidente da CBF, Rogério Caboclo.
“Porque nós, que estamos entrando agora, infelizmente, na terceira onda, vamos sediar um campeonato ridículo, que não tem qualquer relevância para nossa trajetória futebolística”, disse Costa.
Na sequência, o senador Otto Alencar (PSD-BA) também se mostrou contrário à realização da competição, mas divergiu do petista sobre quem deveria ser convocado para prestar esclarecimentos à CPI.
“Quem deveria ter sido ouvido ontem é a autoridade sanitária do país, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, (…) deve ser chamado para explicar se temos as condições [para realizar a Copa América]”, afirmou Alencar.
Já o senador Marcos Rogério (DEM-RO) observou que a hipótese de se fazer a convocação por fatos que estão acontecendo ou que vão acontecer – como a Copa América – tornaria a CPI ilegal.
“A CPI só pode investigar fatos determinados e neste caso, seria um fato indeterminado.”
O que esperar do depoimento de Nise
Yamaguchi será questionada sobre a defesa que faz em relação ao uso da cloroquina – medicamento sem eficácia comprovada para combater o novo coronavírus.
Ela também será indagada sobre um suposto “gabinete paralelo” que orientaria o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em assuntos relacionados à pandemia à margem das orientações do Ministério da Saúde.
Na quinta-feira (27), o relator da CPI, senador Renan Calheiro (MDB-AL), afirmou que a comissão investiga a existência de uma consultoria informal ao governo a favor de métodos considerados ineficazes de enfrentamento à pandemia.
“Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do ‘tratamento precoce’. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros”, afirmou, ressaltando que, na sua opinião, o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar em sua eficácia.
Médica Nise Yamaguchi depõe nesta terça-feira (1) na CPI da Pandemia
Foto: Reprodução/CNN (01-06-2021)
A oitiva da médica atende a pedido dos senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Marcos Rogério (DEM-RO).
No requerimento, Girão destaca que outros depoentes disseram que ela defendeu alterar a bula da cloroquina para uso contra o novo coronavírus, em reunião com o governo.
Para Rogério, a audiência “será de importância singular para que [a pesquisadora] exponha sua atuação e conhecimentos, com o objetivo único de restabelecer a verdade”.
Ainda nesta semana, a CPI ouvirá críticos da cloroquina, como a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Natalia Pasternak, e o doutor em virologia Átila Iamarino.
https://www.youtube.com/watch?v=l2YIXX8MyHg
Fonte: CNN Brasil
Créditos: CNN Brasil