O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assumiu pessoalmente, na segunda-feira (12), a articulação política para tentar blindar o Governo Federal de uma investigação sobre os erros cometidos e omissões no combate à pandemia do coronavírus. A instalação da CPI da Pandemia pode ser realizada nesta terça-feira (13). Ao longo do dia de ontem, o presidente disparou ligações para senadores, tanto de partidos de direita como de centro, na tentativa de convencê-los a aumentar o escopo da comissão parlamentar, incluindo a investigação a estados e municípios, segundo informações da Folha de São Paulo.
Sem sucesso na ofensiva, e com o risco de não vingar tentativa de se criar uma CPI alternativa, o presidente começou a montar uma tropa de choque que defenda a gestão federal e faça um contraponto à oposição na comissão de inquérito. Segundo assessores, Bolsonaro já conta com o apoio do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP e um dos principais dirigentes do bloco do Centrão, que aderiu no ano passado à base aliada.
O presidente também pretende emplacar na comissão parlamentar outros três nomes que têm defendido a tese da necessidade de se ampliar a investigação para estados e municípios: Eduardo Girão (Podemos-Ceará), Izalci Lucas (PSDB-DF) e Soraya Thronicke (PSL-MS). A escalação dos integrantes é importante porque, hoje, a tendência é de que o colegiado seja majoritariamente formado por nomes da oposição a Bolsonaro, como dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL).
O governo teme que a investigação sobre a condução do combate ao coronavírus pelo Executivo desgaste ainda mais o presidente, leve a uma queda de popularidade e até mesmo que ele possa responder por crimes. Apesar de existir a possibilidade de que o STF (Supremo Tribunal Federal) permita na quarta-feira (14) que a CPI só inicie seus trabalhos quando o Senado voltar a realizar reuniões presenciais, a ordem de Bolsonaro é para que o governo se antecipe na estratégia de reação.
Além da formação de uma tropa de choque, o Palácio do Planalto pretende já municiar senadores governistas com indicadores e realizações que mostrem que a gestão federal atuou na distribuição de vacinas e suprimentos pelo país. A ideia é que o material, uma espécie de apostila de prestação de contas da pandemia do coronavírus, seja preparado em conjunto pelos ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, e das Comunicações, Fábio Faria.
Além disso, para evitar surpresas indesejáveis, integrantes da articulação política do Palácio do Planalto defendem que, até o início dos trabalhos da comissão, seja promovida uma análise prévia nos contratos principais da Saúde para afastar indícios de irregularidades. Um assessor da pasta lembrou à Folha que, durante comissões de inquérito, é comum que servidores públicos que ingressaram em governos passados repassem cópias de contratos para deputados de oposição que possam prejudicar a atual gestão.
Nesta segunda-feira, assessores palacianos avaliaram que o vazamento feito pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) de conversa com Bolsonaro teve tanto um efeito negativo como um positivo. Para eles, a defesa do presidente para se aumentar o escopo da CPI acabou mobilizando a tropa do governo. Após a declaração do presidente, senadores até mesmo de partidos que não são afinados com o governo passaram a pregar a necessidade de que a investigação também inclua governadores e prefeitos, não se concentrando apenas na União.
Por outro lado, a sugestão de Bolsonaro para que Kajuru entre com pedido de impeachment contra ministros do STF criou um novo mal-estar entre Executivo e Judiciário, no momento em que o STF definirá em plenário se respalda decisão do ministro Luís Roberto Barroso de criação da CPI. Para integrantes da equipe ministerial, o episódio não poderia ter ocorrido em pior hora.
Na última troca de ministros, no final do mês passado, Bolsonaro demitiu o único integrante do governo que tinha uma boa interlocução com o STF: o general Fernando Azevedo, ex-titular da Defesa. Ex-assessor do ministro Dias Toffoli, o militar da reserva era escalado por Bolsonaro sempre que a relação entre o Supremo e o Planalto enfrentava turbulências, sobretudo por causa de declarações desastradas ou hostis do presidente.
A demissão de Azevedo provocou a maior crise militar já vista desde a redemocratização, com a saída também dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. O general da reserva Walter Braga Netto acabou nomeado ao cargo de ministro da Defesa, com parte expressiva das Forças Armadas insatisfeita com a conduta de Bolsonaro na pandemia.
Após o vazamento de uma parte da conversa do final de semana entre Bolsonaro e Kajuru, deputados aliados do presidente dizem que, em um primeiro momento, ele não se incomodou. No entanto, ele se irritou com a exposição do trecho no qual se referiu ao impeachment de ministros do STF.
No fim de semana, segundo relatos feitos à Folha, o presidente também reconheceu deficiências na articulação política do Palácio do Planalto com o Senado. Por isso que o presidente decidiu assumir as tratativas com senadores. A avaliação no governo é de que foi um erro não ter contemplado o Senado nas últimas mudanças ministeriais. Hoje, a Esplanada dos Ministérios não tem um ministro que seja senador, enquanto deputados federais comandam cinco pastas.
No último anúncio, Bolsonaro chegou a cogitar a nomeação do líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-SE), mas acabou optando pela indicação da deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), aliada do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Diante do fracasso do governo em não conseguir nem mesmo inviabilizar uma CPI, a avaliação é que se tornou indispensável que, em um futuro próximo, o Senado seja contemplado com um cargo ministerial. As hipóteses em análise pelo presidente para contemplar a Casa são Desenvolvimento Regional e Agricultura. E os nomes favoritos para ocupar uma das pastas são os dos senadores Eduardo Gomes (MDB) e Jorginho Mello (PL).
Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Polêmica Paraíba