'Corrupção na Petrobras começa a atingir também PSDB' - Por Flávio Lúcio Vieira

Cerveró mostrou o falso moralismo de um partido que criticava a corrupção petista

FHCSegundo noticiou o Estadão ontem em sua página internet, 100 milhões de dólares, ou pouco mais de 400 milhões de reais pelo câmbio de hoje, foi o valor que o “governo FHC” levou pela compra da maioria das ações da petrolífera argentina Pérez Companc, que era à época a maior empresa petrolífera independente da América Latina.

O jornal teve acesso a um documento elaborado por Nestor Cerveró, diretor da área Internacional da Petrobrás durante o último governo tucano, e que foi apreendido no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT/MS).

Muita gente não sabe, mas Delcídio Amaral foi preso não apenas em razão de sua atuação em esquemas de corrupção no atual governo petista, onde repartiu com Cerveró propina de U$ 2,5 milhões pela venda da refinaria de Pasadena, mas também no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando foi diretor de Gás e Energia da Petrobras, a diretoria mais importante da empresa, entre 2000 e 2001. Durante esse ano ele atuou com Nestor Cerveró.

Delcídio foi preso por tentar interferir nas investigações da Operação Lava através de uma proposta de ajuda de fuga que fez a Cerveró para evitar que seu nome fosse envolvido na delação premiada que este último negociava com o juiz Sérgio Moro.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso emitiu a seguinte nota em sua página no Facebook: “Não tenho a menor ideia da matéria. Na época o presidente da Petrobrás era Francisco Gros, pessoa de reputação ilibada e sem qualquer ligação politico partidária.

Afirmações vagas como essa, que se referem genericamente a um período no qual eu era presidente e a um ex-presidente da Petrobras já falecido, sem especificar pessoas envolvidas, servem apenas para confundir e não trazem elementos que permitam verificação”.

FHC prova do doce veneno que se esbaldou em espalhar por todo 2015, ele e todos os tucanos, especialmente Aécio Neves, outro que mordeu a própria língua.

Só não sei se receberão o mesmo tratamento que antecipa julgamentos e condenações apenas porque algum corrupto assumido mencionou alguém em um depoimento, apesar de Cerveró não ter tido o cinismo de declarar que depois dos governos do PT a corrupção se tornou “sistêmica”, no sentido de organizada, como fez Pedro Barusco.

Corrupção em nome da governabilidade

Mas, é licito supor que, da mesma maneira que não foi o PT quem criou o “mensalão”, os esquemas de corrução da Petrobras que o país conhece agora escandalizado foram desenvolvidos também pelos tucanos.

Assim como Marcos Valério operou os “mensalões” nos governos tucanos e petistas, os operadores dos esquemas da Petrobras são também os mesmos.

Todos foram mantidos em seus cargos no governo petista para fazer o que faziam antes, o que não ameniza em nada a postura do PT, pelo contrário. Só mostra como o partido se rendeu às formas como os governos construíram até então suas “governabilidades”: por cima, em acordões que foram empurrando o PT cada vez mais para dentro dos gabinetes e distanciando-o das ruas, que foi onde nasceu para conquistar o governo do país.

Até que a corrupção que movia e ainda move nossos sistemas político e eleitoral fosse justificada como uma necessidade praticada em nome de um objetivo maior.

A delação de Cerveró ainda nos revela duas coisas, pelo menos.

1) o falso moralismo de um partido que criticava a corrupção petista como se fosse composto apenas de verdadeiras Madres Teresa de Calcutá.

Para piorar, além de começar a ser reconhecido por compartilhar das mesmas práticas das quais acusava o adversário, o PSDB carregará ainda a pecha de não ter combatido a corrupção em seu governo, apesar da variedade das denúncias, todas devidamente arquivas pelo Procurador Geral da República da época, e do próprio FHC ter relevado, em livro publicado recentemente, que foi alertado da corrupção e não tomou nenhuma providência.

2) O ministério público e a PF darão a Fernando Henrique o mesmo tratamento que dão a Lula e a seu filho? FHC será pelo menos chamado a esclarecer algo, mesmo que não seja como investigado?

O povo e os partidos

Talvez seja por essas e outras que, apesar do desgaste do PT junto ao eleitorado, o PSDB não tenha conseguido ainda se converter numa alternativa política e eleitoral que o coloque numa posição de vantagem incontestável.

O instituto Vox Populi realizou pesquisa para saber a opinião do eleitorado sobre os dois partidos que polarizam a vida política de país há mais de 20 anos.

Quanto ao PT, a pesquisa apurou que 16% dos eleitores detestam o partido, enquanto 21% dizem “não gostar” do PT, sem detestá-lo.

Por outro lado, 21% do eleitorado se diz petista ou gosta do PT, o que é um fenômeno, considerando o bombardeio quase que permanente contra o partido, que recrudesceu muito depois de 2011.

No caso do PSDB, os tucanos não têm muito a comemorar. 6% dizem “não gostar” do PSDB, e 19% não gostam, mas sem detestá-lo.

14% se dizem tucanos ou simpatizam com o partido de Aécio Neves. Ou seja, temos aí o resultado dessas duas décadas de polarização que serviram para dividir o país, o que aconteceu em benefício, claro, desses dois partidos.

Se o percentual de rejeição do PT é maior que o do PSDB (37% a 25%), o percentual dos que ainda tem no PT uma referência positiva é maior que o dos tucanos (21% a 14%).

Bem, se isso significa alguma coisa, significa que no curto prazo os candidatos petistas enfrentarão grandes dificuldades nas eleições de 2016, que são as mais próximas. Um candidato tucano não deverá ter vida fácil: ele pode partir com uma rejeição de 20% do eleitorado.

São dados a serem avaliados, por exemplo, pelos dois candidatos a prefeito em João Pessoa. E dos dois principais não pertencem nem ao PT nem ao PSDB. E uma projeção necessária para 2018, onde, ao que me parece, está mais do que madura a necessidade de uma candidatura alternativa a esses dois partidos.

 

Jornal da Paraíba