A primeira vereadora negra eleita em Campina Grande, Jô Oliveira (PCdoB) concedeu entrevista ao programa Arapuan Verdade da rádio Arapuan FM na tarde desta segunda-feira (23).
A nova parlamentar campinense é filha de uma trabalhadora doméstica e começou sua trajetória política há cerca de vinte anos no movimento estudantil, passando pelo movimento de mulheres e pelo movimento de luta pela igualdade racial. Em 2016, Jô Oliveira disputou uma cadeira na Câmara de Campina Grande, obtendo a primeira suplência com 1.544 votos. Em 2020, em sua segunda tentativa, foi eleita vereadora conquistando 3.050 votos.
Questionada sobre a expectativa dela para a gestão do prefeito eleito Bruno Cunha Lima (PSD), Jô Oliveira disse que já foi convidada por ele para um café da manhã com os novos vereadores e que espera que ele trabalhe pela cidade.
Ela garantiu que pretende votar favoravelmente aos projetos que forem considerados significativos e de interesse da coletividade e que não tem o interesse de fazer uma oposição desenfreada, colocando-se contra o gestor de forma fundamentada apenas quando os projetos apresentados não atenderem aos interesses da cidade.
Contudo, Jô Oliveira disse que não alimenta muitas expectativas com relação ao governo de Bruno Cunha Lima, porque durante a campanha eleitoral, o prefeito eleito sempre falou da relação com o atual gestor Romero Rodrigues (PSD) e sobre o projeto de continuidade da gestão, que a nova vereadora avalia não atender os anseios das pessoas.
“Em todos os lugares que a gente passou na cidade e das pessoas com quem a gente dialogou, foram apontados vários problemas e nesse sentido, acho que teremos um problema porque eu acho que devemos trazer para a Casa de Félix Araújo os reais problemas das pessoas da cidade que infelizmente não tem sido debatidos a contento”, disse a vereadora eleita.
Jô Oliveira também lamentou o assassinato do negro João Alberto em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre na última quinta-feira (19).
“Só quem foi seguido em uma loja, só quem foi seguido em um supermercado, shoppings e afins, sabe o que significa isso. Sabe que infelizmente eu posso estar sujeita isso, ou um dos meus, porque infelizmente a gente carrega uma herança histórica de que o negro em determinadas situações representa perigo e sempre que eu entro em um determinado lugar, não está na minha testa o que eu faço nem a minha formação e sim inicialmente a impressão das pessoas com relação à cor da minha pele. Racismo pra nós é uma coisa diária e violenta a ponto de nos matar, no contexto que passou João Alberto e que infelizmente passam tantas outras pessoas”, avaliou Jô.
Ela avalia que não dá pra achar normal essa “ação violenta do Estado”, pois faz parte de um “racismo estrutural” que coloca a pessoa negra como alguém que representa perigo.
Sobre a representatividade feminina, recorde na Câmara de Campina Grande com sete vereadoras contra apenas uma na Câmara de João Pessoa, Jô Oliveira lamentou a não-reeleição da vereadora da Capital Sandra Marrocos (PSB). A campinense manifestou tristeza pelo fato das mulheres ainda serem minoria na Casa de Félix Araújo, mesmo com as mulheres sendo maioria da população, mas comemorou o aumento da bancada feminina no parlamento, considerando o episódio um “ganho histórico”.
Ela falou ainda da eleição para a mesa diretora da Câmara de Campina Grande e afirmou que enquanto minoria e oposição, vem ouvindo todas as forças que pleiteiam a direção da Casa e analisando como cada uma se posiciona, reafirmando a unidade e pregando cautela do grupo oposicionista, composto por seis parlamentares.
Com relação à pandemia, a vereadora disse que evitou fazer visitas e eventos durante a campanha e relatou ter vivenciado com a Covid-19 em família. Ela disse que tem consciência de que o debate com relação a eventos como os encontros religiosos no período carnavalesco e o Maior São João do Mundo não deve ser tranquilo devido à resistência de alguns em entender que ainda estamos em meio a uma pandemia. Ela afirmou que a questão precisa ser discutida com cuidado.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba