opinião

Com o adversário tonto, o negócio é partir para o ataque - Por Bepe Damasco

Os movimentos sociais devem insistir nesta denúncia junto ao povo

“São tantas as incongruências nas delações que elas se tornam imprestáveis para sustentar qualquer condenação”, ministro Ricardo Lewandowski, do STF, no seu voto durante julgamento que absolveu a senadora Gleisi Hoffmann. Gilmar Mendes também acertou o coração da Lava Jato: “Não existe juízo condenatório por probabilidade.”

Abro parênteses: em nada se alterou o juízo que faço do STF – um tribunal desmoralizado, que trocou seu papel de guardião da Constituição pelo de cúmplice do golpe de 2016. A maioria dos ministros que o compõe ou está a anos luz do estofo jurídico que o cargo requer, ou degrada o tribunal com sua militância política. De direita, é claro. Fecho parênteses.

A absolvição da presidenta do PT, de seu marido Paulo Bernardo e do empresário Ernesto Kugler das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por parte da segunda turma do Supremo, somada à decisão de semana passada que pôs fim às conduções coercitivas são as duas maiores derrotas até agora da coalizão Globo-Lava Jato que manda hoje no Brasil.

Mas a luz no fim do túnel que se vislumbra com a possibilidade de o STF, embora tardiamente, anular as aberrações jurídicas da Lava Jato, que resultaram numa profusão de processos farsescos e prisões ao arrepio da lei, só se materializará se a esquerda e os segmentos democráticos da sociedade entenderem que não há momento mais apropriado para alvejar de forma incessante um inimigo que começa a cambalear.

Só que esse inimigo, em que pese ter sentido os impactos dos dois golpes, ainda é poderoso, pois conta com o apoio de instituições do próprio Estado. A imagem que me vem à cabeça é a de um lutador de boxe que por exibir um cartel repleto de vitórias – não importa se conquistadas com golpes abaixo da linha da cintura – esbanja soberba e arrogância. Mas quando é atingido inesperadamente dá sinais de que pode ser nocauteado, ou derrotado por pontos, pois vaga tonto pelo ringue.

É hora, portanto, do lutador que nos representa partir para resolver a contenda, acertando-lhe o maior número possível de jabs, ganchos, diretos e cruzados. Do resultado desta luta depende a reconquista da democracia, o fim da ditadura de novo tipo que o golpe nos impôs e a restituição dos direitos do povo que foram roubados, além da recuperação da soberania e das riquezas do país entregues aos estrangeiros.

Se é verdade que os verdugos da democracia ainda são fortes – por obra e graça de uma mídia mafiosa que durante anos a fio disseminou ódio e produziu uma legião de descerebrados-, também é inegável que nunca como agora tanta gente consegue enxergar a Lava Jato fora das lentes do senso comum : uma operação política sofisticada cujos objetivos sempre foram o golpe de estado, a prisão de Lula e a cassação do registro do Partido dos Trabalhadores.

Os movimentos sociais devem insistir nesta denúncia junto ao povo. Lentamente está dando resultado. No estrato progressista da classe média, a visão crítica aos métodos da República de Curitiba já se alastra. Cabe ao PT e aliados subir o tom do discurso contra a República de Curitiba e definitivamente o colocar no centro de sua tática política e eleitoral.

Todo o apoio à CPI que o Congresso Nacional, por iniciativa do PT, está prestes a instalar para investigar e trazer à tona o submundo e a indústria das delações premiadas.

 

Fonte: Brasil 247
Créditos: Brasil 247