Em entrevista ao jornalista Florestan Fernandes Junior, divulgada na noite deste domingo (6) no site do jornal El País, Ciro Gomes (PDT) disse que o discurso de posse de Jair Bolsonaro (PSL) foi um “arroubo de palanque que parte da premissa da ignorância do povo”.
“O inquietante é que ele falou isso no discurso de posse, que costuma ser projetado para a história. Não era para ser um arroubo de palanque, mas o que ele repete é um arroubo de palanque que parte da premissa da ignorância do povo. Ele supõe que o povo é burro, incapaz de saber o que é socialismo”, disse Ciro, ressaltando que o discurso mostra o conservadorismo do capitão da reserva.
“Ao afirmar isso, esconjura na palavra socialismo todo o ranço conservador, que tem dois planos: conservadorismo de costumes e conservadorismo econômico. É uma tragédia, porque significa que o camarada, ao iniciar o Governo, anuncia que vai permanecer no palanque. Fica dizendo bobagens superficiais e se afirma num antipetismo também superficial”.
Na entrevista, Ciro afirmou que a oposição precisa colocar em pauta temas que sejam relevantes para o País, como a questão do emprego – que não foi sequer citada por Bolsonaro no discurso de posse.
“Seria um grave erro a gente aceitar a provocação do Bolsonaro de discutir identitarismos. A esmagadora maioria do povo brasileiro, que é pobre, está desempregada, assustada com a violência, maltratada na rede de saúde… Essa gente tende a entender nossas razões se estas razões forem discutidas. Mas se a gente for discutir “kit gay”… não que o assunto não mereça discussão. Estou só dizendo que o Bolsonaro não pode escolher o campo de batalha”, disse.
O pedetista disse ainda que aceitaria uma aliança com o PT, caso seja colocado como nova liderança da oposição. “Acho que sim. Nosso inimigo não é o PT. Agora, nós precisamos não nos comprometer. Estou falando sob o ponto de vista histórico”.
Moro e corrupção
Ciro ainda teceu críticas ao discurso “anti-corrupção” de Bolsonaro – que “já malversou verba do seu gabinete” – e chamou o ministro da Segurança Pública, Sérgio Moro, de “exibicionista”.
“É imperativo, especialmente para quem assentou na sua identidade o moralismo e que tem a presença simbólica do (Sérgio) Moro, um juiz exibicionista, chibata moral da nação. E tem coisas práticas: Bolsonaro, como deputado, já malversou verba do seu gabinete”.
Para Ciro, Moro está obrigado a esclarecer o esquema laranja, que envolve o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Fabrício Queiroz, “uma notícia crime em potencial”.
“O caso do Queiroz, agora, trata-se de uma notícia crime em potencial. É uma questão de moral e de decência esclarecer isso. Até porque esta foi a pedra angular da campanha que deu ao Bolsonaro o mandato como presidente. Se Bolsonaro emprestou dinheiro ao tal Queiroz, cadê o cheque? Que dia foi? Essa foi uma nova operação Uruguai como a do Collor? Foi antes ou depois do escândalo, para tentar cobrir o episódio? Se foi um empréstimo, de onde saiu o dinheiro do Bolsonaro para emprestar? São coisas concretas relativas ao presidente. Sérgio Moro está obrigado a esclarecer isso à nação brasileira”.
Leia a entrevista completa no site do El País.
Fonte: Revista Fórum
Créditos: Redação Revista Fórum