Análise

Centro-esquerda mantém hegemonia política - análise da pesquisa presidencial - Por Leonardo Barreto

Pesquisa nacional de opinião pública divulgada pelo Instituto Paraná Pesquisas nesta terça-feira (03/05) mostra poucas mudanças na disputa presidencial – com todos os candidatos variando dentro da margem de erro –, quando se compara estes resultados aos divulgados no último relatório do Datafolha.

Entretanto, ao se analisar os dados de forma desagregada, é possível formular algumas hipóteses sobre pontos fortes, fracos e possíveis configurações do tabuleiro.

Em síntese

O eleitorado de Jair Bolsonaro (PSL) está concentrado em termos de gênero e faixa etária. A centro-esquerda ainda é a via preferida do eleitor brasileiro e, nesse sentido, há uma bela janela de oportunidade para Marina Silva(Rede), Ciro Gomes (PDT) e Joaquim Barbosa (PSB), mas só se eles construírem uma candidatura única. PT e Geraldo Alckmin (PSDB) estão nas cordas.

Centro-esquerda em vantagem

1. O eleitorado permanece privilegiando a centro-esquerda. Somados, todos os candidatos que disputam esse espaço possuem 41% das intenções de voto. A centro-direita (incluído o deputado Jair Bolsonaro), possui 32% das preferências.

Bolsonaro: homens e jovens

2. O eleitorado de Jair Bolsonaro tem um forte traço masculino e jovem. Há uma correlação entre idade e apoio do deputado fluminense. Entre os mais jovens (16-24 anos), seu percentual atinge 30%. Entre pessoas com mais de 60 anos, o percentual cai para 14%.

3. Entre homens, Bolsonaro tem 27%. Entre mulheres, o deputado cai para 14% das preferências.

Lula bloqueia a entrada de outros nomes na região Nordeste

4. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém reduto na região Nordeste. Enquanto sua média de votos gira em torno de 15% nas demais regiões, chega a 44% no Nordeste.

5. Dessa forma, a presença de Lula bloqueia o avanço de outras candidaturas nos estados nordestinos. O comportamento dos eleitores de Ciro Gomes serve como exemplo. Com Lula no cenário, Ciro possui distribuição uniforme das suas intenções de voto em todas as regiões, em torno de 5%. Sem Lula, o ex-governador cearense salta para 14% das preferências dos eleitores nordestinos, com média de 8,5% nas outras regiões.

Álvaro Dias bloqueia Geraldo Alckmin

6. A região Sul normalmente é simpática a presidenciáveis tucanos. Em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB) venceu na região com quase 3 milhões de votos a mais do que Dilma Rousseff (PT). Em 2006, o então candidato Geraldo Alckmin bateu Lula com 54% dos votos.

7. Desta vez, no entanto, Alckmin sofre a concorrência de um candidato local. O senador Álvaro Dias (Podemos), que tem média de 3% de intenções em outras regiões, atinge 22% nos estados da região Sul;

8. O candidato do PSDB está concentrado na região Sudeste, com 12% dos votos contra uma média de 4% nas outras regiões. Alckmin claramente se ressente da ausência dos eleitores sulistas.

Joaquim Barbosa, Marina Silva, Ciro Gomes e o “dilema do prisioneiro”

9. Na economia, o dilema do prisioneiro trata de situações nas quais haveria ganhos coletivos caso houvesse colaboração entre os atores. Entretanto, com cada um perseguindo exclusivamente seu objetivo individual, a chance maior é de que todos se decepcionem.

10. A forma como todos dividem o espólio de Lula, especialmente Marina (15%) e Ciro (12%) sustenta que ambos vão concorrer dentro do mesmo espectro ideológico.

11. Embora de esquerda, Barbosa (PSB) paga o preço de ter comandado o julgamento do mensalão, quando se trata de herdar os votos de Lula. Apenas 3,6% são dirigidos a ele, percentual menor do que aquele obtido por Geraldo Alckmin (3,9%).

PT nas cordas, mas beneficiário da ausência de coordenação entre as outras candidaturas de centro-esquerda

12. A falta de coordenação entre Marina, Ciro e Barbosa pode ter como resultado o resgate da candidatura do PT.

13. Se houvesse uma união entre os três candidatos (e até Álvaro Dias), o PT definitivamente perderia o posto de principal porta-voz da centro-esquerda. Mantendo-se a divisão, o PT continua no jogo.

14. De todo modo, ressalta-se a condição crítica do PT e sua estratégia de ir com Lula até o final. Sem fazer pré-campanha, um eventual substituto de Lula (Fernando Haddad ou Jaques Wagner) não se tornará conhecido até o começo do período eleitoral e terá cedido espaço aos outros concorrentes.

15. Haddad e Wagner parecem já ter percebido o suicídio que representa ficar preso a Lula. Como não possuem condições de decretar independência, sugeriram ao PT olhar para Ciro com carinho (inclusive, preservando seu fundo eleitoral para campanhas proporcionais).

16. Ambos foram bloqueados pela senadora Gleisi Hoffmann, presidente do partido e principal arquiteta da estratégia de manter o PT na cela com Lula.

Fonte: factual análise
Créditos: factual análise