'Casa comum, nossa responsabilidade' é a campanha da Fraternidade 2016

Por Laerte Cerqueira

O movimento é de conscientização, mas não deixa de ser uma cobrança à sociedade e, principalmente, ao poder público. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs lançam hoje a Campanha da Fraternidade 2016 e colocam o dedo na ferida, para não deixar ninguém esquecer de um problema básico: a falta de saneamento.

Com o tema é “Casa comum, nossa responsabilidade”, a Igreja lembra que todo mundo é um pouco responsável, que é uma questão de cidadania, ação, cobrança, atitude individual e iniciativa da gestão pública. Isso porque as consequências da falta de saneamento têm impacto direto no meio ambiente (rios, açudes, florestas, mangues), no bem-estar, na qualidade de vida, na saúde pública (hospitais superlotados, atendimento precário, falta de medicamentos, proliferação de vírus).

A situação do Brasil não é boa. Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 39% da população brasileira se beneficiam com o saneamento básico: a coleta tratamento de esgoto, destinação correta de resíduo sólido, abastecimento de água. De acordo com o Instituto, apenas 25% da população paraibana têm coleta de esgoto, só 35% dele é tratado. No caso da coleta de resíduos sólidos, a situação é de “chorar”. Apesar do prazo para acabar com os lixões ter encerrado em agosto de 2014, ainda temos mais de 200 deles espalhados por nossas cidades. 90 municípios estão tentando se reunir em consórcios para fazer aterros, mas os projetos não saem do papel. Confiam na prorrogação do prazo até 2021, que será votada no Senado e já passou pela Câmara dos Deputados.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada R$ 1 gasto com saneamento, são R$ 4 economizados com saúde. São menos internações, menos compra de medicamentos. E esse é um debate central. Muitos problemas nas nossas cidades, órfãos de um sistema público de saúde, estariam “controlados” se os gestores levassem projetos de saneamento adiante.

Obrigadas a realizar o saneamento para ter direito a receber as águas do Rio São Francisco, muitas prefeituras paraibanas iniciaram as obras, em parceria com a Funasa- Fundação Nacional de Saúde. Mas, na maioria dos municípios, tudo acontece bem devagar. Vai demorar mais que a própria transposição. São cidades que tiraram o esgoto da rua, mas ainda jogam nos rios, nos açudes. Outras fizeram as lagoas de tratamento de esgoto, que até recebem parte da sujeira, mas estão abandonadas. Não tratam nada e ainda reenviam tudo para os leitos dos rios.

Nas periferias das cidades (grandes e pequenas) os depoimentos do descaso se repetem. Moradores se dizem esquecidos, reclamam das doenças que os atormentam. As crianças são vítimas em potencial. No mundo, a cada 2,5 minutos uma delas morre por causa de problemas provocados pelo contato com o esgoto e com o lixo. O debate é velho, mas precisa ser sempre retomado. Obras de saneamento se escondem e não dão votos. Mas é só revelando a importância delas que vamos fazer com que, mesmo embaixo da terra e longe dos olhares, sejam valorizadas. A Igreja cumpre bem seu papel.

Assume o diretório