O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT), nunca deu sinais de que tem vontade de deixar o PT. Qualquer comentário nessa linha parece especulação sem fundamento. Ele tem “raízes”, tem orgulho de se manter no partido por décadas e, apesar da legenda estar com nome na lama, não se sente “melado” pela sujeira. Verdade seja dita: ele fez por onde. Aqui, nunca se meteu em escândalos. Ou, pelo menos até agora, ninguém soube de nada.
Cartaxo também se mantém numa distância segura dos episódios, em Brasília. Sua relação histórica e partidária com alguns dos envolvidas no mensalão e, agora, no petrolão, nunca o colocaram sequer próximo aos personagens. Com imagem dissociada, não pega a rebordosa.
Também escolheu ser discreto e evita entrar em bola dividida quando o assunto da conversa são os atropelos da companheirada da política nacional. Ou quando estão em debate os erros do partido, que há pouco mais de 12 anos era símbolo da luta contra corrupção e, agora, é marcado pela roubalheira, pela propina e pelas negociatas. Imagina-se que Cartaxo quer ficar longe de tudo isso. Mas o receio de se “misturar” não pode ser maior que a natural ligação entre ele, o governo e o partido que representa. Talvez tenha sido isso que aconteceu na última sexta-feira, na visita da presidente Dilma Rousseff a JP, para o lançamento do Dialoga Brasil.
Cartaxo abriu o evento no Centro de Convenções, mas não empolgou. Talvez “chateado” com o governo, que tem retido recursos de convênios, não fez a mise-en-scène que o momento exigia. Na frente de uma torcida praticamente a favor da presidente e dele, fez um discurso frio, sem brilho e sem valorizar o papel do governo do PT em JP.
Cartaxo não soube capitalizar. Não soube destacar, por exemplo, que a política de construção de creches, postos e academias de saúde está dando muito certo na capital, com total apoio do governo federal. Cartaxo tinha tudo para, generosamente, deixar a bola na frente do gol para Dilma bater. Mas jogou como um armador (meia) perna de pau.
Talvez tenha lembrado mais do dinheiro que o governo federal “deve” a João Pessoa, seja para concluir a Lagoa ou para recuperação do São José, do que dos benefícios que já trouxe. Era a hora de dizer que, na capital, os recursos estão sendo investidos de maneira eficiente e eficaz e vale a pena manter um olhar especial, com recursos fundo a fundo, convênios, parcerias ou pequenas contrapartidas.
Se antes o clima parecia ser de cobranças e pedidos, passou a ser de fortalecimento do governo, valorização e defesa. Cartaxo não entrou no clima e teve a participação diminuída. A impressão é que ficou com muitas pendências entaladas na garganta e esqueceu-se de fazer o “jogo”. Resultado: Ricardo Coutinho, com discurso forte, roubou a cena aqui em JP e em Campina. Para piorar, o prefeito de Campina, Romero Rodrigues (PSDB), jogou totalmente a favor do time de Dilma, adversário de seu partido. Cartaxo tinha tudo para driblar a adversidade e dar o toque que a presidente esperava. O toque saiu errado.
Laerte Cerqueira
Fonte: Jornal da Paraíba