Eleições

BRIGAS ACIRRADAS: Relembre as grandes disputas históricas pela Prefeitura de João Pessoa

As eleições municipais são famosas por suas disputas acirradas e históricas que norteiam milhares de cidades do país a cada quatro anos.

Arte: Marcelo Jr

As eleições municipais são famosas por suas disputas acirradas e históricas que norteiam milhares de cidades do país a cada quatro anos.

Aqui na Paraíba, cada município tem sua particularidade. Existem aquelas cidades onde a população é totalmente dividida e que as eleições são decididas por uma margem mínima de votos, por outro lado vemos locais capitaneadas por famílias ou grupos políticos, que conseguem ficar mais de 20 anos no poder.

Após o fim da Ditadura Militar, houve a instauração do pluripartidarismo e o retorno das eleições livres na capital, o que proporcionou uma maior liberdade e mudanças profundas na política paraibana que se intensificaram a partir de 1985.

Nessa matéria nós iremos relembrar oito das disputas mais acirradas em João Pessoa, seus atores políticos e todo o enredo de grandes embates da história pessoense.

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O golpe militar de 1964, tirou a liberdade política da escolha de Presidentes, Governadores e Prefeitos das 27 capitais da federação. Em João Pessoa, o último Prefeito eleito antes da Ditadura, havia sido Domingos Mendonça Neto em uma acirrada disputa contra Robson Duarte Espínola.

De 1966 a 1985, tivemos cinco Prefeitos da capital sendo nomeados pelo Governador do estado, se destacando os dois mandatos de Damásio Franca, que ficou nove anos no cargo.

O começo da abertura política no início dos anos 80, trouxe as primeiras eleições propriamente livres em 1982, quando tivemos disputas para a Assembleia, Câmara Federal, Senado, Governo e Prefeituras de todas as cidades da Paraíba, exceto João Pessoa, onde o Ato Institucional Número três permitia apenas eleições para vereador.

Finalmente no dia 15 de Novembro de 1985, os habitantes da capital puderam votar para Prefeito pela primeira vez desde 1963.

O pleito teve seis candidaturas, Josélio Paulo Neto (PDT), Damião Galdino da Silva (PPB), Wanderlei Caixe (PT), Calos Gláucio Sabino de Farias (PL) e às duas principais chapas Carneiro Arnaud (MDB) e o seu vice João Cabral Batista (PFL), contra Marcus Odilon e o seu vice Gilvan Navarro, ambos do PTB.

Odilon que já havia sido Prefeito de Juarez Távora e Santa Rita, tinha sido eleito Deputado Estadual em 1982, com a segunda maior votação do estado. Apoiado pelo ex-Governador Tarcísio Burity, que indicou seu cunhado, Gilvan Amorim Navarro como vice na chapa, a união PTB -PDS teve que lutar contra uma das maiores alianças na história da política paraibana.

MDB e PFL se juntaram pensando em uma provável união na eleição para o Governo em 1986. O Governador Wilson Braga, amparado por  João Agripino Filho, Dorgival Terceiro Neto e Damásio Franca decidiu ingressar no PFL, após sair do PDS, propondo uma aliança ao Senador Humberto Lucena com a intenção de formar uma chapa onde Braga seria o Senador e Humberto o candidato ao Governo em 1986.

O escolhido do grupo foi o Deputado Federal Antônio Carneiro Arnaud, sobrinho de Rui Carneiro, um dos primeiros grandes símbolos do MDB na Paraíba.

Os apoios do Presidente Sarney, do Governador Wilson Braga e do Prefeito Osvaldo Trigueiro foram primordiais para a vitória de Arnaud, com pouco mais de 10 mil votos, 60.791 (49,60%), contra 50.387 (41,12%) de Marcus Odilon.

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A união Braga-MDB em 85 não durou sequer até as eleições de 1986, quando Wilson que era o atual Governador, acabou vendo a derrota do seu indicado Marcondes Gadelha ao Governo e a chance de ser Senador derreter, ao ficar na terceira colocação atrás de Raimundo Lira e Humberto Lucena.

Como ainda não existia reeleição, o MDB que tinha eleito Carneiro Arnaud em 1985, os dois Senadores e o Governador Tarcísio Burity em 86, aparecia como o franco favorito a abocanhar a capital em 1988.

O primeiro nome que apareceu como provável candidato pelo MDB às eleições municipais de 1988, era o do Deputado Federal Antônio Mariz que recusou a candidatura, preferindo continuar em Brasília visando o Senado em 1990. Após muitas discussões, o escolhido foi Haroldo Lucena, que era Presidente Estadual do partido e irmão do Senador Humberto Lucena.

O pleito teve mais seis candidaturas, Jaemio Ferreira (PV), Antônio Augusto Arroxelas (PDT), Hermano de Almeida (PTB), Carlos Bezerra
(PT), João da Mata (PDC) e a volta do ex-Governador Wilson Braga (PFL).

Após a derrota acachapante nas eleições de 1986, quem aparecia como provável escolhida do grupo Braga para as eleições na capital, era a sua esposa e Deputada Federal Lúcia Braga, que desistiu de concorrer após um grave acidente que deixou a filha do casal em estado de  paraplegia.

Com a desistência de Lúcia, o ex-Governador tomou a dianteira do grupo, sempre aparecendo em primeiro lugar nas pesquisas. As brigas internas do MBD ocasionaram no apoio do Governador Burity ao Deputado Federal João da Mata, em detrimento ao candidato do seu próprio partido, o que tirou muita força da candidatura de Haroldo Lucena.

Essa fragmentação entre as outras candidaturas, só ajudou a campanha de Braga que venceu a eleição com certa tranquilidade, atingindo 77.377 (52,35%) dos votos, contra 28.183 (19,07%) de João da Mata e 25.397 (17,18%) de Haroldo Lucena.

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Wilson Braga decidiu renunciar ao cargo para disputar o Governo em 1990, quando foi derrotado por Ronaldo Cunha Lima. Seu vice Carlos Mangueira, foi quem assumiu o cargo, ficando na prefeitura entre abril de 1990 e dezembro de 1992.

As eleições de 1992 foram as primeiras com a possibilidade de disputa em segundo turno. Sete candidaturas se apresentavam ao pessoenses, Eduardo de Oliveira e Silva (PST), Djacy Lima (PMN), José Bartolomeu (PTB), Pedro Adelson (PSDB), Delosmar Júnior (MDB), Chico Lopes (PT), e Chico Franca (PDT).

O candidato do grupo Braga seria a Deputada Lúcia Braga, que teve o registro da candidatura impugnada por supostas irregularidades quando esteve à frente da Fundação Social do Trabalho-Funsa. Sua saída, alavancou a candidatura de seu vice Francisco Xavier Monteiro da Franca, conhecido por Chico Franca, filho do ex-Prefeito Damásio Franca.

Ronaldo Cunha Lima era a favor da candidatura de João Agripino Neto que o apoiou no segundo turno contra Wilson Braga em 1990, mas o diretório do MDB, foi contra a determinação do Governador e nomeou o Vereador Delosmar Mendonça Júnior como o candidato do partido.

Sem o apoio de Ronaldo, a candidatura de Delosmar ficou enfraquecida, o que ajudou a empreitada do Deputado Estadual Chico Lopes, trazendo pela primeira vez o protagonismo ao PT em uma importante disputa na Paraíba.

De forma surpreendente, Lopes ficou em segundo lugar no primeiro turno, ultrapassando toda a máquina do MDB, atingindo 45.543 votos (29,27%), contra 65.256 (41,94%) de Chico Franca.

O segundo turno foi mais tranquilo para Franca que conseguiu se eleger com 102.878 votos ( 58,91%), contra 71.750 (41,08%) de Lopes.

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O pleito de 1996 colocou frente a frente o ex-Governador amparado pela máquina do MDB, contra a representante da família que estava mandando na capital nos últimos 8 anos.

Pela primeira vez tivemos oito candidaturas em João Pessoa, Lourdes Sarmento (PCO), Álvaro Cavalcanti (PMN), Afonso de Abreu (PSTU), Mário da Cruz (PRP), Nadja Palitot (PSB), Luiz Couto (PT), Lúcia Braga (PDT) e Cícero Lucena (MDB).

Cícero era um nome pouco conhecido do grande público paraibano, quando foi escolhido como o candidato a vice na chapa de Ronaldo Cunha Lima ao Governo em 1990. Em 1994, com o afastamento de Cunha Lima para candidatar-se ao Senado, Lucena assume o governo do estado para o restante do mandato. Com 37 anos de idade, ele é até hoje o governador mais jovem da Paraíba.

Em 1995 chefiou a Secretaria Especial de Políticas Regionais, então órgão do Ministério do Planejamento, no Governo FHC, o que o credenciou como o candidato do partido para as eleições de 1996.

Após tentativas frustradas em 1988 e 1992, Lúcia Braga teve a chance de ser Prefeita de João Pessoa, mas o desgaste dos oito anos do grupo Braga no poder, não dava a Lúcia a força de eleições anteriores. Esse enfraquecimento, deu ânimo a duas candidaturas no espectro da esquerda.

Nadja Palitot era uma jovem advogada que estava em sua primeira eleição e despontava como uma surpresa, enquanto o Padre Luiz Couto havia sido Deputado Estadual em sua primeira eleição no ano de 1994 e era o nome forte do PT na Paraíba.

Amparado pela força de Ronaldo e do Governador José Maranhão, Cícero foi o líder com folga no primeiro turno, a disputa para quem ia disputar com Lucena o segundo turno, foi que norteou aquela eleição. Mesmo com toda força dos Bragas, Palitot e Luiz Couto ficaram muito perto de abocanhar a segunda colocação, mas foi Lúcia quem atingiu 51.982 votos (24,78%) contra 89.457 (42,64%) de Cícero.

O segundo turno que parecia algo apenas protocolar para Lucena, foi mais acirrado do que muitos esperavam, com Cícero vencendo por pouco mais de 20 mil votos, 115.937 (55,36%) versus 93.494 (44,94%) de Lúcia Braga.

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Após a vitória acachapante de Cícero contra Luiz Couto em 2000, pela primeira vez não teríamos alguém do grupo Braga ou um nome do MDB como principais postulantes a prefeitura da capital.

Os cinco candidatos em 2004 foram: Antônio Radical (PSTU), Lourdes Sarmento (PCO), Avenzoar Arruda (PT), Ruy Carneiro (PSDB) e Ricardo Coutinho (PSB).

Com uma família enraizada na história da Paraíba, Ruy foi eleito vereador pela primeira vez em 1992, com apenas 22 anos. Reeleito em 1996, Carneiro conseguiu mais dois mandatos seguidos, só que dessa vez na Assembleia Legislativa, em 1998 e 2002.

Durante esse período como Deputado Estadual, Ruy também foi Chefe da Casa Civil da Prefeitura de João Pessoa, na gestão de Cícero Lucena. Os dois saíram do MDB, ao lado dos Cunha Lima, após o famoso racha com José Maranhão, transformando o PSDB no principal partido do estado, no começo do século XXI.

Como um dos homens fortes da gestão de Cícero, Ruy era o candidato natural a disputa de 2004. O problema era o surgimento de um nome da esquerda que atraía os holofotes da cidade. Ricardo Coutinho foi eleito Deputado Estadual ao lado de Ruy em 2002, com a maior votação da história da Paraíba em uma disputa para a Assembleia, com a maioria dos votos vindos da capital.

Ricardo e Ruy eram completos opostos em tudo, mas tinham em comum a mesma trajetória política, desde 1992 um sempre estava ao lado do outro seja na Câmara ou na Assembleia. A eleição de 2004 foi um embate de ideias e de uma nova geração em João Pessoa. Após sair do PT, Ricardo encontrou no PSB, um partido que tinha ideais parecidos com o seu e onde poderia ser o chefe de um projeto de poder. Já no caso de Ruy, ele teria ao seu lado o apoio do recém-eleito Governador, Cássio Cunha Lima e todo aparato da máquina pública municipal, amparada por Cícero.

Coutinho conseguiu formar uma aliança com o MDB e o então Senador José Maranhão, para pensar em uma chapa que derrotasse os Cunhas Lima. O escolhido para ser o vice de Ricardo, foi Manoel Júnior, que optou por largar seu mandato na Assembleia para embarcar na empreitada de Coutinho.

Todos os indícios eram que a eleição seria apertada, mas a força da esquerda e de Ricardo em João Pessoa, trouxeram uma derrota acachapante para toda a máquina do PSDB, com Coutinho atingindo 215.649 votos (64,45%) contra 103.108 (30,82%) de Carneiro.

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Em 2012, Ricardo Coutinho estava no auge da popularidade ao ser eleito Governador em um segundo turno elétrico contra o saudoso José Maranhão. A escolha do nome da situação parecia ser confortável, o Vice-Prefeito Luciano Agra tinha boa aprovação da população e caminhava para uma vaga no segundo turno.

Em janeiro, ele havia declarado abrir mão de ser pré-candidato, mas, no dia 30 de maio, voltou atrás e garantiu que queria retomar a candidatura, inclusive pedindo ajuda à direção nacional do PSB.

Mas as ideias de Coutinho eram diferentes e ele bateu o pé pela candidatura de Estela Bezerra, que era uma completa desconhecida do grande público paraibano. Após muitas brigas na justiça, uma prévia foi realizada onde Estela ganhou por uma margem tranquila, se tornando o nome do Governador.

A oposição apresentou três nomes muito fortes, o ex-Governador José Maranhão (MDB) decidiu se candidatar apenas dois anos após a derrota para Ricardo na disputa ao Governo. O ex-Prefeito Cícero Lucena (PSDB), tinha sido eleito Senador em 2006 e queria derrotar Ricardo Coutinho, que havia vencido o PSDB em duas eleições consecutivas. E por último Luciano Cartaxo (PT), Vereador por vários mandatos e Vice-Governador ao lado de Maranhão, Cartaxo apareceu como um azarão que surfava na popularidade de Dilma e Lula, em um dos melhores momentos do PT nacionalmente.

Os outros três candidatos foram: Lourdes Sarmento (PCO), Antônio Radical (PSTU) e Renan Palmeira (PSOL).

A eleição foi muito disputada com os quatro principais candidatos com chances de ir para o segundo turno. Cartaxo foi uma surpresa tendo 38,32% dos votos na liderança isolada, já na segunda colocação, Cícero conseguiu ter uma vantagem mínima de apenas 672 votos na disputa contra Estela.

No segundo turno os eleitores de Maranhão e Coutinho preferiram seguir ao lado de um nome mais à esquerda e elegeram Luciano com uma larga vantagem sobre Lucena, 246.581 votos (68,13%) x 115.369 (31,87%).

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A popularidade de Ricardo Coutinho continuava em alta após a sua reeleição em uma vitória histórica sobre Cássio Cunha Lima em 2014.

Mas a força do primeiro mandato de Luciano Cartaxo, colocava em prova as aspirações do Governador em conseguir emplacar uma aliada na prefeitura da capital.

A escolhida do grupo Coutinho foi a Professora e Secretária de Estado do Desenvolvimento, Cida Ramos, que tinha com Estela a similaridade de ser até então, desconhecida por parte do grande público, por nunca ter colocado seu nome em uma disputa política.

A eleição de 2016 teve apenas quatro candidatos, os outros dois foram: Charliton Machado (PT) e Victor Hugo (PSOL).

Um dos principais temas daquela eleição, foi a saída de Cartaxo do PT para o PSD em 2015 . O principal questionamento dos analistas e da militância do partido, era de que o Prefeito decidiu largar a legenda em seu pior momento, para não se atrelar ao PT no auge dos escândalos da Lava-Jato.

Experiente na luta sindical e ao lado de um Governador bastante atrelado a esquerda, Cida tentou angariar os votos daqueles que votaram em Cartaxo nas eleições de 2012, se mostrando como a única candidata de esquerda do pleito.

Mesmo com essas polêmicas e com a força de Ricardo, Luciano conseguiu o apoio de outros partidos políticos, somado a articulações eficientes na costura de alianças com nomes do centro, derrotando a máquina do estado de forma bastante tranquila, ao atingir 222 689 votos (59,67%) contra 125 146 (33,54%) de Cida.

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O pleito de 2012 é considerado por muitos a primeira grande eleição na história recente da capital. Estela Bezerra, Cícero Lucena, José Maranhão e Luciano Cartaxo protagonizaram um primeiro turno eletrizante, com Cartaxo na liderança e Cícero ficando na frente de Estela por menos de mil votos.

No segundo turno os eleitores de Maranhão e Coutinho preferiram seguir ao lado de um nome mais à esquerda e elegeram Luciano com uma larga vantagem sobre o ex-Prefeito.

Após sair do PT em 2015 e conseguir se reeleger em 2016, Cartaxo decidiu apoiar em 2020, a candidatura de sua Secretária Edilma Freire, que repetindo o caso de Estela não era muito conhecida pelos pessoenses. A eleição apresentava o número recorde de treze candidaturas, mas cinco nomes apareciam com chances de segundo turno.

O ex-Governador Ricardo Coutinho (PSB), que havia rompido com João Azevêdo e chegava enfraquecido para a eleição após os primeiros desdobramentos da Calvário, Ruy Carneiro (PSDB), que havia sido derrotado por Coutinho em 2004, Wallber Virgolino (Patriota) que havia sido eleito Deputado Estadual em 2018 pautado no bolsonarismo, Nilvan Ferreira (MDB) que mesmo filiado a um partido de centro, sempre se colocou mais inclinado a extrema-direita e Cícero Lucena (PP).

Lucena não disputou a reeleição ao Senado em 2014 e estava um tanto quanto sumido da vida pública. No começo da campanha acidentada pela pandemia, poucos acreditavam em sua vitória. Mas o derretimento de Ricardo e a falta de apoio a candidata de Cartaxo abriram as portas para Cícero que conseguiu angariar votos de setores do centro e da esquerda que não queriam Nilvan ou Wallber vencendo. O primeiro turno foi incrivelmente mais disputado que 2012, com Cícero um pouco na frente ao atingir 20,72%, e Nilvan e Ruy disputando a segunda colocação voto a voto, com Ferreira ficando na frente.

Lucena conseguiu atrair aqueles que não desejavam o bolsonarismo na prefeitura, conseguindo vencer o segundo turno em uma porcentagem muito apertada ao atingir 185.055 votos (53,16%), contra 163.030 votos (46,84%).

Fonte: Vitor Azevêdo
Créditos: Polêmica Paraíba