Cerca de 50 brasileiros receberam a presidente Dilma Rousseff em sua chegada a Nova York, na noite desta quinta-feira, em frente à residência oficial do embaixador Antonio Patriota na cidade. O grupo levou flores para a presidente se manifestou contra o impeachment com palavras de ordem, cartazes e tambores. Na sexta-feira, ela participará de encontro na sede das Organizações das Nações Unidas (ONU), no qual fará um discurso de cinco minutos diante dos chefes de estado.
— A gente pensou nessa história das flores depois que a presidente Dilma recebeu flores no Palácio do Planalto por um grupo de mulheres. Foi um gesto muito bonito — afirma Flavia Fontes, brasileira radicada em Nova York, que aguardava a presidente.
De acordo com os manifestantes, o movimento foi organizado pelas redes socias. Os cartazes continham dizeres desde “Impeachment é ilegal” até “Fora Cunha”, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
— Não ficamos temerosos de econtrar protestos a favor do impeachment. Os golpistas preferem se manifestar na Times Square, lugar turístico — disse a gaúcha Patricia Matzbacher, que mora nos EUA há dez anos, referindo-se a um dos símbolos da cidade.
SITUAÇÃO POLÍTICA NO ROTEIRO DO DISCURSO
No discurso de cinco minutos, durante a assinatura do acordo climático na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), a previsão é que Dilma fará uma breve citação à situação política do país. Na entrevista que dará a seis veículos de imprensa internacional, a presidente deve explorar com mais detalhes o discurso de que foi vítima de um golpe. Dilma terá ainda conversas paralelas com outros líderes mundiais, como os presidentes Barack Obama (EUA) e François Hollande (França).
O discurso de Dilma deverá focar no papel decisivo que o Brasil teve para que a 21ª Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21) chegasse ao acordo mais importante sobre redução de gases de efeito estufa desde o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997. Auxiliares da presidente a aconselharam a tratar do impeachment durante a entrevista coletiva, para evitar desconforto entre os líderes mundiais reunidos para tratar de um tema ambiental.
Em algum momento, Dilma apresentará os argumentos de que as pedaladas fiscais foram feitas por outros presidentes antes dela e não deveriam configurar crime de responsabilidade. Dirá também que os decretos orçamentários não serviram para beneficiá-la pessoalmente, que mais uma vez é vítima de uma injustiça e que o impeachment é um golpe na democracia.
A decisão de participar do evento da ONU, tomada pouco mais de 24h antes de embarcar, levou em conta a agenda positiva que o acordo climático representa para Dilma e a chance de ela demarcar sua versão na esfera internacional. O Planalto vem monitorando a cobertura da imprensa estrangeira sobre a crise brasileira e avalia que os veículos de fora têm dado mais espaço para os argumentos de defesa da presidente.
Em seu editorial, esta semana, o New York Times afirma que o problema contra Dilma não são as manobras fiscais, feitas por outros governantes brasileiros, mas sim a culpa que ela está levando pela crise econômica, que se soma às investigações que envolvem boa parte da classe política. Segundo o jornal americano, o impeachment é na verdade um referendo sobre a gestão do PT.
Para um negociador climático do Brasil, é vantajoso para Dilma se apresentar num momento crítico como este:
— Dilma está vindo aqui porque esta é a grande contribuição da gestão dela para o mundo.
Rubens Barbosa, embaixador aposentado e presidente do Instituto de Relações Internacionais e de Comércio Exterior, acredita que, se Dilma falar sobre impeachment e golpe, será algo gravíssimo.
— Seria algo lamentável, prejudicaria a imagem do Brasil — disse Barbosa.
Já o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Thiago Galvão, acha que dificilmente Dilma falará diretamente sobre o tema.
— Se a presidente da República trouxer à tona a questão, será em conversas paralelas com autoridades americanas e de outros países.
As propostas dos negociadores brasileiros na COP 21, em dezembro passado, foram decisivas no acordo fechado por 195 países em Paris, no qual o mundo concordou em caminhar para uma economia de baixo carbono.
— Dilma não poderia ficar fora dessa foto. O Brasil foi muito importante para termos o acordo de Paris — disse ao GLOBO a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que está nos EUA com Dilma.
Fonte: G1