Além de querer um nome terrivelmente evangélico para o STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) quer alguém com um perfil parecido para comandar a Ancine (Agência Nacional do Cinema).
A informação foi dada pelo presidente durante conversa de uma hora e meia com um grupo de jornalistas no Quartel-General do Exército, em Brasília, na tarde deste sábado (31).
Ao comentar o afastamento de Christian de Castro da presidência da Ancine por decisão judicial, Bolsonaro voltou a demonstrar descontentamento com a gestão da agência e sugeriu que ele não teria o perfil que gostaria para o órgão.
Para ele, o presidente da Ancine deveria ser um evangélico que conseguisse recitar de cor “200 versículos bíblicos”, que tivesse os joelhos machucados de tanto ajoelhar e que andasse com a Bíblia debaixo do braço.
Nesta semana, Bolsonaro assinou decreto afastando Castro, cumprindo a decisão judicial baseada em ação do Ministério Público Federal. O órgão apura um suposto conluio entre o ex-dirigente, servidores e o atual secretário de Cultura e Economia Criativa do estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão.
Com a saída de Castro, Alex Braga assume a Ancine.
A investigação supõe que Castro e outros dois servidores da Ancine, também afastados, teriam acessado o sistema eletrônico da agência para obter e repassar informações sigilosas a um sócio do ex-presidente afastado. E aponta que Sá Leitão e outras três pessoas teriam deixado de comunicar o ocorrido às autoridades, incidindo em prevaricação.
O governo tenta aumentar seu controle sobre a agência. O presidente chegou a dizer que pretendia extinguir a agência caso não pudesse implantar um “filtro de conteúdo” —intenção encarada como censura pelo setor.
No último dia 21, o secretário especial da Cultura, Henrique Pires, deixou o cargo por não admitir que o governo imponha “filtros” na cultura. O anúncio ocorreu após suspensão de um edital de projetos LGBT para TVs públicas criticado por Bolsonaro.
O presidente, em live nas redes sociais, ressaltou que a Ancine não liberaria recursos do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) para projetos com a temática de sexualidade. Ele ainda disse que se a agência reguladora “não tivesse, em sua cabeça toda, mandatos”, já teria “degolado tudo”. Hoje, a diretoria colegiada tem três pessoas com mandatos de quatro anos.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Danielle Brant