Depois de adotar um discurso mais atraente ao mercado, com propostas de cunho liberal, o pré-candidato do PSL à Presidência, deputado federal Jair Bolsonaro, retomou temas polêmicos. Em entrevista ao Estado, ele defendeu a construção de campos de refugiados para venezuelanos que chegam ao Brasil. “Já temos problemas demais aqui”, disse ele, que falou em um quiosque no Posto 4 da Barra da Tijuca, próximo a sua casa, no Rio. Mesmo filiado a um partido com poucos recursos, Bolsonaro, que lidera pesquisas de intenção de voto em cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, disse que está “muito satisfeito” com a estimativa de que poderá gastar até R$ 3 milhões na campanha ao Planalto.
O PSL tem R$ 9,2 milhões de fundo eleitoral e outros R$ 5 milhões de fundo partidário. Quanto o senhor pretende gastar na campanha eleitoral?
Antes de escolher o PSL, sabia que nenhum partido médio e grande iria me aceitar e me preparei para fazer campanha com R$ 1 milhão para gastar em 45 dias. É mais do que suficiente. Do montante total de recursos do PSL, me caberão cerca de R$ 3 milhões. Estou muito satisfeito com o que possa ter via fundo partidário.
O senhor filiou-se a um partido pequeno, com pouco tempo de televisão e poucos recursos. Como pretende fazer campanha?
Eu não tenho obsessão para chegar lá. Quem vai decidir se eu vou estar lá ou não vai ser o povo brasileiro. Se eu for fazer a mesma coisa que os outros, procurar alianças, recursos, e com as alianças vier o tempo de televisão, eu estarei me igualando aos demais pré-candidatos.
Caso vença a eleição, como o senhor pretende governar em minoria no Congresso?
Eu serei o único pré-candidato que, quando começarem as eleições, já terei todo o ministério apresentado. Eu não vou esperar acabarem as eleições, como todo mundo faz, a futura vitória nas urnas, e depois ir para os porões do Jaburu juntar com as pessoas conhecidas de sempre do Legislativo, para lotear o governo. Para fazer a mesma coisa, estou fora.
Haveria algum grupo de partidos que seriam seus aliados preferenciais?
Não tenho. Ninguém chegou para tentar negociar comigo nada. Nenhum partido. Eles sabem que o que eles querem negociar eles não terão de mim, como ministério. Esses dias, eu conversei com o astronauta Marcos Pontes (tenente-coronel da Força Aérea Brasileira, hoje na reserva) a gente teve uma conversa de uns 40 minutos em Brasília. Ele quer, no futuro, dado a sua vida pregressa, formado pelo ITA, sua vida da Nasa, a experiência que ele tem em Ciência e Tecnologia e Inovação, queria participar do governo futuro. Não é como ministro, participar do governo, apenas. E eu abri as portas do governo para ele. Eu falei, olha, se eu chegar lá, possivelmente você será lembrado como ministro. Se eu perguntar para o grande povo quem é o nosso ministro da Ciência e Tecnologia, 99% não sabe. Eu não vou falar o nome dele para você, que você sabe. Mas tenho certeza que se perguntar para ele sobre Lei da Gravidade e gravidez ele acha que é a mesma coisa. Nós não podemos ter esse tipo de gente que pode ser muito bom em outro ministério. Mas não podemos ocupar um ministério estratégico como esse como pessoas que são incompetentes. Eu sou incompetente para ser médico, eu sou incontinente para ser ministro da economia, não tenho aptidão para isso. Talvez, o Ministério da Defesa. Agora você não pode continuar loteando os ministérios para gente que não tem qualquer intimidade com aquilo que deveria ser feito.
O senhor já tem quais nomes definidos para ministro?
Não vou falar em ministro, mas o Paulo Guedes é um excelente nome para Fazenda e Planejamento, que vai ser um ministério só. O Ministério da Defesa já conversei e acertei, quem vai indicar o quatro estrelas vai ser o general Augusto Heleno. Eu tenho conversado com setores do agronegócio. O futuro ministro da Agricultura e Meio Ambiente, que vai ser um ministério só, (quem indicará) vão ser as entidades produtoras (rurais) do Brasil.
O MDB, ex-PMDB, esteve em quase todos os governos desde a redemocratização. Teria espaço no seu governo?
Esse espaço que está na tua cabeça, não. Eu tenho um grupo, que está chegando a 40 deputados federais, todos devem ser reeleitos. Por que Roraima, por exemplo, está fadado ao fracasso? Por causa da política ambiental indigenista. Como atender à demanda para que esses bens sejam explorados agregando algum valor para atender às bancadas desses Estados? E assim a gente vai ponteando o Brasil todo. Comigo não existirá Ministério das Cidades. Por que tem que ter Ministério das Cidades se você pode o pegar dinheiro diretamente do governo e dar para o prefeito fazer obra no município? Só aí você economiza 4% que é a taxa que a Caixa Econômica fica para si.
E o PSDB, teria algum lugar?
Falei para você que estamos negociando individualmente. Se algum partido quiser se aliar a nós, será bem vindo. Agora, a bandeira que nós temos, a questão do desarmamento, o PSDB não vai topar, acho difícil. O PSDB atrapalhou a redução da maioridade penal na votação da Câmara. Aceitou para determinados tipos de crime. A política externa nossa está sendo feita pelo viés ideológico, será que o PSDB topa isso? Será que o PSDB tem simpatia com o Foro de São Paulo? A questão da violência, nós temos que dar carta branca para o policial não morrer mais ainda. Após uma operação, o policial tem que ser condecorado e não processado. O PSDB topará fazer isso aí? Acredito que seria muito difícil.
Se a inviabilização de Lula se confirmar na disputa, quem é o seu principal adversário?
É igual quando você tem um time de futebol, a gente entra em campo para ser campeão. A gente não pode entrar em campo preocupado em ser rebaixado. Então, não tô preocupado se é o Lula, se é a Marina, seja quem for. Como não temos obsessão, como não fazemos acordo com o diabo como Dilma falou que fazia, como deve ter feito, para ganhar a eleição, a gente está tranquilo. Eu sou diferente de todos eles juntos. Hoje, parece que o polemicamente correto virou uma doença no meio da classe política. Eles não se posicionam no tocante a nada. Se perguntar sobre aborto eles não dizem, como eu definido. Até a questão LGBT que falam tanto, eu tenho a minha posição, que é o material escolar que eu sou contra. No resto, vão ser felizes.
O que o senhor acha do movimento LGBT?
É uma minoria que ganha dinheiro em cima disso. Agora, a maioria dos homossexuais vota em mim hoje em dia, acredite se quiser.
Como sabe disso?
O pessoal conversa comigo.
E pensa em propor leis para esse segmento?
Se eu der um tiro em você só porque você é torcedora de um time de futebol, além de responder pelo crime de homicídio, eu tenho que ter uma circunstância agravante: motivo fútil. Você briga com o cara porque é homossexual. Você vai responder por lesão corporal e mais um agravante, por (a vítima) ser homossexual. É isso, mais nada que isso.
E a questão dos direitos humanos?
Esse pessoal que defende direitos humanos de marginais, em grande parte, vive de dinheiro de ONGs. Não terá um centavo para ONG que defenda o direito de marginais. O marginal para mim é um bandido que só tem um direito para mim: o de não ter direito e ponto final.
Mas acha que os direitos humanos seriam só voltados para marginais?
Hoje em dia é isso que é verbalizado para qualquer um aqui. Se você perguntar para qualquer um que passa no calçadão eles vão te responder isso aí. Geralmente eles têm advogados, têm gente que os aconselham como proceder, e estão sempre do lado da bandidagem, nunca do lado do agente da lei.
No seu governo como seria a pasta dos Direitos Humanos?
Atender às vítimas da violência e ponto final.
A intervenção no Rio pode tirar o seu discurso de campanha?
Não estou preocupado com isso. Eu quero mais é que dê certo. Eu votei favorável. Agora, está na cara que ele (o presidente Michel Temer) segue, que o governo tem seguido algumas bandeiras minhas. Eles mudam porque o que a massa do povo quer é efetividade. Não é essa historinha de dar outra chance, audiência de custódia, política de desencarceramento. “Ó os presídios estão cheios, eles vivem muito mal acomodados”. O pessoal está enjoado disso aí. A cadeia é um local extremamente democrático, vai para lá quem fez muita besteira.
O senhor vai atuar para a criação de uma bancada da metralhadora, mesmo?
O que eu falei foi que as bancadas de segurança, que é conhecida pela bancada da bala, vai aumentar e muito. Que a violência é o que tá cabeça de todo mundo como o primeiro assunto a se buscar uma solução para ele.
O senhor tem assumido um pensamento liberal em assuntos econômicos. Contudo, historicamente, o senhor sempre defendeu um Estado mais intervencionista, nacionalista. O que mudou?
Bem, só os hipócritas não evoluem. Outra coisa, eu tenho formação militar, fiquei 16 anos no exército brasileiro. Naquela época, você tinha que ter as estatais, você não tinha outra maneira de fazer o Brasil crescer. Agora, as estatais naquela época eram muito melhor administradas do que eram hoje. Tinham muitos coronéis nas estatais. Existia corrupção? Sim, mas não nesse nível que é hoje. Hoje, as estatais são foco de corrupção, infelizmente. A partir desse princípio, buscando a produtividade a transparência, hoje mesmo conversei com o Paulo Guedes, esse assunto eu nem toco mais com ele, acho que no primeiro ano, dá para um terço das estatais serem privatizadas ou extintas.
Quais seriam extintas?
Em especial, as quase 50 feitas pelo PT. Nós vamos acabar com o criadouro do mosquito da dengue e lá é o criadouro de militantes, apadrinhados políticos. Estatais que não produzem nada.
E como estão sendo esses encontros com o Paulo Guedes?
Duas vezes por mês. Logicamente, que vão se aprofundar esses encontros.
Como se deu a sua aproximação com o Paulo Guedes?
Ele aconteceu, como acontece com o seu namorado, aconteceu. Ele estava auxiliando o Luciano Huck e depois chegaram à conclusão que não deu certo e ele ficou aquela namorada bonita dando sopa na praça e foi feito, através de terceiros, uma aproximação entre eu e ele. O primeiro encontro durou quatro horas e tivemos uma média de sete encontros de lá para cá e estamos às mil maravilhas.
O senhor elogia o presidente Donald Trump (Estados Unidos) como um modelo. Recentemente, ele adotou uma política unilateral sobre as importações de aço, que pode afetar diretamente milhares de empregos no Brasil. O que senhor acha disso? Governar unilateralmente é o melhor caminho?
Ele está partindo para o bilateralismo, essa é a intenção dele. Gostaria também de fazer a mesma coisa, acho que fica muito mais livre, porque nós temos o que oferecer para o mundo. A política do Trump eu vejo com bons olhos, apesar de não ser economista e, pelo que vejo do Paulo Guedes, muita coisa dá para aproveitar.
E essa questão do muro no México? Como vê propostas assim?
Ele (Trump) quer cérebros lá dentro. Os Estados Unidos, pelo que eu entendo, são uma fábrica de cérebros. E não pode, no meu entender – no lugar dele eu faria a mesma coisa – aceitar à vontade tudo quanto é tipo de gente. Porque junto com gente boa entra quem não presta. Olha a nossa querida Roraima, Boa Vista e Pacaraima. Eu estive lá. Hoje em dia calculam que Boa Vista tem em torno de 40 mil venezuelanos. E olha só, a ditadura, quando começa a tomar forma, a elite é a primeira a sair. Essa foi pra Miami. A parte mais intermediária, grande parte foi para o Chile. E agora os mais pobres estão vindo para o Brasil. Nós já temos problemas demais aqui. Se vamos incorporar aquele exército que recebe Bolsa Família, quem vai pagar isso aí? Vamos aumentar impostos?
E qual a solução?
Primeiro, via Parlamento, revogar essa lei de imigração aí. Outra, fazer campo de refugiados. Outra: em vez de esperar passar o vexame do (Nicolás) Maduro expulsar os nossos embaixadores, já era para ter chamado há muito tempo e tomado outras decisões econômicas contra a Venezuela.
Recentemente o senhor esteve na China. O que o senhor pensa da relação bilateral com a China, que é comunista e uma superpotência?
Eu não estive na China, estive em Taiwan. Eu sei que Taiwan faz parte… eu não vou entrar nesse mérito, se é ou não é. Fazer comércio com a China, sim, sem problema nenhum. Agora, a China está comprando o mundo. E quando eu falo o mundo, entenda o Brasil. Vou baixar o nível da resposta aqui, vamos lá no nível feijão com arroz. Uma coisa é eu comprar toda a semana uma galinha do teu galinheiro. A outra é eu comprar o teu galinheiro. Até os ovos que você tinha para você, você não vai ter mais, vai ter que negociar comigo. Todos os países do mundo, nessa parte específica, quando se fala em agricultura, busca segurança alimentar. O Brasil, talvez, pelo que eu sei, é um dos países que está entregando isso para os chineses. Ou seja, além do nosso subsolo, começam agora as negociações, e estão avançadas, para vender terrar agricultáveis para os chineses. Nós não podemos abrir mão da nossa soberania e da nossa segurança alimentar, até porque eles têm meios de conseguir uma produtividade maior do que nós. Vão matar o nosso homem do campo.
Como o senhor viu o fuzilamento de brasileiros envolvidos com tráfico de drogas (na Indonésia)?
Alguém quer levar drogas para a Ásia hoje em dia? Eles ficaram livres do problema. Eles sabem que a lei é essa lá, tanto é que lá é vendida mais cara a droga. Conseguiram o que buscavam. Eu mesmo, quando teve o caso lá do Marcelo Archer, era o Ban Ki-Moon, se não me engano, (na verdade era Joko Widodo), eu fiz um documento e o cumprimentei pela decisão.
O senhor apoiaria que fosse assim no Brasil?
A nossa Constituição veda pena de morte aqui. Só uma nova Assembleia Nacional Constituinte pode buscar isso. Só não buscarei isso por um motivo simples: não vai ser aprovado. Então, eu não vou lutar por algo que não vai ser aprovado. Agora, pretendo lutar por prisão perpétua.
O senhor seria a extrema-direita no País?
O que é extrema-direita? Isso é terrorismo, eu sou terrorista? Extrema no mundo todo é terrorista. Estão tentando me associar a terroristas. Eu sou de direita. Mas extrema-direita, jamais.
Por quê?
Os caras querem me rotular como terrorista, como um elemento que não tem diálogo, que quer tudo na pancada, isso que eles querem.
Qual a estratégia para as eleições, para atingir um público mais amplo?
A gente continua fazendo a mesma coisa. Mas tem um detalhe, quem cerra comigo não deixa de continuar do meu lado. É diferente dos demais. Estou há três anos rodando o Brasil. Quando dou uma palestra, o cara acredita no que eu falo, é simples. Inclusive uso a máxima bíblica, João 8:32, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Não tem como nós dois casados não vivermos na verdade, na mentira, mais cedo ou mais tarde, vai acabar nosso casamento. Assim é uma liderança política.
Fonte: Estadão
Créditos: Constança Rezende