Abrigado em um partido nanico, Jair Bolsonaro (PSL) aceitou jogar com as cartas da política tradicional. O líder da corrida ao Planalto intensificou seus contatos com o PR do ex-deputado Valdemar Costa Neto em busca de musculatura partidária e tempo de TV para tornar sua candidatura mais competitiva.
Bolsonaro garante que não se sentou para negociar com o chefão do PR, condenado no mensalão por receber dinheiro para apoiar o governo Lula. Mas dois emissários do presidenciável do PSL estiveram com Valdemar na última semana para discutir uma possível aliança.
O acordo seduz o grupo do ex-capitão porque elevaria sua candidatura a um novo patamar, graças ao espaço do PR na televisão. Bolsonaro, nesse caso, pode ser convencido a amenizar seu discurso estridente contra a classe política e a corrupção.
Em um PSL mirrado, o presidenciável teria oito segundos em cada bloco da propaganda eleitoral —menos do que o folclórico Enéas teve na campanha de 1989. O PR pode catapultar esse tempo para 52 segundos. Bolsonaro ficaria atrás de boa parte de seus adversários, mas conseguiria chamar a atenção de mais eleitores.
Embora a aproximação esteja em fase inicial, as conversas ultrapassaram as bases do PR e chegaram à cúpula da legenda. Há poucos meses, o namoro se restringia à ala do partido ligada à bancada da bala.
Segundo dirigentes, Valdemar ainda resiste a preencher a vaga de vice de Bolsonaro com o senador Magno Malta (PR-ES), mas já enxerga benefícios em uma aliança mais discreta. Ele acredita que a sigla pode pegar carona na popularidade do ex-capitão para eleger deputados e ampliar sua bancada na Câmara de 41 para 50.
Em 1994, Valdemar enterrou a candidatura de Flávio Rocha ao Planalto no meio da campanha para apoiar Fernando Henrique Cardoso. Quatro anos depois, irritado com a falta de cargos no governo, aliou-se a Ciro Gomes. Derrotado, voltou à base de FHC, mas rompeu de novo em 2002 para indicar o vice de Lula, José Alencar. O dono do PR é pragmático.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Bruno Boghossian