Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, antes de passar por cirurgia no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, é uma pessoa decente e que ele não vai inventar nada na delação. O ex-capitão ainda disse que pretender abraçar o militar em breve e, além disso, culpou o governo do presidente Lula (PT) pelos atos terroristas do 8 de janeiro:
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O senhor diz que o ministro Alexandre de Moraes quer de qualquer forma envolvê-lo nos atos golpistas. Mas na verdade há mais quatro inquéritos em andamento [sobre milícias digitais, falsificação de vacinas, venda de joias e ataque às urnas eletrônicas]. Por que o senhor dá mais atenção ao do 8/1?
O 8/1 foi um movimento que, no meu entender, teve a participação do Poder Executivo [referindo-se ao governo Lula]. O nosso pessoal [apoiadores que se manifestavam durante seu governo] sempre foi de paz. Fez movimentos enormes no Brasil todo, e você não via uma cesta de lixo queimada, uma vidraça quebrada.
Como o senhor recebeu a notícia de que o tenente-coronel Mauro Cid fará uma delação premiada no âmbito de inquéritos em que o senhor também é investigado?
Com tranquilidade. Ele foi pessoa de minha confiança ao longo dos quatro anos [de governo]. Fez um bom trabalho. E tinha aquela vontade de resolver as coisas. O telefone dele, por exemplo, eu chamava de muro das lamentações. Não só militares, mas civis que queriam chegar a mim, vinham através dele.
O senhor não tem medo de que ele fale alguma coisa que o comprometa?
Não, não tenho. Ele não participava de nada. Eu estive com o [presidente da Rússia Vladimir] Putin, por exemplo. Estive com o [presidente dos EUA Donald] Trump. Éramos eu e o intérprete. Ele [Cid] nunca estava [presente nas conversas].Ele agendava, ali, os horários de encontros com chefes de Estado, com ministros, com autoridades, com comandantes de força. Mas nunca participou dessas reuniões. Quando você conversa com os [generais] quatro estrelas, não fica nenhum tenente-coronel do lado. Até mesmo por uma questão de hierarquia.
O senhor quer dizer que ele é um personagem menor, lateral, e, portanto, sem informações?
Ele era de confiança. Tratava das minhas contas bancárias. Cuidava de algumas coisas da primeira-dama [Michelle Bolsonaro] também. Era um cara para desenrolar os meus problemas. Um supersecretário de confiança. Fala inglês, é das forças especiais, é filho de um general da minha turma [Mauro Lourena Cid]. Mas ele não participava [de decisões políticas e de governo].
Se você tirar da minha vida os presentes [que ganhou de autoridades estrangeiras e depois foram comercializados por Cid no exterior] e o 8/1, que foi depois do fim do meu mandato, não tem o que falar do meu governo, com todo o respeito. Posso ter tido briga com a imprensa e falado palavrão, porque a gente fica revoltado. Fora isso, não há nada para falar. (…)
Então o senhor acha que o Cid não tem nada para falar…
[interrompendo] O Cid é uma pessoa decente. É bom caráter. Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar. Há uma intenção de nos ligar ao 8/1 de qualquer forma. E o Cid não tem o que falar no tocante a isso porque não existe ligação nossa com o 8/1. Eu me retraí [depois da derrota para Lula], fiquei no Palácio da Alvorada dois meses, fui poucas vezes na Presidência. Recebi poucas pessoas.
Ainda sobre o Cid, o senhor tinha afeto por ele.
Tenho, tenho. Sempre o tratei como um filho meu. Eu sinto tristeza com o que está acontecendo, né? Eu não queria que ele estivesse nessa situação. Ele é investigado desde 2021. Por fake news? Por causa das minhas lives, em que eu falava de Covid-19? Qual é a tipificação de fake news no Código Penal? Não tem. É como ser acusado de ter maltratado um marciano. Não existe isso aí. Por que se abre um inquérito dessa forma, e os inquéritos duram para sempre? Qual é a intenção?
Mas qual é o seu sentimento sobre ele depois dessa delação?
Quando eu era segundo-tenente do Exército, fiquei revoltado com um soldado e mandei um relatório para o subcomandante, um tenente-coronel antigão. Ele me chamou e disse: “Reflita sobre o que você escreveu e volte aqui às 16h. E mais: se coloque no lugar do soldado”. Quando voltei, à tarde, pedi para rasgar o que eu tinha escrito. Eu me coloquei no lugar do soldado. E agora, nos meus dias de reflexão, eu me coloco no lugar do Cid. E eu tenho um pensamento sobre ele: eu pretendo –e brevemente, se Deus quiser– dar um abraço nele. É só isso que eu posso falar. (…)
Fonte: Diário do Centro do Mundo
Créditos: Polêmica Paraíba